24.9.06

a música em K

K gostava de regressar à escrita para se repetir na música. gostava de se repetir nas palavras e na grandiosidade que lhes atribui quando fala de música. como se a sentisse um tapete da alma num conto d'as mil e uma noites, vive na música os voos que sem ela seriam com certeza mais rasteiros. tem-na quase sempre por perto e trata-a como se um plano de fundo se tratasse, como se a música lhe preenchesse as manchas brancas de cada cenário ou os intervalos de cada filme. dedica-lhe mais ou menos atenção consoante esses cenários, os seus tempos, as companhias ou o estado da solidão.
às vezes é ele que escolhe o que ouve, outras vezes é a música que lhe molda o espírito. quando não a ouve, vive mais atento nas coisas terrenas, mais con(centrado) nas coisas da vida vivida. quando lhe é imposta, espera pelo menos que não lhe bata mal nos tímpanos nem lhe caia mal no âmago. ouve de quase tudo, da violência da guitarra eléctrica distorcida do rock à planura do piano numa sonata, ouve cada música como se sentisse constantemente embalado pelo vai e vem de uma cadeira de baloiço. sente o coração a acelerar ou abrandar consoante a sonoridade se vai tornando mais penetrante ou mais envolvente e deixa-se levar nos sentidos guiados pelo som.
desde que se lembra que a tem como companheira de viagem nos bons e nos maus momentos, sempre se serviu dela para projectar na curva de cada onda sonora a aproximação ou afastamento a um pensamento, a uma emoção ou a um sentimento.
muito mais se poderia escrever sobre o bem que a música lhe faz… mas K não quer mais repetições ou exageros no elogio à música... enquanto seu escrivão, nada mais me resta a não ser respeitar a sua vontade e parar por aqui a descrição de uma parte da música em K…

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