24.9.09

a dificuldade do equílibrio num crescimento harmonioso

conheço-a faz dia 13 de Novembro 14 anos. é diferente hoje. sem dúvida. 14 anos – ainda que ínfimos na sua história - permitiram-me assistir a uma série de mudanças, pequenas mudanças. na verdade, considero que em 14 anos e apesar dessas mudanças, cresceu pouco. Parece que vive fechada numa espécie de ideia colectiva-cagona-reclamativa-pasmacenta intramuros. se houver alguém a querer sair deste registo, o processo vai ser longo e cansativo. se houver alguém a querer ser pró-activo, tem que estar preparado para enfrentar as dificuldades das mentalidades difíceis e acomodadas à segurança do que é regular. parece assim às vezes uma mentalidade enrijecida pelas pedras da muralha e queimada pelo sol da planície. às vezes cansada de si própria e apropriada pela rotina diária da vida sem surpresas, sem novidade. vejo-a assim às vezes, à cidade.

20.9.09

nunca é demais lembrar que

liberdade
s. f. (é)
1. Direito de proceder conforme nos pareça, contanto que esse direito não vá contra o direito de outrem.
2. Condição do homem ou da nação que goza de liberdade.
3. Conjunto das ideias liberais ou dos direitos garantidos ao cidadão.
4. Fig. Ousadia.
5. Franqueza.
6. Licença.
7. Desassombro.
8. Demasiada familiaridade.

19.9.09

The XX

thx tony for the themes ;)

"Things have gotten closer to the sun
And I've done things in small doses
So don't think that I'm pushing you away
When you're the one that I've kept closest"

(a partir de agora os videoclips levam com uma cópia de qualquer coisa que digam nas suas canções)

12.9.09

há uns dias a gasosa convidou e o icebergue aceitou

Um azar do caralh*!


10 de Outubro de 2010. O PSD governa o país coligado com o CDS. Manuela governa com pulso de ferro e há quem já lhe chame a Margaret Thatcher portuguesa. Pacheco Pereira é a sombra de Manuela e rivaliza com Paulo Portas pela atenção da madame, é uma guerra do tipo O Intelectual vs O Popular. Cavaco ainda é o Presidente de todos os portugueses e passa longas horas na sala de chá de S. Bento, na companhia de Manuela. Respeitosamente amicíssimos, estes dois. As coisas parecem estar a correr bem, nas ruas há sinais de rejuvenescimento e a crise parece estar, de facto, a passar. Há menos desemprego do que há um ano e o Benfica começa a época 09/10 em primeiro e com o título de campeão nos ombros. O povo anda calmo.


Privatiza-se a Segurança Social e uma boa parte da saúde. Nasce uma elite estudantil após a contratação dos melhores professores universitários (os que têm mais publicações e em maior número de línguas) pelas - agora prestigiadas - universidades privadas. Aos tribunais ainda não dá para privatizar porque fazem parte de um órgão soberano do Estado. Nos – cada vez menos - edifícios públicos, é obrigatória a bandeira da República Portuguesa hasteada no mastro. O crucifixo, esquecido durante as últimas décadas em muitas escolas, vai rebuscar o simbolismo das décadas do estado novo: Identificação, submissão e união. Há muita gente que gosta do país assim: ordeiro, sério, rígido e cinzento. Se até há pouco tempo havia alguém que não acreditasse na diferença entre a esquerda e a direita, hoje já não tem dúvidas: o país anda às direitas. É assim que o país acorda a 10 de Outubro de 2010.

10 de Outubro, 9.37 da manhã. Manuela e Pacheco, no banco de trás do novo Mercedes conduzido pelo Sr. Alcides, são de repente abalroados por um camião TIR sem travões, carregado de areia e a caminho das obras do Terreiro do Paço. Morte instantânea pó Pacheco e já na mesa de operações pá Manela. O Sr. Alcides safou-se, graças a Deus!


Portas, que sabe da notícia às 10.17, sai da pastelaria a correr deixando para trás o chá verde e o bolinho sem açúcar e, como se todo o mundo acabasse de ruir mas ao mesmo tempo Deus tivesse criado uma manobra para fazer dele o eleito, atravessa a estrada ao encontro do carro estacionado pelo Artur, o seu motorista. Vai a meio da estrada quando se maravilha com a ideia das infinitas hipóteses que lhe proporcionaria o desaparecimento repentino dos dois colegas de governo, pára de repente, de cabeça no ar mas a olhar para dentro e não repara que o taxista apressado que ali vinha não conta com tão repentina paragem a meio da estrada. A caminho do Hospital, tem a cabeça nas mãos de uma mulher bombeiro quando diz o último adeus.

11.24 da manhã. O presidente manda fechar o espaço aéreo de S. Bento, manda chamar um grupo de forças especiais para o palácio e convoca os seus generais. Sofre um ataque cardíaco no momento em que pensa “e agora?”. Morre em menos de um minuto.


O pior disto tudo podia ser a dor das pessoas que gostavam destas quatro pessoas… mas o que acontece a seguir é bem pior.

Às 13.02, os chefes do Estado Maior do Exército, da Marinha e da Força Aérea – e os seus generais - aproveitando a reunião e dadas as circunstâncias, resolvem concordar unanimemente em tomar conta do país. Fazem ler um comunicado em todos os canais de comunicação a justificar a “tomada do poder pelos militares de forma a garantir a ordem no país até à restauração […] legitimada pelo povo […] e garantir que a súbita precariedade da República não tomba em cima da cabeça de todos os portugueses”.

Nas televisões, nas rádios e na internet, parece que estamos a assistir a episódios em directo de um golpe de estado num qualquer país latino. As duas primeiras ordens são a hora do recolher obrigatório e os militares transferidos – com toda a sua logística - das bases para as grandes cidades.


Às 22.25 está o caos instalado na cabeça dos portugueses. A ansiedade, o medo e a incerteza tomam conta daquela noite de quinta-feira, 10 de Outubro de 2010.


Quem não respeitou o recolher obrigatório já foi preso. Os meios de comunicação já estão sob a “coordenação e supervisão editorial” dos militares. A PSP e a GNR passam a receber ordens directas do Chefe de Estado Maior do Exército. Na prática, é este senhor e os outros dois maiores das Forças Armadas que governam o país há mais de dois meses.


O país vive sufocado e não vai aguentar a entrada num novo ano sob o jugo das armas. Os serviços de Internet estão “filtrados de forma a não influenciarem negativamente (especialmente os jovens) o pacífico decorrer deste período transitório” e as televisões e rádios emitem só o que interessa a quem tem as armas. O Natal de 2010 foi o dia mais sombrio de um povo, de uma existência colectiva sentida e vivida como nunca na memória de todos. É Natal e não há perspectivas de eleições, os partidos tentam contactos com o exterior (muitos dos seus militantes optaram por se auto-exilar para países das Américas central e do sul, nestes países estamos no verão…). A união europeia não sabe o que fazer e nem sequer tem meios para actuar, é a típica “resolução pacífica” que não anda nem desanda. Nas esferas da NATO e da ONU é que se discute realmente o que fazer e como o fazer. O povo é que já não aguenta mais e sente que não há mais nada a fazer a não ser fazer qualquer coisa. São mais de 10 milhões abandonados à sua sorte num espaço entre a Espanha e o mar. Para um povo que viveu séculos à sombra das memórias dos descobrimentos, esta é uma condição digna de um grandioso fado.


Às 23.13 de 31 de Dezembro de 2010 é escrita e enviada a primeira SMS: “Ás 08.00 de amanhã na praça principal da tua cidade, vila ou aldeia. Arrancar às 09.00 em direcção a Lisboa, a pé. Mochilas com mantimentos e agasalhos. Quem não puder ou não quiser, não vem. Os últimos a chegar avisam. É no Terreiro do Paço.” A SMS espalha-se a uma velocidade alucinante, os de Lisboa são os primeiros a chegar, vão para o Terreiro logo que começam a receber a SMS. São 8 da manhã do dia seguinte e nas outras grandes cidades os militares já estão estacionados nas principais praças, frente a frente com o povo. Uns com armas de fogo e semblantes sérios, os outros de mochila às costas, mãos dadas ao do lado e de rosto apreensivo.


08.12 de 1 Janeiro de 2011, é o minuto da revolução. As ordens são as de ”…evitar que a população civil inicie a marcha não autorizada. Disparar primeiro para o ar de forma a avisar os que se atreverem a desrespeitar a ordem.” Esta é a ordem que recebe cada um dos militares mas o que está na cabeça de cada um deles é isto: “disparar primeiro para o ar”???


O mundo inteiro está suspenso e de olhos postos neste minuto, há câmaras ocultas a transmitir em directo para satélites estrangeiros, o mundo inteiro está parado nestes rostos, nesta tensão massificada que pode descambar no episódio mais sanguinário da história de um povo. Ouvem-se gritos “o povo unido jamais será vencido!” e, quando já todos gritam, começam a andar. Ouvem-se os “primeiros” tiros para o ar, a multidão pára durante 3 eternos segundos mas reinicia a marcha, muitos fazem-no de olhos fechados. Um dos capitães presentes numa destas cidades interrompe o silêncio depois dos “primeiros” tiros, saca da sua pistola de punho, ergue o braço e dispara em direcção às nuvens: “este foi o segundo tiro e foi dado em nome da submissão do exército à vontade do seu povo.” O gesto é difundido pelos rádios militares e replicado por todo o país. O povo caminha em direcção a Lisboa escoltado pelo seu exército. Quase 37 anos depois, faz-se outra revolução neste país.

9.9.09