28.12.09

""chove" mais qq coisinha aqui no ice

e eis que o vento 
me levou o pensamento
daquele momento no tempo
em que choveu um sentimento   

27.11.09

o sustentável peso da roupa suja

chega a casa acabadinho de apanhar uma molha monumental e já está a pensar em pôr a roupa suja a lavar. tem que tirar a que tem no corpo que está ensopada. antes de tudo, tem que pegar fogo a 3 ou 4 paus e acender a lareira. 
vai para a casa de banho, despe-se, veste o roupão, pega em toda a roupa que transborda do cesto da roupa suja e embrulha-a num lençol. vai a meio da sala - qual pai natal qual quê com aquilo às costas - e decide que vai ter que queimar peça a peça para que toda a casa não pegue fogo. lá fora continua a chover torrencialmente.  

quatro dimensões da mesma realidade

é sabido que a mesma realidade possui os contornos que cada par d’olhos lhe dá. é sabido que cada realidade se torna ainda mais pessoal na medida em que cada cabeça a interpreta e a pensa. depois de a ver, interpretar e pensar, a realidade passa directamente para o coração que a sente. enquanto o desenrolar destes quatro processos distintos acontecer na ordem descrita, podemos partir do princípio que estamos a fazer a coisa bem feita. a merda é se pomos o coração a ver, os olhos a sentir e a cabeça a seguir...

16.11.09

tubarão cirurgião faz cesariana de emergência à esposa e salva toda a gente

"Um tubarão macho salvou a companheira e os 4 filhos com uma dentada na barriga da fêmea. Tudo aconteceu num aquário na Nova Zelândia quando o tubarão fêmea entrou em trabalho de parto, mas as 4 crias não conseguiam nascer. Ao reconhecer que a companheira estava em dificuldade, o tubarão dá uma dentada na barriga da fêmea, fazendo assim uma cesariana que salvou a mãe e as crias.


Fiona Davies, funcionára do Kelly Tarlton’s Underwater World, relata o episódio: "o tubarão mordeu uma parte específica da barriga da mãe, como se o fizesse de uma forma delicada e cirúrgica. De imediato saíram os bebés".
Apesar do parto atribulado, tanto os pequenos tubarões como a mãe não correm perigo de vida. Um final feliz para esta história. Os bebés serão libertados em breve no mar."

depeche mode de sábado à noite

sábado à noite no pavilhão atlântico. palavras para quê?... enjoy the silence
"Vows are spoken
To be broken
Feelings are intense
Words are trivial
Pleasures remain
So does the pain
Words are meaningless
And forgettable"

8.11.09

estás na profissão certa?

faz o teste de orientação vocacional aqui

6.11.09

and now for something completely personal and unnecessary:

hoje e pela primeira vez na vida, ainda antes do almoço mas já depois da uma da tarde, apalparam-me os testículos. pela primeira vez na vida e de uma forma altamente profissional, tocaram-me no mais escondido que tenho da minha parte que existe enquanto corpo. disse-lhe, como pude, que era a primeira vez que fazia aquilo. ela respondeu-me que já o havia feito muitas vezes. fiquei descansado. a nova médica de família, depois da primeira impressão e depois de tantas desconfianças minhas com a sua classe profissional, relembrou-me do conceito de médica de família.    

29.10.09

quando os homens são homens

"gosto muito de si mário, sou incapaz de lhe recusar um convite porque gosto de conversar consigo, sinto que comunicamos. sabe que dois homens, quando são homens, estão condenados a entenderem-se."

antónio lobo antunes para mário crespo há pouco no jornal das nove. 

quando o hábito não faz o monge

o juiz, baseado em “pareceres técnicos qualificados” diz que a menina deve ser recambiada para a rússia onde estará melhor com a mãe biológica. uma vez lá, a menina não toma banho, leva porrada e passa fome.
o médico manda o menino para casa sem fazer o despiste à nova estirpe da gripe, parece-lhe que é gripe normal. o menino regressa no dia seguinte ao hospital onde acaba por morrer…
depois os políticos é que são os maus da fita… nos médicos e nos juízes ninguém vota…

21.10.09

pedantismo bacoco

parece que a bíblia é um "manual de maus costumes". mau costume é haver por aí demasiada gente a ter demasiado tempo de antena. há por aí demasiados saramagos, marcelos e pachecos. diz-se muito e fala-se de tudo mas a verdade é que os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres... não admira que os brasileiros andem a gozar com a "cultura" à portuguesa...

7.10.09

the cure


"Twist and turn
But you're trapped in the light
All the directions were wrong"

24.9.09

a dificuldade do equílibrio num crescimento harmonioso

conheço-a faz dia 13 de Novembro 14 anos. é diferente hoje. sem dúvida. 14 anos – ainda que ínfimos na sua história - permitiram-me assistir a uma série de mudanças, pequenas mudanças. na verdade, considero que em 14 anos e apesar dessas mudanças, cresceu pouco. Parece que vive fechada numa espécie de ideia colectiva-cagona-reclamativa-pasmacenta intramuros. se houver alguém a querer sair deste registo, o processo vai ser longo e cansativo. se houver alguém a querer ser pró-activo, tem que estar preparado para enfrentar as dificuldades das mentalidades difíceis e acomodadas à segurança do que é regular. parece assim às vezes uma mentalidade enrijecida pelas pedras da muralha e queimada pelo sol da planície. às vezes cansada de si própria e apropriada pela rotina diária da vida sem surpresas, sem novidade. vejo-a assim às vezes, à cidade.

20.9.09

nunca é demais lembrar que

liberdade
s. f. (é)
1. Direito de proceder conforme nos pareça, contanto que esse direito não vá contra o direito de outrem.
2. Condição do homem ou da nação que goza de liberdade.
3. Conjunto das ideias liberais ou dos direitos garantidos ao cidadão.
4. Fig. Ousadia.
5. Franqueza.
6. Licença.
7. Desassombro.
8. Demasiada familiaridade.

19.9.09

The XX

thx tony for the themes ;)

"Things have gotten closer to the sun
And I've done things in small doses
So don't think that I'm pushing you away
When you're the one that I've kept closest"

(a partir de agora os videoclips levam com uma cópia de qualquer coisa que digam nas suas canções)

12.9.09

há uns dias a gasosa convidou e o icebergue aceitou

Um azar do caralh*!


10 de Outubro de 2010. O PSD governa o país coligado com o CDS. Manuela governa com pulso de ferro e há quem já lhe chame a Margaret Thatcher portuguesa. Pacheco Pereira é a sombra de Manuela e rivaliza com Paulo Portas pela atenção da madame, é uma guerra do tipo O Intelectual vs O Popular. Cavaco ainda é o Presidente de todos os portugueses e passa longas horas na sala de chá de S. Bento, na companhia de Manuela. Respeitosamente amicíssimos, estes dois. As coisas parecem estar a correr bem, nas ruas há sinais de rejuvenescimento e a crise parece estar, de facto, a passar. Há menos desemprego do que há um ano e o Benfica começa a época 09/10 em primeiro e com o título de campeão nos ombros. O povo anda calmo.


Privatiza-se a Segurança Social e uma boa parte da saúde. Nasce uma elite estudantil após a contratação dos melhores professores universitários (os que têm mais publicações e em maior número de línguas) pelas - agora prestigiadas - universidades privadas. Aos tribunais ainda não dá para privatizar porque fazem parte de um órgão soberano do Estado. Nos – cada vez menos - edifícios públicos, é obrigatória a bandeira da República Portuguesa hasteada no mastro. O crucifixo, esquecido durante as últimas décadas em muitas escolas, vai rebuscar o simbolismo das décadas do estado novo: Identificação, submissão e união. Há muita gente que gosta do país assim: ordeiro, sério, rígido e cinzento. Se até há pouco tempo havia alguém que não acreditasse na diferença entre a esquerda e a direita, hoje já não tem dúvidas: o país anda às direitas. É assim que o país acorda a 10 de Outubro de 2010.

10 de Outubro, 9.37 da manhã. Manuela e Pacheco, no banco de trás do novo Mercedes conduzido pelo Sr. Alcides, são de repente abalroados por um camião TIR sem travões, carregado de areia e a caminho das obras do Terreiro do Paço. Morte instantânea pó Pacheco e já na mesa de operações pá Manela. O Sr. Alcides safou-se, graças a Deus!


Portas, que sabe da notícia às 10.17, sai da pastelaria a correr deixando para trás o chá verde e o bolinho sem açúcar e, como se todo o mundo acabasse de ruir mas ao mesmo tempo Deus tivesse criado uma manobra para fazer dele o eleito, atravessa a estrada ao encontro do carro estacionado pelo Artur, o seu motorista. Vai a meio da estrada quando se maravilha com a ideia das infinitas hipóteses que lhe proporcionaria o desaparecimento repentino dos dois colegas de governo, pára de repente, de cabeça no ar mas a olhar para dentro e não repara que o taxista apressado que ali vinha não conta com tão repentina paragem a meio da estrada. A caminho do Hospital, tem a cabeça nas mãos de uma mulher bombeiro quando diz o último adeus.

11.24 da manhã. O presidente manda fechar o espaço aéreo de S. Bento, manda chamar um grupo de forças especiais para o palácio e convoca os seus generais. Sofre um ataque cardíaco no momento em que pensa “e agora?”. Morre em menos de um minuto.


O pior disto tudo podia ser a dor das pessoas que gostavam destas quatro pessoas… mas o que acontece a seguir é bem pior.

Às 13.02, os chefes do Estado Maior do Exército, da Marinha e da Força Aérea – e os seus generais - aproveitando a reunião e dadas as circunstâncias, resolvem concordar unanimemente em tomar conta do país. Fazem ler um comunicado em todos os canais de comunicação a justificar a “tomada do poder pelos militares de forma a garantir a ordem no país até à restauração […] legitimada pelo povo […] e garantir que a súbita precariedade da República não tomba em cima da cabeça de todos os portugueses”.

Nas televisões, nas rádios e na internet, parece que estamos a assistir a episódios em directo de um golpe de estado num qualquer país latino. As duas primeiras ordens são a hora do recolher obrigatório e os militares transferidos – com toda a sua logística - das bases para as grandes cidades.


Às 22.25 está o caos instalado na cabeça dos portugueses. A ansiedade, o medo e a incerteza tomam conta daquela noite de quinta-feira, 10 de Outubro de 2010.


Quem não respeitou o recolher obrigatório já foi preso. Os meios de comunicação já estão sob a “coordenação e supervisão editorial” dos militares. A PSP e a GNR passam a receber ordens directas do Chefe de Estado Maior do Exército. Na prática, é este senhor e os outros dois maiores das Forças Armadas que governam o país há mais de dois meses.


O país vive sufocado e não vai aguentar a entrada num novo ano sob o jugo das armas. Os serviços de Internet estão “filtrados de forma a não influenciarem negativamente (especialmente os jovens) o pacífico decorrer deste período transitório” e as televisões e rádios emitem só o que interessa a quem tem as armas. O Natal de 2010 foi o dia mais sombrio de um povo, de uma existência colectiva sentida e vivida como nunca na memória de todos. É Natal e não há perspectivas de eleições, os partidos tentam contactos com o exterior (muitos dos seus militantes optaram por se auto-exilar para países das Américas central e do sul, nestes países estamos no verão…). A união europeia não sabe o que fazer e nem sequer tem meios para actuar, é a típica “resolução pacífica” que não anda nem desanda. Nas esferas da NATO e da ONU é que se discute realmente o que fazer e como o fazer. O povo é que já não aguenta mais e sente que não há mais nada a fazer a não ser fazer qualquer coisa. São mais de 10 milhões abandonados à sua sorte num espaço entre a Espanha e o mar. Para um povo que viveu séculos à sombra das memórias dos descobrimentos, esta é uma condição digna de um grandioso fado.


Às 23.13 de 31 de Dezembro de 2010 é escrita e enviada a primeira SMS: “Ás 08.00 de amanhã na praça principal da tua cidade, vila ou aldeia. Arrancar às 09.00 em direcção a Lisboa, a pé. Mochilas com mantimentos e agasalhos. Quem não puder ou não quiser, não vem. Os últimos a chegar avisam. É no Terreiro do Paço.” A SMS espalha-se a uma velocidade alucinante, os de Lisboa são os primeiros a chegar, vão para o Terreiro logo que começam a receber a SMS. São 8 da manhã do dia seguinte e nas outras grandes cidades os militares já estão estacionados nas principais praças, frente a frente com o povo. Uns com armas de fogo e semblantes sérios, os outros de mochila às costas, mãos dadas ao do lado e de rosto apreensivo.


08.12 de 1 Janeiro de 2011, é o minuto da revolução. As ordens são as de ”…evitar que a população civil inicie a marcha não autorizada. Disparar primeiro para o ar de forma a avisar os que se atreverem a desrespeitar a ordem.” Esta é a ordem que recebe cada um dos militares mas o que está na cabeça de cada um deles é isto: “disparar primeiro para o ar”???


O mundo inteiro está suspenso e de olhos postos neste minuto, há câmaras ocultas a transmitir em directo para satélites estrangeiros, o mundo inteiro está parado nestes rostos, nesta tensão massificada que pode descambar no episódio mais sanguinário da história de um povo. Ouvem-se gritos “o povo unido jamais será vencido!” e, quando já todos gritam, começam a andar. Ouvem-se os “primeiros” tiros para o ar, a multidão pára durante 3 eternos segundos mas reinicia a marcha, muitos fazem-no de olhos fechados. Um dos capitães presentes numa destas cidades interrompe o silêncio depois dos “primeiros” tiros, saca da sua pistola de punho, ergue o braço e dispara em direcção às nuvens: “este foi o segundo tiro e foi dado em nome da submissão do exército à vontade do seu povo.” O gesto é difundido pelos rádios militares e replicado por todo o país. O povo caminha em direcção a Lisboa escoltado pelo seu exército. Quase 37 anos depois, faz-se outra revolução neste país.

9.9.09

27.7.09

sem título, princípio, meio ou fim...

Decidiu agarrar em si e sair do hotel. Levantou-se, sentou-se na cama e apagou o cigarro no cinzeiro tirado da gaveta da mesinha de cabeceira. Apagou o cigarro com a convicção de quem se certificou que a bandeira está bem agarrada ao chão. Levantou-se, agarrou no tabaco, na carteira e nas chaves, espalhou-os pelos bolsos do casaco que entretanto tirou das costas da cadeira e vestiu-o em frente ao espelho enquanto fazia as pazes consigo próprio por não fazer a barba há uma semana. Apagou a luz e puxou a porta que se fez ouvir fechar depois de ele já ter dado dois passos no corredor. Percorreu o corredor abusado pelo odor de um qualquer perfume nitidamente feminino e desceu os 4 lances de escadas como que a trote, brincando com os ritmos do som de cada passo em cada escada. Como se corresse por cima das teclas de um piano em busca do som mais grave possível, porque os sons mais graves são mais envolventes, menos afiados. 

Saiu do prédio satisfeito por não se ter cruzado com nenhum olhar estranho e virou imediatamente à esquerda enquanto se lembrou que não tinha decidido nenhum destino para aquela saída repentina. Entrar no próximo café com mesas e cadeiras de madeira. É este o objectivo. Sofás e poltronas podia já ser pedir demais… dedicou o tempo que decorreu e as ruas que percorreu até ao b  club a lembrar-se do paladar de todas as bebidas que já tivera a oportunidade de provar. Ia na guinness quando começou a ouvir um piano balanceado por um swing vindo de algures à frente e à esquerda. Virou na seguinte à esquerda, acelerou o passo até se ver parado em frente a um vidro quase completamente opaco e castanho. Era dali que vinha o piano. Vinha também um contrabaixo e uma bateria. Sons repetidos e recomeçados com umas vozes pelo meio. Deviam estar a ensaiar. B club era o nome. Tocou à campainha duas vezes e a música parou. Cinco segundos de silêncio e alguém abriu a porta:  

– Boa tarde! Ainda estamos fechados, os músicos estão a ensaiar mas só abrimos às dezoito…

Entretanto ele já reparou no selo azul dos fumadores. Não faz a mínima ideia das horas que são e só quer que aquele senhor de aspecto vivido e simpático o deixe entrar.

– Boa tarde! Falta muito para a hora de abrir? Não sei que horas são e este é o primeiro sítio nesta cidade onde me apetece realmente entrar…

- Faltam exactamente 17 minutos para abrirmos mas vou deixá-lo entrar porque estamos todos bem dispostos, mas não diga nada a ninguém – diz o ar vivido com um sorriso imperceptível no canto dos lábios – sente-se onde quiser, o que quer beber?

– Muito obrigado! - Responde ele com aquele ar de quem quer deixar claro que diz aquilo não por cortesia mas o faz sinceramente, – tem guiness?

– Não…

- Sagres?

– Preta ou branca?

- Branca.

Pára no canto do balcão, vê três homens a olharem para si do canto oposto da modesta sala e inclina levemente a cabeça na sua direcção num sinal misto de cumprimento e pedido de desculpa pela interrupção do ensaio. Os três homens retribuem o gesto e regressam à música. Aparece a sagres, um copo e uma base em cima do balcão. O anfitrião faz acompanhar isto por um “esteja à vontade”. Ele agarra só na garrafa e na base e, embora já saiba onde se vai instalar, demora-se educadamente a contemplar a modesta mas acolhedora sala. O anfitrião já está concentrado numa mesa de som cheia de botões e à qual estão ligados vários cabos. Os músicos já tocam e ele já pode regressar a si. 

A sala está cheia de tons castanhos e brancos envelhecidos. Nada berrante, nada a mais, nada a menos, muitos cartazes, alguns ícones e clichés e muita madeira bem tratada. Vai para o canto que faz triângulo com o bar e o pequeno palco (e que não é o canto da casa de banho), senta-se no sofá de 3 ou 4 lugares, pousa a base, limpa o gargalo da sagres com a membrana que une o polegar ao indicador e bebe 3 goles de rajada enquanto ouve o piano, o contrabaixo e a bateria, a soar frenética e alternadamente por toda a sala. 

Imediatamente depois de ter pousado a garrafa e se ter recostado o sofá, soube, sem dúvidas, quem era. 

21.7.09

hoje outra vez...

parece que hoje é que faz 40 anos... hoje também faz 40 anos que se fez o primeiro transplante em portugal... bom bom era transplantarem-se cérebros...

20.7.09

apeteceu-me criar qualquer coisa... o espírito tava páqui virado...

poluição invisível


sedimentos negros e secos de verniz petrificado

ilusões peneirentas inversamente ajustadas

amálgamas poluidoras de cultura pop blop flop

camadas sobrepostas de veludo vermelho, sintético

lixo sensorial defecado p´la ambição do alter-ego

verborreias ditadas, imitadas da cópia original

odores putrefactos a fingimentos intelectuais

entorpecimentos convenientes das cousas factuais

prostituição regulada da beleza ensimesmada

vassalagem concordante com a demagogia vigente

ignorância barroca de aspecto pós-moderno

17.7.09

fez hoje quarenta anos

hoje, 16 de julho de 2009. fez exactamente 40 anos.


os dinossauros, que por cá andaram 150 milhões de anos, ou se extinguiram ou evoluíram e se tornaram aves.


nós, os humanos que cá andamos há cerca de 200 mil (diz-se que despertámos pá vida em áfrica mas que entretanto nos esquecemos), conseguimos – fez hoje quarenta anos – saltar e aterrar na lua. há milhões de anos que se olha para a lua mas fez hoje quarenta anos que este ser terráqueo de vida curta assentou os pés nessa intemporal imagem.

se nos lembrássemos disto mais vezes, tenho a certeza, seríamos seres ainda mais ricos, menos dados a pobrezas espirituais, mais impermeáveis a prazeres imediatos e sádicos, menos agarrados à pequenez das coisas. tenho a certeza que se nos conseguíssemos lembrar mais vezes do inclassificável feito que tem sido a passagem humana pela história do universo, seríamos ainda melhores seres humanos.


há pequenos acontecimentos nas nossas vidas, coisas de minutos, de segundos até, pequenos momentos no tempo que nos marcam uma vida inteira: encontros, desencontros, despedidas, tristezas, alegrias, amor, ódio, desilusão, ilusão, pequenos momentos recheados de emoções que nos fazem ser alguém diferente, um ser único. viagens à lua e dinossauros são temas que pouco mais fazem do que alimentar o imaginário de cada um. mesmo que hoje faça quarenta anos que tenhamos assentado os pés no chão da lua e que saibamos quem e como vivia quem viveu há 200 milhões de anos na terra, mesmo que assim seja, preferimos às vezes (vi)ver coisas “razoavelmente” mais pequenas.


o próximo passo é arranjar maneira de ter água na lua, depois da água já pode haver uma reserva de combustível e uma loja 24. entretanto e com esta paragem pela lua para recarregar baterias, conseguimos chegar a marte. a distância que encurtamos no universo é insignificante mas o feito em si é gigantesco.


entretanto continuará a haver guerras, mortes, fomes e epidemias até ao dia em que todos, mas todos, conseguimos olhar para cima.  

30.6.09

qual camus qual quê

às vezes apetecia-me... bem... não é bem "matar", não, não é isso... é mais como uma espécie de "ter poder sobre a existência de"...

28.6.09

citador de serviço

Assim, quando ele se calou, o primeiro pensamento de K. foi que o outro acabara de falar para lhe dar a possibilidade de admitir que era incapaz de o escutar.

Kafka, o processo, p.121

Quem possui a faculdade de ver a beleza, não envelhece.

Kafka do citador

31.5.09

memento

está só. à janela. confortavelmente sentado a beber e a fumar às escuras enquanto pensa na vida e é egoísta. olha a parede do edifício em frente e observa o pombo metido na sua vida, também só, a dormir na calha da janela. 

é de noite e o mundo social fervilha espalhado por todo o edifício, especialmente no terraço. ouve o burburinho longínquo interrompido aqui e além por uma gargalhada embrulhada numa bebida. vê-se às escuras naquela pequena sala desaparecida do resto do edifício, aquela sala que tão bem lhe conhece o íntimo. vê o lume do cigarro reflectido no vidro da janela aberta enquanto pensa que não lhe fazia mal nenhum ser mais disciplinado com o tabaco. 

este pensamento é imediatamente afastado por um impulso que o faz levantar da cadeira e inclinar-se sobre a janela. levanta-se, pousa a mão direita ao lado do whisky e a esquerda perto da água. tem que ter cuidado porque faz isto enquanto fuma e o álcool lhe desfoca os movimentos. inclina-se um pouco e olha a rua de cima. vê uma passada solitária ofuscada por um ligeiro casaco branco e fica a olhar cada passo ausente, de mãos nos bolsos, rua abaixo até desaparecer. 

as emoções tomam conta do momento e obrigam-no a lembra-se do mal que podem fazer à vida as emoções que despoticamente anulam qualquer réstia de bom senso que possamos achar ter. fica triste e a pensar no comportamento humano dominado pela emoção enquanto o bom senso fica aprisionado numa qualquer realidade metafísica. tudo o que veio a seguir é demasiado complexo para poder ser posto em palavras tão de repente como esta história foi contada.  

28.5.09

ele há grandes umbigos! (conversas de barrigas)

O meu umbigo é maior do que o teu!

O tamanho do meu umbigo diz pouco de mim… pouco me interessa se é maior ou menor do que o teu.

Tá bem mas um umbigo maior vê-se melhor, vê-se de longe!

Um umbigo maior ocupa mais espaço e torna-te numa barriga menor.

a mais nova do clã em dias de páscoa

27.5.09

4.5.09

a citação de hoje também fica aqui e em português

a paciência e a perseverança possuem um efeito mágico perante o qual as dificuldades desaparecem e os obstáculos evaporam. 
john quincy adams

3.5.09

a tristeza da semana


parece que houve consenso... vindo do cds, psd, ps e pcp até nem é estranho, agora do be e dos verdes... quer dizer... é do tipo: - sr. louçã, tome lá uma mala com um milhão para ver se é desta que arrasamos com o sistema capitalista que está montado neste país.  ou então, - tomem lá um milhão ó verdes que é para ver se conseguem a independência do pcp e se tornam na segunda força mais votada à esquerda. tá certo...  

se qualquer cidadão deste povo se atrever a fazer uma transacção superior a 9.000€ em dinheiro, sujeita-se a levar com um processo crime, mas os partidos, escolhidos pelo povo para o representar e detentores do poder legislativo em seu nome, redigem, discutem e aprovam uma esta lei em tempo recorde e à porta fechada... parece que houve um deputado (são 230!) do ps que votou contra... coitado...  

1.5.09

focus

já que somos seres sociais mais do que as formigas, já que somos capazes de pensar enquanto apreciamos a ordem das coisas, enquanto contribuímos com trabalho para uma eficaz e produtiva ordem das coisas, já que assim é (e mesmo que quiséssemos não nos conseguiríamos ver livres daquele que segura na mão, na folha da navalha, o reflexo do sol que nos atinge em cheio nos olhos e que nos dá vontade de o matar). já que não somos deuses capazes de criar o nosso mundo perfeito pessoal, então - digo eu a tentar lembrar-me de não me esquecer – focus! é preciso reflectir, discutir e determinar o que é realmente importante! seja a dois, a quatro, a seis, seiscentos ou a seis mil, interessa não perder da perspectiva o focus.


para nos conseguirmos focar naquilo que consideramos importante, é fundamental que não percamos o norte, que não nos alienemos, que saibamos sentir com o coração e pensar com a cabeça e não o contrário. saibamos afirmar-nos, sim, saibamo-lo fazer discutindo o eu e o tu, o nós e o vós. saibamos ouvir mas façamo-lo com os ouvidos de quem escuta e não com os ouvidos de que tem que o ouvir. se não for assim, não vale a pena ouvirmos.

é claro que as coisas não são assim tão simples. não o são exactamente porque pensamos, porque às vezes não queremos ou não conseguimos parar de pensar. às vezes também não dizemos exactamente o que pensamos ou então dizemos as coisas sem pensar. há ainda aquelas vezes em que não sabemos dizer o que pensamos ou, se sabemos, somos mal entendidos. depois, claro, no meio disto tudo as nossas emoções, aquilo que julgamos ser o nosso coração, a nossa alma, o nosso querer, a nossa vontade, o nosso pessoal mundo perfeito.


no meio disto tudo pode ser difícil haver focus, pode, mas temos no meio disto tudo a razão de tudo isto.  às vezes não precisamos de a procurar porque ela está lá, sempre esteve. não temos que fazer de tudo uma busca epopeica em nome de um ideal, em nome de um ideal social - como diz o outro - e de um ideal pessoal - como dizemos nós.     

23.4.09

no futuro - alternate take

no futuro, a telepatia será uma ciência universalmente reconhecida. no futuro não haverá qualquer guerra em nome de deuses, de terras ou d’outra coisa qualquer. ninguém morrerá à fome e toda a gente terá um telhado para se abrigar. no futuro, o planeta terra será apenas o primeiro, o originário e o original da espécie. no futuro, o inglês será a língua universal e a primeira a ser aprendida na escola. no futuro, as nações unidas terão o poder pleno e supremo sobre a humanidade e os governantes serão os seus maiores filantropos e altruístas. o ser humano perderá os pêlos, os dentes e os dedos dos pés. a cor da pele será a mesma para todos: qualquer coisa acastanhada entre o preto e o branco. no futuro, o valor do dinheiro será substituído pela consciência e não saberemos o que significa a liberdade porque não haverá prisões. no futuro, o desafio não será evitar que as espécies animais se extingam mas saber quantas delas há muito extintas conseguimos trazer de volta. o futuro mostrará que estou certo… e errado.  

15.4.09

32

aos dois parece que me atirei para o meio de uma fogueira.

aos doze, o sexo oposto começava a despertar lados meus que desconhecia. comecei a entender o conceito de grupo de amigos. comecei a fazer as primeiras merdas dignas do nome. comecei a tirar negativas a matemática. comecei a ler livros do sherlock holmes.

aos vinte e dois estava-se a acabar a boa vida, a vida livre de qualquer preocupação que não a escola. o mundo era grande e todo meu. eu estava pronto para ele, cheio de força para o agarrar com unhas de dentes e trocar-lhes os pólos caso fosse necessário.

aos trinta e dois, a vida de adulto é complexa e facilmente me desiludo com a humanidade. mesmo assim, sinto que há um caminho e há à minha volta quem caminhe no mesmo sentido. sinto que é preciso parar e reflectir sobre o que é realmente importante. sinto que tenho muito para dar e cada vez mais para aprender.

9.4.09

palcos

a partir do cliché shakespeariano sobre a vida e o palco e os actores que somos no palco da vida, obrigam-me o pensamento e a última hora de experiência de vida, a  perder  cinco ou dez minutos tecendo uma ou duas considerações de cariz pessoal-conservador-tipo-velho-do-restelo para dizer que não são só os actores (que frequentam cursos de ensino superior para o serem – actores – entenda-se), os políticos (que, fazendo-o ou não, o são), os juízes, os jornalistas e os padres, fãs dos palcos da vida. não, não são só estes os frequentadores assíduos e por direito dos palcos da humanidade. há-os por aí, humanos comuns sem qualquer formação em encarnação de personagens ou frequência regular de palcos, que são, por diversas razões, actores por inerência das circunstâncias (especialmente quando as circunstâncias giram em roda do próprio umbigo).


aqueles que se dão ao trabalho de partilhar gratuitamente uma qualquer matéria, um qualquer assunto, uma qualquer tese, teoria, explicação ou noção semelhante, têm, por direito próprio, lugar de destaque na sociedade do momento. a vontade, o poder, o trabalho e a exposição características de quem frequenta ou gosta de frequentar palcos, deviam ser, por si só, sinónimos de seriedade. não digo de qualidade que isso é relativo, mas de seriedade.


acontece que se perdeu – não se sabe onde nem quando -, nos momentos de palco, um certo sentido de responsabilidade. como se de repente estar num palco fosse sinónimo de passadeira vermelha em noite de óscar e ao actores, sedentos de atenção, encarassem a responsabilidade de quem está um degrau acima dos demais, como uma responsabilidade perante as luzes, as câmaras, os flashes e os comentários. quando estes actores perdem o tempo, os pensamentos, as palavras, os gestos e os olhares em tão materiais objectos, objectivos e objectivas, o palco, esse lugar acima do nível dos comuns mortais, perde de imediato quase toda a dignidade que o caracterizava aos olhos de quem sempre o viu como lugar – mais do que de destaque – de uma responsabilidade acrescida e assente na superioridade do nível do chão.

21.3.09

P

fica aqui uma prenda deZasseis dias antes do tempo... só precisei de uma foto muito desfocada...
(é melhor fazeres um pause até que o vídeo descarregue)

12.3.09

the simpsons - uma modesta homenagem

parece que foi ontem que começaram a ser exibidos no horário nobre da rtp2... mas foi há 20 anos e parece que acabaram de bater o recorde de série mais duradoura dos eua.  continuam a fazer todo o sentido porque rir ainda é o melhor remédio. há na fox 2 episódios por dia, 2 vezes ao dia. é só rir.

11.3.09

niilismo

o vazio sussurra o meu nome

enquanto o silêncio grita por mim

nada os faz parar

e eu

incapaz de os afastar

limito-me a esperar

pacientemente

que se cansem de me chamar

10.3.09

como se não bastasse... mais magalhães!

o magalhães foi a estrela de um show off partidário/governamental que serviu mais para desacreditar o produto do que para qualquer outra coisa. o magalhães tem sido um dos acessórios de recurso dos meios de comunicação para suprir a ausência de coisas importantes a comunicar. o magalhães tem sido vítima da sua própria popularidade, acessório de saloios carnavalescos, cruzada de juiz(o)es morais, recipiente de tinta e gastador de papel, o magalhães leva com tudo de todos. a última é um software instalado na “caixa mágica” (software livre baseado em linux) traduzido por um emigrante com a 4ª classe (a liberdade do software também paga o seu preço). o que é que andaram a fazer as gentes do ministério da educação, dos planos tecnológicos e das direcções regionais? não houve um único profissional com “disponibilidade” para passar a pente fino cada um dos softwares? parece que não…


mas

o magalhães é um produto totalmente made in portugal. melhor do que isso, é o primeiro sinal do séc. XXI a entrar em muitos lares. é a escola a acompanhar o ritmo da sociedade (deveria ser ao contrário? talvez… é a história do ovo e da galinha…). o magalhães é um computador pessoal (ao nível de outros ultra-portáteis do mercado) que não faz distinção entre classes ou estatutos. é para todos, basta que andem na escola.


no fim

é vê-los a todos a verem-me chegar, a olharem-me de olhos arregalados à espera que eu diga que podem abrir o computador e entrar no windows (que em português quer dizer “janelas”, porque cada caixa que abrimos é uma janela que nos mostra coisas do tamanho do mundo). o dia em que todos os professores entenderem o potencial de aprendizagem por detrás destes olhares, é o dia em que DE FACTO o séc. XXI chegou à escola. 

4.3.09

hoje, a citação do dia fica aqui

"não acredito que algum homem alguma vez tenha entendido alguma mulher desde o início das coisas".
h. g. wells (1866-1946).

15.2.09

apontamento sobre os lados positivos de duas tragédias

tudo tem vários lados. mesmo que só se revelem à posteriori, até os acontecimentos mais trágicos da humanidade têm o seu lado positivo. se pegar, por exemplo, na segunda guerra mundial e no george w bush, encontro os seus lados positivos. 

da segunda guerra mundial:
conhecer a dimensão da possibilidade bárbara de uma tragédia à escala humana assente em ideias tão patéticas como a definição de uma raça humana suprema, perfeita, governante e de origem mitológica (por exemplo). 
saber que entretanto é mais ou menos ponto assente que entre humanos (como noutras espécies da natureza) não há raças, só etnias.
conhecer as formas brutais de comportamento que somos capazes de usar na relação com um semelhante. foi tudo demasiado mau para que me esqueça daquilo que significa uma guerra mundial. 

do george w bush:
depois de um homem assim a dirigir a maior potência mundial, as gentes dessa potência ficaram preparadas para eleger uma mulher ou um afro-americano para os dirigir. elegeram o afro-americano que ainda há sessenta anos estava sujeito a ser queimado em frente da mulher e dos filhos ou, na melhor das hipóteses, tinha lugares específicos nos bancos do autocarro, casas de banho, restaurantes ou lojas só para ele e os da sua etnia. este afro-americano, se tivesse vivido durante a segunda guerra, teria tido o direito de morrer “pela pátria” como um humano, cidadão e soldado de segunda. 

5.2.09

a propósito de princípios

gosto de princípios.

gosto de os ter e de os reconhecer quando os vejo.

gosto da solidez com que sustentam essa coisa vaga chamada personalidade.

gosto deles edificantes sem que sejam estanques.

gosto de saber que os princípios me acompanham pacificamente nesta aventura que se chama crescimento.

camaradas na adaptação (biológica, social, pessoal ou outra qualquer), os princípios são como que faróis em dias de nevoeiro ou cordas penduradas no abismo.

mesmo assim…

gosto ainda mais de saber que são eles que me pertencem, não o contrário.

gosto que não me digam quem sou nem como devo ser.

gosto de ser eu a gerir esta relação interior em função daquilo que considero justo, correcto, ou qualquer outro valor do mesmo calibre.


(por pensar como penso, não significa que não haja desequilíbrios de poder de quando em quando… às vezes saio a perder e outras vezes sou coisas que andam longe do justo ou correcto).  

29.1.09

william burroughs - the discipline of DE (do easy) by gus van sant (ou "a disciplina da calma" se me tivessem pago para traduzir o título)


"Do Easy é uma maneira de fazer. É uma maneira de fazer tudo o que fazes. Do Easy significa simplesmente fazer o que quer que faças da maneira mais fácil e relaxada que conseguires, que é também a maneira mais rápida e eficiente, como vais descobrir à medida que fores avançado na Do Easy." Assim começa o conto, que é uma espécie de filosofia de vida, que se "aplica a todas as operações processadas dentro do corpo... Ondas cerebrais, digestão, pressão arterial e batimentos cardíacos...", diz Burroughs.


do ípsilon para o youtube e depois para aqui.

22.1.09

outra vez sobre o poder...

às vezes o poder precisa de homens.
mas são mais as vezes em que homens precisam do poder.
o poder não corrompe, os homens é que são corruptíveis.
poder, é poder fazer, não poder ser.
ao trabalho, o poder acrescenta uma elevada dose de reflexão.
quem tem o poder, devia olhar mais longe do que quem o não tem.
que tem o poder, é maior no exemplo que dá.
ter o poder, é ter menos espaço para o erro.

21.1.09

hurt

hurt - johnny cash num original de trent reznor (nine inch nails)

14.1.09

merdices

as guerras matam

a fome também

até as estradas

o fazem bem


o poder corrompe

o dinheiro governa

e a mentira alterna

com a útil verdade


o medo intimida

o receio prende

e a dúvida decide

a vida por nós


usam-se máscaras

e fazem-se truques

treina-se a astúcia

no circo dos dias


cultiva-se o ego

em nome da treta

porque dá trabalho

vermos quem somos


acusamos, julgamos

criticamos e culpamos

fazemo-lo com a ligeireza

que só é digna dos deuses