quando os dias nos fazem procurar os amigos e as noites se nos embrenham pelos ossos adentro, é na calma caseira que encontramos o abrigo comum. se no sítio público o barulho nos enche os tímpanos, o fumo nos entope as narinas e os estranhos são demais, é em casa que nos encontramos com a paz, é no encontro planeado ou espontâneo, no convívio caseiro, no aperitivo, no jantar, na sobremesa, no café e no digestivo, que nos vemos gratos por nos sentirmos recheados de tanta amizade.
à medida que vamos crescendo e a exigência nos torna senhores do momento, é nesta partilha caseira que nos sentimos mais próximos dos que estão connosco, que rimos e choramos como se a familiaridade do encontro nos permitisse uma entrega descomplexada e sem vícios. são momentos em que nos entregamos ao olhar do outro e nos deixamos embalar pela som da sua voz, são momentos em que aprendemos e ensinamos, somos adultos e crianças, somos mais humanos. é verdade que continuamos a apreciar a agitação do café, da esplanada ou do bar, contudo, é em casa que mais facilmente nos sentimos completos, nos entregamos e recebemos de braços abertos e sorriso largo o que de melhor nos possa chegar de quem aprecia a nossa companhia. mais do que a jantarada (que é a desculpa para coisas melhores), é no encontro, na partilha, no convívio, na tertúlia, na música a condizer e no brinde, que se encontra a alegria de momentos únicos vividos em comum.
o sérgio godinho diz que “a vida é feita de pequenos nadas”, pois bem, são pequenos nadas como estas pequenas jantaradas que nos fazem crescer ao lado daqueles de quem gostamos e nos fazem amar a vida como ela é: simples, familiar e sem merdas.
2 comentários:
Poderia ter sido outro o contexto que te levou a escrever este texto, mas o leitor ( eu)transporta as palavras escritas para a sua própria experiência.
E pensei no nosso jantar, e em nós, e digo-te que são "estes pequenos nadas", que já não são assim tão pequenos como isso, que vão enchendo as nossas vidas e nos vão preenchendo.
Já chorámos, já rimos, comemorámos, preocupámo-nos uns com os outros, alegrámo-nos uns com os outros, e sobretudo, como tu dizes "crescemos uns com os outros".
Acreditas se te disser que olho agora a minha casa com outros olhos, já não a sinto vazia, provavelente porque já não me sinto vazia, porque agora tenho com quem rir e com quem chorar, tenho com quem falar, de forma familiar e simples, de quase tudo, sem merdas.
Obrigada João
:D
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