30.5.07

aqui

exércitos de nuvens de algodão doce
adoçam o olhar de quem abraça o céu
puro azul, manchado de branco celeste
banhado com a luz de um sol generoso
e a frescura de um vento feito de seda

vejo em todas as cores da terra
todos os reflexos de mim mesmo
e sinto-me em casa lá no meio
no meio daquele eterno abraço
daquele que os une, lá longe
o céu à terra

e
lá longe
nesse horizonte inalcançável
sei o paraíso
um paraíso feito de cantos de pássaros
de rios que correm ansiosamente para o mar
e de flores que compõem sinfonias
melodias feitas de cores e cheiros

é lá
é aqui
entre o céu e a terra
embrulhado por esse eterno abraço
que sei o meu lugar

29.5.07

(alentejo) seen from the train

é o nada com nada em volta
e umas pequenas árvores no meio
nenhuma das quais claramente verde,
lugar que nenhum rio ou flor visita.
se houver um inferno, encontrei-o,
porque se não for aqui, onde o diabo está ele?


tradução de um Pessoa
tirado do blog de um amigo

exercise in blue

red exercise

27.5.07

(des)fragmentação?

a alegria,
a felicidade,
não se espera,
não se adquire,
não se projecta,
não se idealiza,
não,
procura-se,
busca-se,
efectivamente,
activamente,

e,
se tiver que ser,

que se sofra,
que se perca,
que se mostre
a alma e o coração,
como eles são,
assim,
à procura dela,
da felicidade.

e se assim
te quiserem,
então,
que se avance,
que se escolha
um caminho
e que se caminhe
mesmo,
sem metáforas,
sem esquemas,
sem medos,
sem merdas,
que se caminhe,
mesmo!

porque é aí que elas estão,
a alegria e a felicidade,
é aí,
na tua mão.

26.5.07

23.5.07

3 de quarta

apetece-me escrever outra vez. outra vez impulsivamente. sinto uma necessidade urgente de passar para o papel algo que vai cá dentro mas ainda não se manifestou, algo que até aqui desconheço e que mesmo assim me obriga a escrever. música! já está, já lá estava o cd, nem que quisesse encontrava algo melhor, é só o play e o volume, já está, wim mertens. ai… cigarro (ou quase só), um porto, doce, vinho, vintage, só um para adoçar a palavras e a boca, um copo, já vou. já venho… já está, um copo usado, usado de porto, meloso, intenso, imenso, quente, doce, fresco depois do trago, a pedir outro golo, já vou, antes o cigarro… já continuo… agora enrolo… já está enrolado, a ser fumado, continuo, nas teclas pequenas do laptop, continuo, compulsivamente a escrever, a escrever sobre quê? sobre nada, sobre a escrita, sobretudo, sobre tudo, sobre a mesa, o cigarro, o porto, a música e os gatos, a m. que finge não ver porque respeita este espaço e o entende, quer-me mesmo assim, lá longe, do outro lado a escrever, a escrever como um louco, como um homem possuído pelo banal, possuído pelo fumo, pelo liquido, possuído pela música e o pelo ambiente, por tudo o que se move e por tudo o que permanece, pelo que mostro e o pelo que escondo, pelo que escrevo ou deixo por escrever. vem e diz-me que se vai, que me quer mas que me quer deixar aqui possuído pela escrita. peço-lhe que fique, peço-lhe que (se não se importar) oiça o que me possui, agora. paro, paro e leio-lhe o que me possuiu até este ponto, este ponto aqui » . depois, depois não escrevo mais, fico aqui, neste ponto, neste aqui » .

19.5.07

será?

Porque é que há gente de língua tão grande e alma tão pequena?

Porque é que há gente tão vazia de vida que ocupa os espaços de outras vidas?

Porque é que há gente que vive, qual parasita, nas vidas de outra gente?

Porque é que há gente que olha a gente em perspectivas verticais?

Porque é que cada um não luta pelo seu bem e fica bem com o bem dos outros?

Porque é que não lutamos todos pelos bens que nos são comuns?

Porque é que a moral tem tantas caras?

Porque é que se continuam a alimentar coisas como o ódio, a raiva ou a vingança?

Será que é porque, de facto, há gente muito grande e gente muito pequenina?

16.5.07

Pessoa, pessoa e eu

se Pessoa não fosse pessoa
se fosse só um homem só
um errante inconstante
um ser dividido

perdido

uma alma sem calma
num sossego desassossegado
um fantasma de si mesmo

que mesmo assim foi génio
no género literário de se mostrar

ao mundo

na escrita dita como ela é
como ela serve o homem só
na servidão d'uma imensidão
que a solidão não consegue prender

se assim não fosse Pessoa
seria eu menos pessoa assim?

14.5.07

já agora e a propósito

para se ouvir música clássica, basta ouvir sem preconceitos, sem se pensar que é coisa de gente erudita ou entendida na matéria. nada disso, a música está lá, estão lá os instrumentos e os seus executantes. a arte é intemporal, a música clássica também. pode-se gostar ou não, mas é preciso que se oiça, que se oiça alto e em bom som como fazemos com qualquer música que queiramos ouvir com o ouvido de quem observa.

assim de repente, poderia dizer que mozart é genial, toda a sua música é perfeita, nunca nada (a)parece fora do lugar. apocalíptica ou introspectiva, a música prima pela coerência e clarividência na diversidade e na complexidade sonora. é música completa, perfeita.

se falasse de beethoven, aplicaria os mesmos adjectivos excepto a clarividência. com beethoven a música é mais crua, mais bruta, mais emotiva porque (se nota) impelida pelo sentimento. enquanto que com mozart a se sente a perfeição musical, com beethoven não há metas, a música está lá para musicar o sentimento.

9.5.07

"e pur si muove"

a terra move-se e a lua tem fases...
fólio de galileu onde retrata as fases da lua

existencialismo romântico

não tenho nem a experiência nem a sabedoria para falar legitimamente sobre a arte de viver. mesmo assim, apetece-me tecer duas ou três considerações pseudo-existencialistas a propósito da beleza da vida que se encontra no dia-a-dia, à noite ou de dia, aqui e ali, na rua ou no café, no café ou na torrada, na cor das flores, nos dias de chuva, no som das ondas, enfim, três ou quatro considerações que, como se vê, se fazem entoar de um certo romantismo.

chamar-lhe-ei então existencialismo romântico num parágrafo e diz assim:

saber-se parte integrante do aqui e agora. saber-se animal entre os sociais e social entre os animais. saber-se digno, de si pra si e com os outros. saber-se sentir um ser moral com valores assentes em pilares de verdade e honestidade. saber-se sentir cidadão entre cidadãos. saber sentir-se um irmão. saber ver no passado aquilo que interessa e engulir ou cuspir o que faz perder tempo. saber ver no presente a oportunidade de crescer ainda mais. saber ver no futuro um caminho e não uma meta.

(- se eu sou assim? nem mais nem menos do que tu... às vezes mais, outras vezes menos.)

6.5.07

4.5.07

meaning...?
i see...
well...
it's mee.


nas fotos: o artista
na lente: o verdadeiro artista

marioneta-pirata

à base de algodão e osso de cão






1.5.07

maybe untitled

maybe tomorrow
maybe today
maybe to see
maybe to say

maybe i may
maybe i’ll stay
maybe you’ll run
too far away

maybe i’ll pray
just for one day
for you to loose
for you to lay