31.5.08

diálogos a um

tenho, sempre tive, muitos momentos em que me oiço a falar comigo próprio. desde que aprendi a conduzir e passei a viver também ao volante de um carro, descobri mais uma forma de me ouvir: a conduzir. desde que há os telemóveis, tem-me sido ainda mais fácil fazê-lo porque se alguém que se cruza comigo na estrada me vê a falar sozinho, pensará que falo para o popular auricular. corro menos riscos de ser tomado por um louco. quando não há auto rádio, a propensão para a loucura torna-se maior… ontem, fartei-me de rir comigo e de mim. uma das frases que me ouvi repetir várias vezes em voz alta:
"de moldes que estás rotundamente enganado derivado de que errar é umano e é verdade… é raro mas és umano!"

21.5.08

sobre o poder da palavra

uma palavra contém em si própria um manancial infindável de cenários imagináveis, imaginários e inimagináveis. peguemos, por exemplo, na palavra PEDRA. uma pedra é uma pedra, maior ou menor, mais ou menos rugosa, clara ou escura, é uma pedra, só uma pedra.

contudo…

quantas pedras não foram já sinónimo de morte? quantos não foram “justamente” apedrejados até encontrarem essa morte? quantos não foram nados em cima de pedras? e quantas pedras registam as únicas imagens que nos chegam dos primórdios da humanidade? com quantas pedras se construíram as pirâmides do egipto? quantos não sangraram até à morte em cima de todas as pedras de todos os castelos da europa medieval? quantos amores foram celebrados na companhia das pedras? e quantas pedras beberam as lágrimas de um amor que acabou? quantas pedras foram atiradas com gritos de liberdade desde a primeira intifada? quantas vezes não revolvemos em pensamento o nosso interior enquanto caminhávamos e olhávamos as pedras da calçada? quantas vezes não contámos as pedras dessa mesma calçada a caminho de casa ou d’outro sítio qualquer?

podia ficar a noite toda a falar das pedras e a noite toda não me chegaria…

se uma imagem vale por mil palavras, uma palavra há-de valer por um número incontável de imagens.

19.5.08

a propósito de trabalho

há por aí muito trabalho, há por aí quem o possa fazer mas não lhe apetece, há quem o queira fazer mas não pode. há ainda, claro, quem nem uma coisa nem outra. há quem finja que trabalha, há quem invente trabalho, há quem trabalhe mais do que aquilo que devia, há quem ache que trabalha muito (quando só o faz com a língua), há quem trabalhe em função do trabalho do vizinho, há quem parasite o trabalho alheio, há quem trabalhe por si e pelo outro, há quem trabalhe unicamente pelo dinheiro e há quem trabalhe pelo objectivo e veja no dinheiro uma recompensa. enfim… trabalho há muito, é preciso é fazê-lo.

o trabalho é a contribuição de cada um para uma máquina que ser quer mais eficiente num mundo que se quer mais eficaz.

o ideal seria fazer daquilo que gostamos de fazer todos os dias, o nosso trabalho... mas podemos tentar gostar daquilo que fazemos todos os dias no trabalho...

p.s. trabalhar e cumprir horários são duas coisas amplamente distintas.

p.s.II o trabalhador que mais admiro e respeito é o homem do lixo.

17.5.08

the mercy seat


"The Mercy Seat" is a song written by Nick Cave (lyrics and music) and Mick Harvey (music), originally performed by Nick Cave and the Bad Seeds on the 1988 Tender Prey album.
Johnny Cash covered the song on his 2000 album American III: Solitary Man.
wikipedia

15.5.08

parabéns!!

a duas das mais admiráveis mulheres guerreiras: a sua mãe e a sua mara

14.5.08


New blood joins this earth
And quickly he's subdued
Through constant pained disgrace
The young boy learns their rules

With time the child draws in
This whipping boy done wrong
Deprived of all his thoughts
The young man strugggles on and on he's known
A vow unto his own
That never from this day
His will they'll take away

What i've felt
What i've known
Never shined through in what i've shown
Never be
Never see
Won't see what might have been
What i've felt
What i've known
Never shined through in what i've shown
Never free
Never me
So i dub thee UNFORGIVEN

They dedicate their lives
To running all of his
He tries to please then all
This bitter man he is
Throughout his life the same
He's battled constantly
This fight he cannot win
A tired man they see no longer cares
The old man then prepares
To die regretfully
That old man here is me

You labeled me
I'll label you
So i dub thee UNFORGIVEN

metallica - the unforgiven

11.5.08

meia dúzia de coisas e um ou dois vícios (ou o mais um narrador participante no vasto processo evolutivo da humanidade, ou ainda, um processo)

vai parecer um desabafo mas não o será.

há meia dúzia de coisas que – como (quase) todos - quero da vida: paz, saúde, alegria, amor, amigos, família e o dinheiro suficiente para poder viver com isto e mais um ou dois vícios.

partindo deste princípio e acreditando no valor da adaptação nessa lei darwiniana da evolução, será de se esperar que aja de maneira a que esta meia dúzia de coisas me estejam asseguradas. com isto, vem um trabalho acrescido motivado por um profundo peso existencial da consciência: a aplicação da sinceridade no que sou e no que faço para que possa vir a ter a verdade do que quero sem que perca muito tempo com esquemas superficiais.

admitindo que sou um observador deste vasto processo evolutivo que em último caso me tem como mais um objecto seu, será de se esperar que tenha um papel activo na moldagem que ele faz do meu eu (individual e social) de maneira a evitar os constantes recomeços e os seus consequentes vazios iniciais.

acreditando que sou um ser humano inteligente e sensível às “coisas”, espera-se que saiba fazer da adaptação uma constante aprendizagem e da vida uma joie de vivre.

muito se espera de um único ser humano numa sociedade tão grande e num processo tão complexo… o que vale é que não sou o único…