23.4.09

no futuro - alternate take

no futuro, a telepatia será uma ciência universalmente reconhecida. no futuro não haverá qualquer guerra em nome de deuses, de terras ou d’outra coisa qualquer. ninguém morrerá à fome e toda a gente terá um telhado para se abrigar. no futuro, o planeta terra será apenas o primeiro, o originário e o original da espécie. no futuro, o inglês será a língua universal e a primeira a ser aprendida na escola. no futuro, as nações unidas terão o poder pleno e supremo sobre a humanidade e os governantes serão os seus maiores filantropos e altruístas. o ser humano perderá os pêlos, os dentes e os dedos dos pés. a cor da pele será a mesma para todos: qualquer coisa acastanhada entre o preto e o branco. no futuro, o valor do dinheiro será substituído pela consciência e não saberemos o que significa a liberdade porque não haverá prisões. no futuro, o desafio não será evitar que as espécies animais se extingam mas saber quantas delas há muito extintas conseguimos trazer de volta. o futuro mostrará que estou certo… e errado.  

15.4.09

32

aos dois parece que me atirei para o meio de uma fogueira.

aos doze, o sexo oposto começava a despertar lados meus que desconhecia. comecei a entender o conceito de grupo de amigos. comecei a fazer as primeiras merdas dignas do nome. comecei a tirar negativas a matemática. comecei a ler livros do sherlock holmes.

aos vinte e dois estava-se a acabar a boa vida, a vida livre de qualquer preocupação que não a escola. o mundo era grande e todo meu. eu estava pronto para ele, cheio de força para o agarrar com unhas de dentes e trocar-lhes os pólos caso fosse necessário.

aos trinta e dois, a vida de adulto é complexa e facilmente me desiludo com a humanidade. mesmo assim, sinto que há um caminho e há à minha volta quem caminhe no mesmo sentido. sinto que é preciso parar e reflectir sobre o que é realmente importante. sinto que tenho muito para dar e cada vez mais para aprender.

9.4.09

palcos

a partir do cliché shakespeariano sobre a vida e o palco e os actores que somos no palco da vida, obrigam-me o pensamento e a última hora de experiência de vida, a  perder  cinco ou dez minutos tecendo uma ou duas considerações de cariz pessoal-conservador-tipo-velho-do-restelo para dizer que não são só os actores (que frequentam cursos de ensino superior para o serem – actores – entenda-se), os políticos (que, fazendo-o ou não, o são), os juízes, os jornalistas e os padres, fãs dos palcos da vida. não, não são só estes os frequentadores assíduos e por direito dos palcos da humanidade. há-os por aí, humanos comuns sem qualquer formação em encarnação de personagens ou frequência regular de palcos, que são, por diversas razões, actores por inerência das circunstâncias (especialmente quando as circunstâncias giram em roda do próprio umbigo).


aqueles que se dão ao trabalho de partilhar gratuitamente uma qualquer matéria, um qualquer assunto, uma qualquer tese, teoria, explicação ou noção semelhante, têm, por direito próprio, lugar de destaque na sociedade do momento. a vontade, o poder, o trabalho e a exposição características de quem frequenta ou gosta de frequentar palcos, deviam ser, por si só, sinónimos de seriedade. não digo de qualidade que isso é relativo, mas de seriedade.


acontece que se perdeu – não se sabe onde nem quando -, nos momentos de palco, um certo sentido de responsabilidade. como se de repente estar num palco fosse sinónimo de passadeira vermelha em noite de óscar e ao actores, sedentos de atenção, encarassem a responsabilidade de quem está um degrau acima dos demais, como uma responsabilidade perante as luzes, as câmaras, os flashes e os comentários. quando estes actores perdem o tempo, os pensamentos, as palavras, os gestos e os olhares em tão materiais objectos, objectivos e objectivas, o palco, esse lugar acima do nível dos comuns mortais, perde de imediato quase toda a dignidade que o caracterizava aos olhos de quem sempre o viu como lugar – mais do que de destaque – de uma responsabilidade acrescida e assente na superioridade do nível do chão.