30.10.06

o sol de sexta deu nisto

candeeiro balança entre o yin e o yang (qual dos dois dá luz?)
buganvilia sobre azul (porque espreita a cruz?)
percurso b (o caminho do céu?)
antenas ao sol (a transmitir para as nuvens?)

moínho despido (ou base lunar?)

28.10.06

as pessoas de quem gosto como se fosse um brainstorming

gosto das pessoas que sabem o que querem. gosto das pessoas que detestam perder tempo. gosto das pessoas que são claras. gosto das pessoas que gostam delas próprias. gosto das pessoas que dizem o que pensam. gosto das pessoas que não são cobardes. gosto das pessoas que lutam p'lo que querem. gosto das pessoas que gostam das outras pessoas. gosto das pessoas que entendem as outras. gosto das pessoas que pensam nelas antes de se preocuparem com o que o "social" pensa. gosto das pessoas que pensam. gosto das pessoas que não se assustam com o que recebem das outras. gosto das pessoas que lutam p'la sua felicidade. gosto das pessoas que se dão sem reservas. gosto das pessoas simples. gosto das pessoas. sou como são as pessoas de quem gosto? não sei, mas gosto de ser como sou.

26.10.06

meteorologia pouco científica e à espera do sol

chove uma semana sem parar e sentimos saudades do sol. parece que de repente se fechou sobre nós um pano cinzento e carregado que o esconde e nos impede de beber o calor da sua luz. temos os dias assim, um depois do outro, dias em que ele se esconde por detrás deste pano na companhia do céu (imagino as longas conversas que os dois terão na tranquilidade do mundo que os não vê)... de noite, este cinzento abriga todo um outro mundo que nos é mais uma vez invisível (imagino agora as estrelas a brincar à volta da lua, imagino-as a jogar às escondidas e à apanhada pelos confins do universo)...
p’ra nós (que não brincamos), é um cinzento que nos oferece água sem parar e nos interrompe os caminhos, nos atrasa e nos obriga a pensar em coisas como guarda-chuvas. com um bocadinho de azar ainda molhamos os tornozelos, sentimos os pés frios e ouvimos os dedos a cantar o fado queixoso da humidade relativa… com um bocadinho de sorte, estamos no calor dos lençóis e adormecemos ao ritmo da canção d’embalar que a mãe natureza nos canta enquanto nos chove nos telhados.
quando acordamos, acordamos e lembramo-nos do sol, queremo-lo, queremo-lo lá fora a iluminar o despertar e a aquecer o dia, dizemos-lhe que lhe temos saudades e chamamo-lo desesperadamente… dizem que sim, dizem que a chuva vai finalmente deixar-nos matar as saudades ao sol, assim esperamos... depois? depois que venha mais chuva e que nos traga mais um inverno que cá estaremos para o aquecer.

19.10.06

impressões

se uma imagem vale por mil palavras, será que quando traçamos a imagem de alguém que mal conhecemos, estamos em condições de dizer que temos mil palavras para esse alguém? duvido… é ponto assente que a primeira impressão tem um enorme peso nos juízos que (consciente ou inconscientemente) fazemos de alguém que acabámos de conhecer. a partir daqui e consoante a dimensão (profissional, sentimental, emocional, ocasional, …) em que passamos a enquadrar esse alguém, dedicamos mais ou menos tempo a conjecturar uma imagem, um perfil que nos garanta alguma segurança nos dados que retemos dessa pessoa. é também ponto assente que todos sabemos isto, sendo portanto perfeitamente natural que todos criemos resistências perante o contacto com um estranho. ora se assim é, se dois perfeitos estranhos se encontram exactamente no mesmo ponto de partida no conhecimento do outro, o mais certo é criarem-se imagens fictícias baseadas em suposições espontâneas que, por sua vez, se convertem em crenças infundadas ou, diria mesmo mais, em ilusões. durante este processo, há ainda o factor “sexto sentido” que, quer queiramos quer não, acaba por ter um enorme peso no interesse que o outro nos pode (ou não) despertar. este sexto sentido (de explicação difícil) é o mesmo que nos faz pensar e decidir se a primeira impressão foi boa ou foi má. no limite, acabamos sempre por fazer esta divisão estanque acreditando que raramente nos enganamos na primeira impressão que tiramos de alguém… poderemos estar certos como poderemos não estar…

17.10.06

self-portrait???

mais chuva

é o som “desorquestrado” da água que pula e corre pelos telhados, o chapinhar constante de milhares de gotas que caem no chão, o cheiro da terra molhada, a frescura das ruas, o aconchego do “ninho” quando ela está lá fora, é outra vez a chuva…

16.10.06

poema matinal

sente-se mais um inverno a aproximar,
o vento despe a última roupa às árvores
e sopra como que a avisar:
“abriguem-se que trago a chuva no ar!”

o branco acinzentado do céu confunde-se,
confunde-se com as fachadas ao léu,
é ainda uma claridade de outono
que cobre a cidade como um véu.

as pessoas caminham de sombreiro na mão,
trazem vestígios da noite no olhar
trazem o atraso de quem apressa o caminhar
e, de olhar no chão,
denunciam a pouca vontade de trabalhar.

nesta manhã de segunda-feira
(em que se sente o inverno aí à beira),
caminha assim esta humanidade
por entre os outonos da cidade.

14.10.06

ícaro

não fosse ícaro um personagem mitológico e teria pensado duas vezes antes de voar, teria usado do pensamento lógico p'ra prever que asas de cera podem derreter... ao sol

13.10.06

pequeno apontamento sobre blogs amigáveis

o gesto de comentar um qualquer post de um dos blogs que frequentamos, é sempre um gesto de aproximação ao outro. há quem o faça com mais ou menos assiduidade, com mais ou menos à vontade mas, felizmente, há sempre quem o faça. por outro lado, ver-se comentado significa ser-se encontrado e sentir-se aproximado, sentir-se entendido (ou não), mas acima de tudo, sentir-se “ouvido”. sendo o blog um novo lugar de partilha desta humanidade do século XXI, aconselha-se vivamente a criação (ou recuperação) de laços entre as almas que se expõem, entre as almas que se redescobriram no gesto de escrever e se abriram no segredo publicado.
tudo isto é ainda muito novo para todos, toda esta exposição é ainda um pouco assustadora, é verdade… mesmo assim, continuamos a dar corda aos dedos e uso às teclas, com a sinceridade particular de quem o faz sem vícios nem enganos por entre as virtualidades do interior de cada um. é como se nos atirássemos de cabeça para dentro de nós mesmos e mergulhássemos através de um mundo onde encontramos toda a gente. no fim, acabamos por reparar que não fomos os únicos a fazê-lo e sentimo-nos em casa.
um blog é um lugar, um post é uma mensagem e um comentário é essa mensagem devolvida com um bocadinho de quem a ouviu.

12.10.06

mais pessoa...

nem sempre sou igual no que digo e escrevo
mudo, mas não mudo muito.
a cor das flores não é a mesma ao sol
do que quando uma nuvem passa
ou quando entra a noite
e as flores são cor da sombra

mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
por isso quando pareço não concordar comigo,
reparem bem para mim:
se estava virado para a direita,
voltei-me agora para a esquerda,
mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés
o mesmo sempre graças ao céu e à terra
e aos meus olhos e ouvidos atentos
e à minha clara simplicidade de alma…


alberto caeiro

deixem

deixem ser quem é
deixem ver quem vê
deixem vir quem vem
deixem ter quem tem
deixem a nuvem chover
deixem o céu escurecer
deixem o sol brilhar
deixem o vento soprar
deixem o sangue lutar
deixem a pele a suar
deixem em paz o olhar
deixem-me ser assim
deixem-me ser em mim
deixem-me estar
deixem-me escrever
deixem-me ser
assim como sou
p’ra quem quiser ver

10.10.06

drago, querias poesia? pois bem, aí está!

se alguém lhe sugere um poema
não se inquiete e não trema, não
não pense na poesia e ria, sorria
ria de quem pensa que por ser poeta
despe a alma p’ra quem cego é
mas sorria com quem a vê como ela é
e na poesia pára, sem fé, a olha e a escuta
e a vê, a ela, à alma, como ela é
não se inquiete e não embarque nessa luta
não queira ver com os olhos do poeta
e tente ter como suas as palavras que lê
como quem escreve como ama e é poeta
como quem ama como escreve e é amante
e como se tudo isso não fosse o bastante
p’ra na poesia se confessar a quem a lê.

9.10.06

escolhas

que se façam escolhas quando as há a fazer. que se encarem de frente e que se tomem decisões porque é disso que a vida é feita, porque só assim sentimos nas nossas mãos o destino que nos pertence.
o problema das escolhas é o de corrermos o risco de fazermos a errada e acabarmos por cair no poço do arrependimento, contudo, será mais fundo o poço de quem (confrontado com escolhas) opta por fazer a mais passiva de todas e escolhe nada fazer, permanecendo passivo à espera que seja a vida a decidir por si... quando assim é, é a vida que vive as pessoas e não o contrário...
não é minha intenção tornar estas palavras num discurso moralista, não me sinto legitimado a fazê-lo... estas palavras tornaram-se-me necessárias após uma pequena conversa com uma amiga, uma conversa a propósito da vida, das escolhas, da coragem e da cobardia, da inércia e da iniciativa... estas são as palavras de quem, por vezes, se sente desapontado com quem se deixa levar pela vida carregando-a entre o medo de arriscar e a vontade de ser feliz.

6.10.06

interrogações entre o lusco e o fusco, entre quem as escreve e quem as lê

o que se mostra pode ser diferente do que se vê.
o que se vê nem sempre é o que se exibe.
o que se sente foge-nos aos sentidos mas vive...
no fim e afinal, resta-nos o quê?
que se viva com os enganos dos sentidos?
com os sentimentos exibidos ou contidos?
com as certezas assumidas ou escondidas?
no fim e afinal, vive-se onde?
nas grades d'almas aprisionadas?
no medo de gestos no escuro?
no receio de sorrisos iluminados?
na verdade em cada lado do muro?
no fim e afinal, vive-se de quê?
vive-se d'alegria de espíritos libertados?
da liberdade de sentidos alegrados?
da candura de olhares embasbascados?
sei o que digo mas digo mais,
sei que se vive do calor do sol,
sei que se vive da melancolia da lua,
sei que há vida na alma que é minha
e que ela vive um pouco na tua.

5.10.06

pensamento

o pensamento pode ter elevação sem ter elegância, e, na proporção em que não tiver elegância, perderá a acção sobre os outros. a força sem a destreza é uma simples massa.

bernardo soares,
ajudante de guarda-livros na cidade de lisboa
e heterónimo de fernando pessoa