16.11.06

ficção

O despertador toca, o som é violento e fá-lo descolar as pálpebras, sente que acabou de aterrar no planeta terra caído de uma outra galáxia. Acorda sozinho, há duas semanas que é assim, tem tido pouca vontade para conquistas de fim de semana, não lhe tem apetecido nenhuma das duas parceiras sexuais disponíveis. Tira o braço de baixo dos cobertores e procura o botão certo com a ponta dos dedos, é o maior à esquerda na face superior do despertador, encontra-o e pressiona-o. Agora sim, consegue abrir os olhos por completo, a violência deixa de ser auditiva para ser visual, pisca os olhos várias vezes e à pressa, respira fundo e olha os orifícios da persiana que deixam entrar a claridade que se vê, não há sol, não vê a luz dos orifícios reflectidos na parede do quarto à sua esquerda. Deve estar frio, pensa, que merda. Perde dois minutos a pensar no fato que vai usar, perde mais tempo a decidir que gravata há-de pôr com aquele fato. É o fato azul-escuro e a gravata bordeaux-claro, a camisa é branca e os sapatos são os do costume. Mais negro que o normal, “caga nisso” é a expressão do seu pensamento. Já tem a roupa no corpo, já tomou banho, já fez a barba e já mastigou as torradas, engoliu-as com a ajuda de um sumo de laranja natural. Está pronto para sair, está na hora certa. Recolhe as chaves, a carteira e o telefone e espalha-os pelos bolsos do casaco. Lá fora deve estar frio mas não o bastante para pensar num casaco mais quente, não chove e por isso não pensa no guarda-chuva. Agarra a pasta de pele preta e aspecto sólido e dirige-se para a porta, já do lado de fora certifica-se uma última vez que tem as chaves de casa no bolso delas, vai tirá-las já a seguir, fecha a porta e atravessa a estrada, já tem as chaves na mão e procura o botão para desbloquear as portas, acendem-se quatro luzes e ouve-se um som que parece dizer “afirmativo!”. Entra no carro, pousa a pasta no banco do acompanhante, a chave na ignição, roda-a e ouve-se o motor, logo a seguir é o rádio, na TSF até ao trabalho.

2 comentários:

ana disse...

work in progress... é o primeiro capítulo do teu primeiro livro, aposto! Gostei muito! Continua! Beijo.

João disse...

ana: work in progress indeed... deixa ver no que isto dá...

devil: andas lá perto... mas vou fazer uma coisa mais pequena, mais leve e mais modesta, claro!

gata: o personagem é meu e eu visto-o como quiser, além disso, se vais intervir só para dar opiniões de estética, sugiro que cries um blog para ajudar os amigos menos entendidos nessas coisas... eu tou lá de certeza!