29.7.07

22.7.07

pastilha elástica para os ouvidos

quando passo longos minutos, horas, a ouvir música empacotada, acabo mais tarde ou mais cedo por ter uma desconfortável sensação de fadiga. nos momentos em que paro para escutar tudo o que oiço e a música continua lá, é como se mascasse pastilha elástica durante muito tempo e, de repente, sentisse os maxilares estafados de tanto mascanso.

20.7.07

o tempo e o mundo

o tempo não pára por nós
o tempo não espera por nós
nós temos horas marcadas
ele tem a eternidade à espera

o tempo não quer saber de nada
nem de nós nem do mundo

e o mundo tem mais que fazer
tem que viver todos os dias
e sustentar toda as vidas
de que é feito ele mesmo

o mundo é assim, grande em si
vive sem pressas nem tempo
enquanto que o tempo vive só

no meio disto a humanidade
que sem paz nem liberdade
é incapaz de largar o tempo
e viver o mundo sem amarras

avf VII

humm... breakfast?!

19.7.07

pensar sobre o que sou, o que penso que sou, fazê-lo numa espécie de brainstorming e perder hora e meia com isso, deu nisto:

na vida, nunca nada chegou até mim dizendo-me “olha pá, estou aqui e, a partir de agora, vais ter que me ter na tua vida. mas está descansado, nos tempos que vierem far-te-ei feliz”. não, nunca alguma coisa na vida se me apresentou fácil.

sempre me esforcei por ser procurador em vez de procurado, por ser mais lutador do que apostador, mais pai do que filho. procuro não perder muito tempo a queixar-me da vida que tenho, prefiro ganhar esse tempo a “amar as coisas simples” (de entre todas as que a vida me dá).

sou fiel a mim próprio e procuro não enganar, falsear, mentir, magoar, injustiçar, desrespeitar seja quem for. procuro sempre guiar-me pelo pólo positivo do átomo que é a minha vida.

sou muito orgulhoso e tremendamente teimoso mas nada rancoroso.

aborrece-me a tristeza, chateia-me a minha e a dos outros. a ignorância preocupa-me, acho-a talvez o maior contributo para a lenta evolução do homem enquanto espécie. à estupidez olho-a com uma pequena dose de desprezo, talvez não despreze tanto outra coisa como desprezo a estupidez.

sou aparentemente calmo, analítico e paciente. sou muito mais paciente do que qualquer uma das outras coisas. sou muitas vezes brusco, bruto e ríspido. sou demasiado frontal bastantes vezes. procuro ser justo e facilmente admito o erro ou o engano. não me custa pedir desculpa e faço-o sinceramente quando o faço. nunca tenho duas caras.

(parece que) sou altamente expressivo e incógnito ao mesmo tempo. (parece que) tenho o fundo muito lá dentro, que me esquivo às mãos dos outros e que tenho uma tendência natural para me proteger do mundo, da vida e do outro.

quando pareço pouco descontraído, tenso até, é porque a minha mente e a minha alma estão longe do meu corpo, noutra dimensão se for preciso.

procuro ajudar a construir com o olhar posto do médio prazo em diante. não quero para amanhã o que depois de amanhã pode ser melhor. não cultivo o interesse a pensar no fim e no ganho. esforço-me por avaliar a humanidade (mesmo que não consiga) unicamente em matéria de desenvolvimento evolutivo (a ignorância tem um peso determinante na interpretação e conclusão a que chego).

tenho uma péssima memória. como se não bastasse ser selectiva, ainda é má… (este post vai dar-me imenso jeito quando quiser saber como pensava eu que era aos trinta:))

dos mundos do amor, do dinheiro, da profissão, da saúde e da sorte, o do dinheiro sempre foi de longe o pior, o mais instável; do da saúde – felizmente - nunca me queixei seriamente; o mundo da profissão - das profissões - só me dá a ganhar (mais em condição humana do que em dinheiro); do mundo da sorte não posso dizer mal porque me vai surpreendendo aqui e ali; do mundo do amor… bom, o amor é de longe o mais difícil de gerir no meio disto tudo.

sou complicado, amo as coisas simples mas parece que gosto de complicar. sou pouco prático no dia-a-dia e muito prático no pensamento. sou alguém com quem é difícil de se lidar. vejo-me grego para lidar comigo próprio.

fazer, pensar, construir e criar são quatro verbos que tento pôr em acção nas coisas em que ponho de mim.

é mais fácil ser convencido se não estiver em jogo um qualquer duelo. a meiguice facilmente derrete qualquer gelo ou icebergue cá de dentro.

sou bastante ingénuo. às vezes naturalmente, outras vezes porque é o mais cómodo (seja do ponto vista da emoção ou do intelecto). sou parvinho de vez em quando. sou parvo menos vezes (acho…). também sou capaz de ser estúpido, mesmo estúpido (e com isso sentir-me mal comigo próprio como poucas vezes me sinto).

os dilemas interiores impregnados de um carácter moral, sempre me deram muito trabalho a (di) gerir.

sou de processos lentos e detesto arrepender-me. demoro muito tempo a tomar uma decisão porque tento precaver qualquer factor que possa vir a fazer arrepender-me pela decisão que acabo por tomar.

inesperadamente (até para mim), de vez em quando sou impulsivo e atiro-me de cabeça sem pensar nisso. às vezes dou-me bem, outras vezes dou-me mal.

espero muito das pessoas, espero muito, especialmente daquelas de quem gosto, espero ainda mais delas quando as admiro. sou demasiado exigente com elas às vezes, crio expectativas altamente confiantes. acho muitas vezes que os outros gostam menos deles próprios do que aquilo que deviam gostar. também acho o contrário mas acontece-me muito menos vezes.

sou relativamente conservador em algumas coisas e aprendo todos os dias a ser cada vez mais tolerante com outras. encaro o mundo pelo prisma da “liberdade, igualdade e fraternidade”. luto por isso no pouco que posso. sou um homem de esquerda, republicano e laico.

(uffa!…)

já chega, já desabafei, já tive a minha terapia, a minha catarse, o meu momento de (re)criação, de pensamento feito palavras, de esboço de mim. fica aqui, assim como está.
(apontamentos de um vigilante florestal (VI) no início da madrugada mais ventosa, mais fria, mais solitária e mais triste).

18.7.07

avf V

onde se meteu a passadeira???

16.7.07

apontamentos de um vigilante florestal IV

amanhece calmamente este dia de julho
o sol atrasa-se ao encontro marcado
e, ainda estremunhado
demora-se escondido nas nuvens feitas cama
enquanto a terra, calma, agradece a demora
e aproveita para se refrescar

o homem saboreia o atraso a descansar
descansa do torpor que é acordar com calor
e goza o viço a refrescar o pensamento
a olhar a vida com alento
e o contentamento
de quem ama as coisas simples

vai folhando jornais enquanto bebe café
fumando cigarros e ouvindo melodias barrocas
vai parando para olhar este dia no mundo
mais um dia vestido de azul e branco
sobre uma terra de castanho fundo
povoada de verde vida
onde o ar traz cantos de pássaros
cheiros de árvores
e borboletas nas mãos

15.7.07

o gato & o rato

apontamentos de um vigilante florestal III


dia 15 de julho.
7 da manhã.
vigilância dia 11.

(raposa)

14.7.07

a importância das coisas

a importância das coisas não é maior ou menor
a importância das coisas não tem peso nem medida

cada um tem a sua medida e o seu peso para cada coisa mais ou menos importante
não há importância que pese e meça EXACTAMENTE o mesmo para duas pessoas

(é uma merda mas temos que viver com isso...)

13.7.07

"caffeine is the drug that made the modern world possible"

"For most of human existence, your pattern of sleeping and wakefulness was basically a matter of the sun and the season," explains Charles Czeisler, a neuroscientist and sleep expert at Harvard Medical School. "When the nature of work changed from a schedule built around the sun to an indoor job timed by a clock, humans had to adapt. The widespread use of caffeinated food and drink—in combination with the invention of electric light—allowed people to cope with a work schedule set by the clock, not by daylight or the natural sleep cycle."
Scientists have developed various theories to explain caffeine's "wake-promoting" power. The consensus today focuses on the drug's interference with adenosine, a chemical in the body that acts as a natural sleeping pill. Caffeine blocks the hypnotic effect of adenosine and keeps us from falling asleep.

11.7.07

apontamentos de um vigilante florestal II

dia 11 de julho. uma e trinta da madrugada. vigilância dia 8.

a noite volta a ser pródiga na escrita. abundante também no vento. lá fora as luzes iluminam os sonos de quem dorme, os caminhos de quem passeia, os pensamentos de quem pensa, os risos de quem ri e as lágrimas de quem chora. lá, nas luzes, o vento é menor. aqui, faz concorrência à ópera da antena dois e ao constante ruído (como se de uma ventoinha de um computador se tratasse) do aparelho que transforma a luz do sol na luz que ilumina a torre, no computador que me serve e no rádio que toca. fumo, fumarei até ser dia, fumarei entre 10 a 15 cigarros e fumá-los-ei com muito gosto. aqui não há fumadores passivos! (só para comemorar, vou fazer uma pausa para enrolar outro e pensar nas coisas sobre as quais hei-de continuar a escrever).

já está. menos de trinta segundos, acendo-o… um segundo. já fumo. fumo e só me lembro de escrever sobre aquilo que mais me toca agora. sobre a voz imperceptível que toca no rádio, na rádio, imperceptível e de mulher que sofre, que sofre em italiano e canta o sofrimento com o mesmo prazer com que eu fumo este cigarro. na verdade, vou continuar a apreciar o cigarro e a rádio, vou poupar energia e desligar a luz, deixar a vela a arder e dedicar-me durante uns minutos a isso, ao cigarro (até acabar), à ópera, à luz ondulante da vela, ao vento e, claro, aos aglomerados de luzes civilizacionais (pena o tecto da cabana não ser em acrílico para poder apreciar as estrelas no meio disto tudo).

8.7.07

6.7.07

racionalizando

racionalizo para tornar mais seguras as emoções, as sensações e as impressões. acabo por debitar esta segurança na espontaneidade que imprimo às coisas. um pau de dois bicos esta mania de racionalizar… se por um lado me ajuda a obter uma certa clareza no pensamento que faço da vida (mesmo que - na realidade - esteja errado), por outro lado, reduz as probabilidades de agir espontaneamente e sem conceitos à priori sobre a realidade com a qual me deparo no seu estado "puro". às vezes apetecia-me fazer menos exercício intelectual durante a assimilação que faço das coisas da vida e do mundo. mas só às vezes.

correntes pessoais dos géneros musicais de referência

o jazz é abstracto
o rock é minimalista
a mússica clássica (gostava que tivesse outro nome...) é impressionista

3.7.07

apontamentos de um vigilante florestal

1 de julho. 11 da noite. vigilância dia 1.

(lua)

mais uma lua cheia, hoje vejo-a no telescópio, mais perto, mais próxima. hoje como nunca, vejo-lhe as cicatrizes provocadas por colisões galácticas e observo todas as rugosidades do seu solo. assim, olhada de perto, parece menos pura, mais marcada pela vida, mais real, menos lírica, a lua.

(canso-me de mim)

como se não bastasse a solidão da torre e a imensidão da terra, para onde quer que olhe vejo-me a mim. revejo-me espelhado em cada vidro que me separa de tudo o que me transforma num vigilante florestal. varro consecutivamente o horizonte com olhar de predador, um predador em busca de incêndios. canso-me de me ver no reflexo dos vidros de cada janela, reacendo o cigarro e revejo-me outra vez no horizonte, antes das luzes que lá fora brilham enquanto cá dentro me volto a cansar da solidão obrigatória. meia hora e vou-me embora, 24 horas e estou cá outra vez. estamos cá, vigilantes da floresta.