6.9.06

pequeno apontamento sobre o jogo da sedução

o jogo e o absoluto desconhecimento das regras do outro jogador, tornam o jogo da sedução num perfeito trapézio sem rede. fala-se na primeira e na segunda pessoas, dá-se o melhor que se pode e sabe e nem mesmo assim se sonha com os trunfos do outro. fazem-se apostas, perde-se e ganha-se e mesmo assim não se adivinha quem vai à frente na pontuação. quando os dois são estranhos, o jogo é mais justo, quando, pelo contrário, (pelo menos) um dos jogadores já “conhecia” o outro, as coisas assumem desde logo proporções de injustiça. neste jogo, a surpresa, o engano, o bluff, os olhares, os sorrisos e os gestos, assumem o papel do desequilíbrio e dão vantagem a quem melhor controla o conjunto destas variáveis. no essencial e quando o prazer de jogar é assumidamente mútuo, ninguém perde e acabam os dois por ganhar. o grande problema prende-se exactamente com o desconhecimento das regras pelas quais o outro jogador se rege. há sempre um clima de insegurança que os dois vão alimentando na tentativa de guardar para si o trunfo que poderá decidir a vitória. quando os dois têm consciência disto tudo, o jogo torna-se num vício.

2 comentários:

ana disse...

Deveremos nós intelectualizar assim tanto a sedução? Não sentes que lhe podes tolher a magia?

João disse...

escrever poesia não é intelectualizar os sentimentos?

aquilo a que tu chamas magia, eu posso chamar de jogo. embora pareça que despromovo a sedução usando esta metáfora, não é o que acontece, pelo contrário, este pequeno apontamento acaba por ser um elogio à capacidade que o ser humano tem para brincar aos mágicos.