13.12.08

o que se ouve dizer quando se pedem histórias a quem as viveu

no outro dia, ouvi dizer que durante a ditadura os bastões da gnr tinham a simpática alcunha de cavalos marinhos...

também ouvi dizer que havia uma cela (não me lembro se em caxias ou peniche) que enchia ou esvaziava consoante a maré...

parece que havia mesmo aquele género de tortura em que enfiam um corpo no meio de uma estrutura apinhada de pequenas estacas de ferro bem afiadas e coladinhas à pele... parece que não dava para um gajo se mexer...

chegaram a prender gente durante dez anos só porque a encontravam na tasca a conversar sobre os papeis que tinham aparecido espalhados pelas ruas da aldeia... tais eram as preocupações ambientais...

parece que houve até episódios com meia dúzia de gajos pendurados de cabeça para baixo durante horas... parece que isto acontecia com maior frequência durante as horas de verão... parece ainda que havia uma senhora que trabalhava nos serviços de limpeza da prisão que, nestas ocasiões e durante a hora de almoço dos brincalhões, ia passar um paninho molhado pela cara da rapaziada que ficava ali a não apreciar muito a brincadeira... parece que alguns não aguentaram a brincadeira...

não há por aí ninguém que queira tirar a limpo estas histórias e fazer um filme cheio de episódios destes? o filme podia até nem se chamar crueldade...

8 comentários:

n disse...

Vim toda curiosa ler o texto pq me disseste que eu deveria gostar.
Mas a nossa escrita é alfabética!
Please, preciso do código para ler este texto.
Beijinho.

sr disse...

e há quem já esteja a fazer um filme com isto tudo... lol

ARV disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ARV disse...

O que autor queria dizer, presumo, seria isto:


"no outro dia, ouvi dizer que durante a ditadura os bastões da gnr tinham a simpática alcunha de cavalos marinhos...


também ouvi dizer que havia uma cela (não me lembro se em caxias ou peniche) que enchia ou esvaziava consoante a maré...


parece que havia mesmo aquele género de tortura em que enfiam um corpo no meio de uma estrutura apinhada de pequenas estacas de ferro bem afiadas e coladinhas à pele... parece que não dava para um gajo se mexer...


chegaram a prender gente durante dez anos só porque a encontravam na tasca a conversar sobre os papeis que tinham aparecido espalhados pelas ruas da aldeia... tais eram as preocupações ambientais...


parece que houve até episódios com meia dúzia de gajos pendurados de cabeça para baixo durante horas... parece que isto acontecia com maior frequência durante as horas de verão... parece ainda que havia uma senhora que trabalhava nos serviços de limpeza da prisão que, nestas ocasiões e durante a hora de almoço dos brincalhões, ia passar um paninho molhado pela cara da rapaziada que ficava ali a não apreciar muito a brincadeira... parece que alguns não aguentaram a brincadeira...

não há por aí ninguém que queira tirar a limpo estas histórias e fazer um filme cheio de episódios destes? o filme podia até nem se chamar crueldade..."

João disse...

... era isso... obrigado ARV

n disse...

Obrigada ARV.
Obrigada K por nos teres contado as histórias de ouvir contar.
Não há palavras. Foi isso e muito mais!
Sobre os filmes da crueldade já há alguns.
E às vezes a crueldade aparece de uma forma tão subtil!
Abraço grande.

MRsK disse...

imagina que por teres ido ali ou acolá, beber um café, para estar com os teus amigos e pôr a conversa em dia, simplesmente por isso, até possivelmente por teres dito um nome e alguém ter percebido outro, simplesmente por isso, és procurado, enjaulado, obrigado a passar as horas de maré cheia com metade do teu corpo imóvel e submerso em água fria. tu, que vês as cores do dia e das pessoas, tal e qual como eu... apenas com a diferença de estares noutro local à mesma hora, talvez até a pôr a conversa em dia também...
imagina a frustração, a impotência, a desprotecção em simultÂneo com uma tentativa - dia após dia - de manter o pensamento intacto, são, livre.
pensa agora nas reacções defensivas e exageradas que nós temos, hoje, seres humanos nesta nação, quando, por exemplo, apenas ao longo de um pequeno minuto do dia, nos enraivecemos com alguém que entra (até talvez no mesmo) café e é atendido antes de nós, ou quando não temos um sim imediato quando queremos, ou quando, tão simplesmente, alguém comenta em contrário o nosso argumento...
obrigada pela partilha do testemunho ;)

viva o 25 de abril!

(não percebo o que se passa com a letra, não consegui alterar, está enorme..:/)

beijo

MRsK disse...

ps: não é que eu goste muito de exemplos pela negativa... mas depois de ler o post (várias vezes, porque às vezes não processo logo tudo...) surgiu-me este pensamento e não pude deixar de o partilhar :)