21.12.08
19.12.08
gramaticamente falando
enquanto que os adjectivos dão forma, cor, cheiro, som ou paladar aos substantivos, os advérbios, por seu lado, dão ao verbo a imagem que nos faltava para, numa fracção de segundo, vislumbrarmos a sua acção.
dizer que o músico é virtuoso é diferente de dizer que o músico toca virtuosamente.
para além do exagerado número de vírgulas em tão curto parágrafo e da banalidade da observação registada, este post é valioso na medida em que já acabou.
18.12.08
curiosidade
Ética
do Lat. ethica ; Gr. ethiké
A palavra Ética é originada do grego ethos, (modo de ser, carácter) através do latim mos (ou no plural mores) (costumes, de onde se derivou a palavra moral.)
A ética pode ser interpretada como um termo genérico que designa aquilo que é frequentemente descrito como a "ciência da moralidade", o seu significado derivado do grego, quer dizer 'Casa da Alma'.
13.12.08
o que se ouve dizer quando se pedem histórias a quem as viveu
também ouvi dizer que havia uma cela (não me lembro se em caxias ou peniche) que enchia ou esvaziava consoante a maré...
parece que havia mesmo aquele género de tortura em que enfiam um corpo no meio de uma estrutura apinhada de pequenas estacas de ferro bem afiadas e coladinhas à pele... parece que não dava para um gajo se mexer...
chegaram a prender gente durante dez anos só porque a encontravam na tasca a conversar sobre os papeis que tinham aparecido espalhados pelas ruas da aldeia... tais eram as preocupações ambientais...
parece que houve até episódios com meia dúzia de gajos pendurados de cabeça para baixo durante horas... parece que isto acontecia com maior frequência durante as horas de verão... parece ainda que havia uma senhora que trabalhava nos serviços de limpeza da prisão que, nestas ocasiões e durante a hora de almoço dos brincalhões, ia passar um paninho molhado pela cara da rapaziada que ficava ali a não apreciar muito a brincadeira... parece que alguns não aguentaram a brincadeira...
não há por aí ninguém que queira tirar a limpo estas histórias e fazer um filme cheio de episódios destes? o filme podia até nem se chamar crueldade...
4.12.08
pisca pisca
no que diz respeito à relação entre condutores e piscas, há 4 tipos de atitudes:
1 os que fazem pisca antes de iniciarem a manobra
2 os que fazem pisca quando iniciam a manobra
3 os que fazem pisca depois de iniciarem a manobra
4 os que não fazem pisca antes, durante ou depois da manobra
dos primeiros, nada a dizer a não ser que sabem conduzir. dos últimos, dizer que devem achar que são os únicos na estrada. dos segundos e terceiros, dizer que mais valia fazerem como os últimos… pelo menos poupavam-se ao trabalho…
o cheiro das coisas
a ministra não recua e os professores não apresentam alternativas, (parece que) toda a gente quer avaliação mas ninguém se decide… entretanto as pessoas que continuem a laborar como se nada fosse… e é se querem!
já se sabe que mentalidades não mudam por decreto, já se sabe que vivemos num país em que o corporativismo aparece – na hierarquia de valores (caso os haja!) - muito antes da ética profissional, já se sabe que vivemos no país do papel, no país em que os ladrões, aldrabões, charlatães e afins, são os heróis, no país que depois de uma revolução mantém na cadeira os mesmos juízes da ditadura, no país da aparência e da dívida ao banco, no país que fez desaparecer do léxico a “palavra d’honra”… enfim… podia ficar aqui o resto da folha a queixar-me e ser só mais um, mas enquanto tivermos gente mazinha a chafurdar no “pântano”, os bonzinhos limitar-se-ão a conviver com o cheiro da merda…
25.11.08
já agora e a propósito de cidadania
A Ditadura Militar (1926-1933) e o Estado Novo de Salazar e Marcello Caetano (1933-1974) foram, conjuntamente, o mais longo regime ditatorial na Europa Ocidental durante o séc. XX, estendendo-se por 48 anos.
19.11.08
and now for something completely serious
Já se sabe que “a democracia é o menos mau dos regimes políticos que se conhecem”. Aproveito uma onda de relativa euforia/expectativa impulsionada pelas eleições norte-americanas e o facto de se aproximar um ano pleno de eleições cá para nós. Aproveito também o facto de me ver a ser formador de adultos (se forem crianças ou jovens, sou educador ou professor, se forem adultos, sou formador...) numa coisa que se chama “cidadania e desenvolvimento pessoal”. Aproveito a revisão da matéria de direito do 10º ano. Aproveito isto tudo e deixo aqui a fórmula que transforma o voto de cada um num representante na assembleia do povo que é a da república (partindo do princípio que votamos em alguém que é eleito pelo nosso círculo):
A conversão dos votos em mandatos faz-se de acordo com o método de representação proporcional de Hondt, obedecendo às seguintes regras:
a) Apura-se em separado o número de votos recebidos por cada lista no círculo eleitoral respectivo;
b) O número de votos apurados por cada lista é dividido, sucessivamente, por, 1, 2, 3, 4, 5, etc., sendo os quocientes alinhados pela ordem decrescente da sua grandeza numa série de tantos termos quantos os mandatos atribuídos ao círculo eleitoral respectivo;
c) Os mandatos pertencem às listas a que correspondem os termos da série estabelecida pela regra anterior, recebendo cada uma das listas tantos mandatos quantos os seus termos na série;
d) No caso de restar um só mandato para distribuir e de os termos seguintes da série serem iguais e de listas diferentes, o mandato cabe à lista que tiver obtido menor número de votos.
Curiosa a alínea d… será a democracia no seu expoente máximo?
16.11.08
palavras feitas poema
atiro-as pro chão
ou guardo-as na mão
meto-as no bolso
ou fumo-as se posso
palavras
brinco com elas
que brincam comigo
e pinto-as às cores
quando consigo
palavras
às vezes sorriem-me
que gostam de me ver
dizem-me que adoram
da minha boca beber
palavras
às vezes gritadas
às vezes choradas
quem sabe cuspidas
e até engolidas
palavras
há que as escreva
e há quem as cante
há quem as pense
e há quem as pinte
palavras
moucas e vãs
poucas as sãs
loucas assaz
dementes quiçá
palavras
tantas as ignóbeis
quanto as boçais
demais as escusadas
de tão usadas e gastas
palavras
há-as aos molhos
pequenas e grandes
finas e grossas
palavras pra quê?
11.11.08
escreve o camilo:
Amigos
Amigos cento e dez, talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que eu sentia!
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.
Amigos cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu, já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais
Um dia adoeci profundamente.
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.
- Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver…
Que cento e nove impávidos marotos!
Camilo Castelo Branco
(Lisboa, 1825-1890)
não costumo ler o camilo mas encontrei isto ali no meio de outras coisas. fica aqui escrito não porque me reveja nas palavras amargas mas porque me interrogo se, dadas as probabilidades, não me enquadrarei num desses cento e nove. trouxe isto para aqui porque li ontem um relato realmente comovente de um encontro de amigas, algo despertado por um – aparentemente – simples olhar. trouxe isto para aqui porque sou capaz de me lembrar de um ou dois amigos que facilmente me classificariam como impávido maroto, especialmente um. trouxe isto para aqui porque achei que devia trazer.
9.11.08
8.11.08
7.11.08
o trabalho de ser no acto de dar
embora às vezes não pareça, nunca me dei muito bem com o protagonismo. não que me zangue com ele ou ele comigo, o problema é que quanto maior ele for, maior é o trabalho que me dá. apesar de ser a qualidade que interessa, este trabalho também tem uma razão quantitativa: + protagonismo = + exposição + imagem + papel + expectativa + responsabilidade + exemplo + […].
se lidar internamente com as coisas dá o trabalho que dá, lidar com as coisas externas coberto com um protagonismo acrescido, dá ainda mais. a razão, a qualitativa, é exactamente o DAR.
5.11.08
they did!
continuará a ser o sistema, o dinheiro, as influências, claro, pouco irá mudar, mas a maior potência mundial tem como líder um homem que, mesmo que faça poucas mudanças, já fez história.
continuará a ser a américa, claro, mas quantos países europeus seriam capazes de eleger o filho de um emigrante africano para o lugar do timoneiro? e nós portugueses, seríamos capazes disso?
29.10.08
+ citação
os provérbios, ditados populares, citações cliché e afins, têm, de repente, dois ou três aspectos altamente positivos:
o significado das coisas que dizem é a essência de qualquer coisa tal como ela é.
são coisas simples nas quais qualquer ser humano é obrigado a pensar (ainda que por segundos).
são coisas entendidas à escala humana independentemente do tempo ou do espaço.
são muitas vezes metáforas que conseguem estabelecer uma ligação/relação muito lógica com a vulgaridade de qualquer objecto corriqueiro e o mais profundo sentido/pensamento existencialista que tenhamos sobre nós próprios.
25.10.08
dos tempos do telégrafo
15.10.08
heróis
é por causa do gaspar que vou escrever o que se verá que sai
o gaspar é um “amigo de liceu” e companheiro de muitas mudanças que hoje se deve sentir mais “enquadrado” em lisboa do que em castelo branco ou mirandela. é por causa do gaspar que vou escrever sobre heróis
(espero que não te importes que use o teu nome verdadeiro, joão manuel gaspar)
lol
nunca fui gajo de ler os heróis da banda desenhada. não é que não gostasse de me imaginar a voar ou a partir pedras só com o pensamento… não é isso... a condição de herói sempre foi algo que vi perfeitamente atribuível a um ser humano. assim sendo, esses heróis imaginados perdiam alguma da graça em virtude da real humanidade. nesta lógica, os meus heróis sempre me foram bastante próximos. da família aos amigos (mesmo professores!), até ao outros que admiramos ao longe, muitos são aqueles que admiro do fundo, daquele fundo de onde vêm as lágrimas
p.s. só pó gaspar – guardo ainda comigo o livro que não pediste emprestado à biblioteca de mirandela e que foi o grande responsável por ter conhecido o pessoa na pessoa de álvaro de campos
9.10.08
dicas
para medir a velocidade da ligação à net (download + upload) > velocímetro da beltrónica
25.9.08
e há lá título p'ra isto?
parece que ter ou andar de mãos nos bolsos pode, em certos contextos, ser considerado um gesto pouco “educado”. tenho pena porque prefiro ter as mãos nos bolsos a preocupar-me em mantê-las fora deles.
20.9.08
a zona de ninguém e o acaso
há momentos em que tenho a sensação que entre eu e o outro há uma zona de ninguém onde ninguém se atreve a tocar. não falo de uma zona propriamente física, é mais uma área inexpressiva que se localiza entre aquilo que achamos conhecer do outro e aquilo que realmente conhecemos (sendo o que “realmente conhecemos” igual a atitudes, gestos, movimentos, olhares, tons de voz,…., associadas a “maneiras de ser”). coisas que observamos e aprendemos a identificar no meio das infindáveis formas de expressão humana. à medida que vamos conhecendo o outro, vamos sendo capazes de fazer corresponder cada vez mais ligações entre as suas expressões e as nossas conclusões. tudo sempre devidamente assente no campo da realidade-partilhada-observável-e-comprovável. mesmo assim e por mais que julguemos conhecer o outro, há sempre aquelas zonas de ninguém onde é o acaso vai fazendo a gestão das fronteiras. estes acasos, vítimas da sua genuína espontaneidade, acabam por nos dar mais dados sobre a nossa própria fronteira do que qualquer outra coisa.
11.9.08
10.9.08
as férias e o aborrecimento da sua explicação
"atão…? que tal de férias?”
sempre tive alguma aversão (educadamente camuflada pelo sentido das boas maneiras) a esta pergunta e ao género de diálogos que a pergunta traz consigo.
haverá quem - durante as férias - perca temo a pensar na resposta que vai dar a esta inevitável pergunta?
8.9.08
cerro os olhos para te não ver
e espalho o olhar por cada dedo
deito o coração na palma da mão
e toco-te, cego de mim, iluminado em ti
provo do teu cheiro cheio de mel
e sinto, por debaixo da pele
o que nenhum sentido me pode dar
por mais olhos e dedos que tenha
encerro
um sem fim de ti
dentro de mim
enquanto sonho
de olhos fechados
e coração aberto
o muito que somos ali
no sonho vivido
21.8.08
28.7.08
13.7.08
8.7.08
27.6.08
o meu umbigo e o resto do mundo
quando duas pessoas são obrigadas (pela profissão) a criar e manter uma relação, há vários caminhos possíveis. um deles, o melhor (numa-perspectiva-pessoal-de-riqueza=a-qualidade-de-vida+andar-para-a-frente-em-
todas-as-dimensões-humanas-da-existência-pessoal&social), sempre me pareceu aquele caminho que nos permite partilhar vidas muito para lá da convivência diária da dimensão profissional/pessoal.
escolhermos, acolhermos e sermos escolhidos e acolhidos por vidas que se nos ligam numa partilha de valores morais, princípios, filosofias de vida e coisas igualmente basilares, é, sem dúvida alguma, um dos enormes prazeres que tenho tido na vida (numa-perspectiva-relativamente-modesta-e-observada-a-partir-dos-meus-humildes-
trinta-e-um-anos). encontrar pessoas com padrões morais relativamente próximos dos nossos, é coisa rara. encontrar pessoas assim em contextos profissionais, é ainda mais raro. ter essa sorte e perdê-la por razões puramente umbilicais (no-sentido-de”o-meu-umbigo-no-centro-do-meu-mundo”), tem que se transformar numa óptima oportunidade para reflectir sobre aquilo que somos para os outros naquilo que parece ser a essência pessoal que emanamos. ter azares destes e não aprender com eles, significa, pelo contrário, passar em branco por um episódio que nos podia ter feito crescer abundantemente mas não, é tábua rasa.
preferimos ficar a contemplar a imagem do nosso umbigo no lugar daquilo que deveria ser o interesse Maior da nossa existência naquele contexto, no meio daquelas outras existências.
seja como for, o que pensou e assim escreveu, daqui se vai liberto de algo que precisava de ver posto em palavras.
19.6.08
europeu, o que faltou
humildade
pragmatismo
inteligência
bola no chão
o ricardo no banco
o nani mais cedo
a sorte
ao treinador:
exactamente as mesmas coisas + a sabedoria no timming escolhido para a hora da despedida...
ao povo português:
saber não ter ilusões
um grito
apetece-me gritar e chorar
rebentar e explodir
romper e partir
ser um terramoto
um vulcão e um maremoto
apetece-me desaparecer
ser eu e ser nada
ser estrada sem fim
alma fora de mim
corpo invisível
como se fosse possível
ser assim
mas não, não sou
não faço e não estou
fui ali e já venho
levado p’lo sangue montanheiro
acalmado pelo coração da planície
sou só eu e já gritei
chorei e parti
rompi e explodi
aqui e assim
sem sair de mim
que sou quem mais sou
mesmo que seja assim12.6.08
um momento no meio do mundo que me leva no tempo
e o momento as emoções,
como se nada mais importasse
e nos bastasse
um mundo no momento
e o sentimento no fundo
no fundo do pensamento
e como
sem pensarmos
vemos e percebemos
que somos tão só um ser
passageiro de um mundo
de passagem pelo tempo
e nada mais do que isso
ficará por isso
para lá das cinzas,
das palavras e das memórias
6.6.08
31.5.08
diálogos a um
"de moldes que estás rotundamente enganado derivado de que errar é umano e é verdade… é raro mas és umano!"
21.5.08
sobre o poder da palavra
uma palavra contém em si própria um manancial infindável de cenários imagináveis, imaginários e inimagináveis. peguemos, por exemplo, na palavra PEDRA. uma pedra é uma pedra, maior ou menor, mais ou menos rugosa, clara ou escura, é uma pedra, só uma pedra.
contudo…
quantas pedras não foram já sinónimo de morte? quantos não foram “justamente” apedrejados até encontrarem essa morte? quantos não foram nados em cima de pedras? e quantas pedras registam as únicas imagens que nos chegam dos primórdios da humanidade? com quantas pedras se construíram as pirâmides do egipto? quantos não sangraram até à morte em cima de todas as pedras de todos os castelos da europa medieval? quantos amores foram celebrados na companhia das pedras? e quantas pedras beberam as lágrimas de um amor que acabou? quantas pedras foram atiradas com gritos de liberdade desde a primeira intifada? quantas vezes não revolvemos em pensamento o nosso interior enquanto caminhávamos e olhávamos as pedras da calçada? quantas vezes não contámos as pedras dessa mesma calçada a caminho de casa ou d’outro sítio qualquer?
podia ficar a noite toda a falar das pedras e a noite toda não me chegaria…
se uma imagem vale por mil palavras, uma palavra há-de valer por um número incontável de imagens.
19.5.08
a propósito de trabalho
o trabalho é a contribuição de cada um para uma máquina que ser quer mais eficiente num mundo que se quer mais eficaz.
o ideal seria fazer daquilo que gostamos de fazer todos os dias, o nosso trabalho... mas podemos tentar gostar daquilo que fazemos todos os dias no trabalho...
p.s. trabalhar e cumprir horários são duas coisas amplamente distintas.
p.s.II o trabalhador que mais admiro e respeito é o homem do lixo.
17.5.08
the mercy seat
"The Mercy Seat" is a song written by Nick Cave (lyrics and music) and Mick Harvey (music), originally performed by Nick Cave and the Bad Seeds on the 1988 Tender Prey album.
Johnny Cash covered the song on his 2000 album American III: Solitary Man.
15.5.08
14.5.08
New blood joins this earth
And quickly he's subdued
Through constant pained disgrace
The young boy learns their rules
With time the child draws in
This whipping boy done wrong
Deprived of all his thoughts
The young man strugggles on and on he's known
A vow unto his own
That never from this day
His will they'll take away
What i've felt
What i've known
Never shined through in what i've shown
Never be
Never see
Won't see what might have been
What i've felt
What i've known
Never shined through in what i've shown
Never free
Never me
So i dub thee UNFORGIVEN
They dedicate their lives
To running all of his
He tries to please then all
This bitter man he is
Throughout his life the same
He's battled constantly
This fight he cannot win
A tired man they see no longer cares
The old man then prepares
To die regretfully
That old man here is me
You labeled me
I'll label you
So i dub thee UNFORGIVEN
metallica - the unforgiven
11.5.08
meia dúzia de coisas e um ou dois vícios (ou o mais um narrador participante no vasto processo evolutivo da humanidade, ou ainda, um processo)
vai parecer um desabafo mas não o será.
há meia dúzia de coisas que – como (quase) todos - quero da vida: paz, saúde, alegria, amor, amigos, família e o dinheiro suficiente para poder viver com isto e mais um ou dois vícios.
partindo deste princípio e acreditando no valor da adaptação nessa lei darwiniana da evolução, será de se esperar que aja de maneira a que esta meia dúzia de coisas me estejam asseguradas. com isto, vem um trabalho acrescido motivado por um profundo peso existencial da consciência: a aplicação da sinceridade no que sou e no que faço para que possa vir a ter a verdade do que quero sem que perca muito tempo com esquemas superficiais.
admitindo que sou um observador deste vasto processo evolutivo que em último caso me tem como mais um objecto seu, será de se esperar que tenha um papel activo na moldagem que ele faz do meu eu (individual e social) de maneira a evitar os constantes recomeços e os seus consequentes vazios iniciais.
acreditando que sou um ser humano inteligente e sensível às “coisas”, espera-se que saiba fazer da adaptação uma constante aprendizagem e da vida uma joie de vivre.
7.5.08
30.4.08
monty python: guarding the room
24.4.08
dia 15, 9 dias depois
chegou a casa. esperavam-no os gatos que se apressaram a sair do conforto do sofá para o cumprimentarem, ele pousou a mala, retribuiu o cumprimento e foi imediatamente para o quarto vestir uma roupa mais confortável: a camisola de um pijama, as calças de um fato de treino e, claro, os chinelos de quarto. logo depois, o escritório, a sua secretária, a cadeira desta, o computador, uma chávena de café e um cigarro exótico. é dia quinze de abril e apetece-lhe dizer qualquer coisa sobre isso, especialmente porque é o seu trigésimo primeiro aniversário. entretanto ela chega e vai quase imediatamente para a cozinha preparar o que há-de ser diferente neste romântico jantar de aniversário: a mousse de chocolate. ele, absorvido pela música, a escrita, o café e o exotismo do cigarro, regressa ao computador pouco depois de a receber. recomeça e quase que acaba o que escreve mas nesse dia não há-de escrever mais do que aqui se repete:
se me lembrasse de fazer um apontamento mais solene sobre o que significa ter 31, diria coisas com a mínima importância e o máximo significado. diria por exemplo que me sinto ainda uma criança que se deslumbra com as coisas mais simples do universo, como uma música, um poema, um sorriso, uma flor ou o canto de um pássaro. diria que me sinto uma criança num mundo menos ingénuo do que o meu íntimo e, ao mesmo tempo, um velho de olhar atento e ouvido sapiente, um velho ao sol num campo de alfazemas. diria ainda que sinto o mundo a correr mais depressa do que eu, e eu, serenamente, a desejar que o mundo não me atropele porque afinal de contas, o mundo ainda vem lá atrás. diria ainda, talvez para terminar - ou talvez não, que vejo todos os dias quem tenta alcançar a velocidade do mundo sem olhar aos que vão caindo pelo caminho, como se o mundo fosse só dos que correm velozmente, como se o mundo fosse só para duros. aos 31, vejo um mundo onde as diferenças interessam mais do que a igualdade, um mundo em que as pessoas se esquecem muitas vezes que andam todas à procura da mesma coisa: felicidade.
15.4.08
12.4.08
11.4.08
de repente, gente
saudades
tenho saudades
saudades de gente
de gente de quem gosto
de muita gente a quem quero
por querer ter essa gente sempre perto
perto de mim,
tão perto,
colada,
cá dentro,
esta gente
cara na cara, olhos nos olhos
esta gente
gente a quem há muito que não olho
gente a quem não sorrio há meses
gente que muito estimo e admiro
gente que quero comigo
sempre comigo cá dentro,
dentro no fundo de dentro de mim
9.4.08
de repente, meia dúzia de defeitos
sou um gajo com um péssimo feitio, os meus humores variam a velocidades alucinantes, tenho um péssimo acordar (especialmente se o fim do sono tiver chegado de surpresa), sou sério demasiadas vezes, distraído outras tantas e tenho uma péssima memória.
p'ra ti como se fosse domingo
falei-te ao telefone no fim de sexta e os “parabéns” pareciam querer saltar-me dos pulmões. dias antes, havia-te perguntado em que dia da semana calharia este ano, “domingo”, responderias tu. pois bem, domingo para um mundo inteiro e eu nada, mais uma vez, pela segunda vez (devo também ter-me esquecido das outras vezes em que me esqueci), falhou-me o dia, o dia em que não nos devemos esquecer de celebrar aqueles de quem mais gostamos. falhou-me esse dia outra vez, como outros me falharam e me continuarão a falhar. é um dom, sei-o agora, este gesto de falhar os dias “importantes” é um dom que se há-de repetir com a consequência da vergonha na sua mais intima manifestação.
seja como for e porque na viagem matinal a caminho do trabalho – de terça -me lembrei(!), quase vinte horas depois e o sossego essencial garantido, aqui ficam os parabéns por existires, os parabéns por seres quem és, os parabéns por tudo o que trouxeste ao meu mundo e ao meu ser.
2.4.08
a escola outra vez
pronto, é oficial, há um novo tema forte, uma nova moda noticiosa que vai durar mais uma semanita ou duas: indisciplina! violência na escola! pena é que o assunto tenha sido trazido a público a custo dos dramas pessoais de uma professora e uma aluna, do sangue suor e lágrimas de duas mulheres desgraçadas pela gracinha de um ou dois putos reguilas que filmaram e tornaram o drama público.
é, vamos ter indisciplina e violência por mais uns dias, vamos ter escolas a vender as notícias aos jornalistas, vamos ter minutos a fio de indisciplina e violência, vamos ter os testemunhos de quem vive de perto a notícia, vamos ter a análise de profissionais da educação, da saúde mental e, claro, a análise de profissionais da crítica.
é, vamos ter mais uns dias disto como se tivesse sido um choque para um país inteiro. um país de alunos indisciplinados, de professores mal-formados para lidar com alunos do século XXI e um país de pais que esperam que a escola ensine, eduque, proteja e mime os seu filhos. espera-se que a escola, além de ensinar, torne os filhos da sociedade em cidadãos exemplares, tá certo…
é, vai-se continuar a falar de violência e indisciplina mas o princípio do respeito, esse nobre princípio, vai continuar a ser acessório – se for - nas horas de notícias e teorias que ainda hão-de vir… é pena
30.3.08
27.3.08
(são) 15 minutos bem passados (sff)
a complicação que a expectativa pode trazer à vida reside nos seus diferentes tempos de concretização. por outro lado, adicionar sal às batatas fritas, é salgá-las.
20.3.08
19.3.08
diz-se muito sobre os professores...
12.3.08
6.3.08
adoramos cobrir a essência com camadas ilusórias que sufocam qualquer genuinidade que possamos ter cá dentro
adoramos complicar, dramatizar, enredar, mastigar e engolir o acaso, o azar, a mágoa, a dor e o sofrimento que só existe porque o alimentamos. adoramos duvidar de nós próprios. adoramos a facilidade com que nos colocamos no lugar de elo mais fraco na cadeia de acontecimentos que dita os nossos dias. adoramos a leveza de não ter por responsabilidade mais do que aquilo que a nossa insegurança nos permite. adoramos escondermo-nos por debaixo de camadas superficiais de socialização. adoramos as máscaras que vestimos sempre que acordamos e só largamos depois de adormecermos. adoramos a facilidade com que lidamos com o essencial porque o essencial é mais sonho do que realidade. adoramos viver vidas que não são nossas. adoramos o sofrimento dos outros na medida em que isso nos torna felizes por sermos quem somos e não os que sofrem. adoramos o imediato, adoramos o materialismo, o comodismo e o facilitismo. no fundo, adoramos o vazio, mas eu não.
5.3.08
16.2.08
12.2.08
4.2.08
1.2.08
31.1.08
29.1.08
a urgência do silêncio
sem o silêncio que procuro, não sou eu
sem o silêncio que espero, sou o caos
sou o som infernal de uma orquestra desalinhada
desarranjada, desafinada e desordenada
sem esse silêncio sou sempre insuportável
24.1.08
dias
sufocam-nos de tanto se encherem
como balões gigantes que nos esmagam
e nos apertam por entre a enchente de cada dia,
dias crescentes, que se enchem e nos esborracham
que nos soltam de quando em quando
quando se esvaziam no esvanecer de tensões
e libertam o ar pesado daquela hora (in)tensa
são dias assim
como balões gigantes
cheios de mundos e fundos
altos e baixos
claros e escuros
quentes e frios
curtos e longos
estes e os outros
os d’ontem,
os d’amanhã,
são dias assim
como outros quaisquer
portanto,
inventa
entretém-te
distrai-te
descansa
relaxa
sossega,
rebenta o balão
se te apetecer
e toma o dia
toma-o pelas tuas mãos
mas toma-o mesmo!
23.1.08
poder silencioso
18.1.08
ficção VIII
“jovem casal morre atropelado por condutor embriagado que disputava uma corrida com um amigo e, no descontrolo do carro, sobe o passeio e embate contra uma parede, apanhando pelo meio o casal que seguia abraçado. O filho, de 5 anos que seguia mais à frente a ver as montras, assiste a tudo e vê os pais morrer à sua frente, aconteceu ontem numa avenida da capital, por volta das nove da noite”.
Quando sai de casa e olha o céu cinzento e a calçada seca, tem já decidida a personagem que vai encarnar: um académico estudante de psicologia a fazer um mestrado ou doutoramento (isto ainda não decidiu) sobre constrangimentos morais em homicidas involuntários.
(agora)
Durante todo o dia e toda a noite, vai alinhar os passos a seguir para se encontrar com o homicida. Vai ser uma tese de doutoramento, vai pintar alguns cabelos de branco e escolher uma roupa “casual” mais clássica, vai ter que parecer mais velho, vai ter que ler muito, decorar e memorizar, planificar minuciosamente cada passo, cada registo seu, vai ter que pensar no imprevisível, vai mentir, enganar e falsificar. Durante todo o dia só existiu enquanto pensamento, na relação com os outros ligou o botão “autómato”, colegas e clientes viram e ouviram apenas o invólucro de um ser pensante a uma velocidade de 200kmh.
Saiu do banco e foi ao hipermercado com uma lista de coisas que tinha apontado à hora de almoço. Fez o jantar, jantou, sentou-se no sofá e ligou a televisão (sem som). Deixou a gata deitar-se no seu colo, e usou o comando para activar o cd do hi-fi, schubert com “a morte e a donzela" e as “trutas”. Na mesa de apoio um bloco de notas cheio de gatafunhos com uma caneta em cima. Faz festas à gata até acabar por adormecer na lentidão dos pensamentos que se vão esgotando na lentidão do afastamento…
São quatro da tarde do dia seguinte e está em casa de roupão, a gata deita-se no cantinho de sol que atravessa a janela em direcção ao soalho de madeira da sala. Em cima da mesa e espalhados pelos sofás, papeis, papeis e mais papéis. Documentos oficiais (originais) da universidade, das finanças, da segurança social, da junta de freguesia e do hospital (vai precisar de um atestado quando tiver que meter baixa para ir uns dias à capital), páginas impressas da internet com referências a literatura - mais e menos científica - sobre psicologia clínica, estudos sobre “moralidade” (de filosofia, sociologia, teologia, …) e estudos sobre comportamentos homicidas involuntários (ante e pós o acidente). Num canto da mesa, destacado da papelada toda, um conjunto interessante de instrumentos perfeitamente alinhados: um x-acto, um tubo de cola tipo “batom”, uma régua de 25cm, uma tesoura, uma esferográfica azul (bic normal) e várias fotografias suas - tipo passe - ligeiramente modificadas no photoshop. Hoje é sexta mas usou um dia de férias que teve que ter de emergência porque “morreu uma tia muito querida lá no fundão…”. Foi a primeira falta em 14 meses.