2.11.06

ler e escrever, ter e ser

porque um homem não vive só de imagens, poesia, frases feitas ou canções, muito me apraz regressar à escrita como quem nela se encontra e lhe sente o aconchego aquecido por cada palavra, o aconchego da língua materna que nos espelha as interioridades.

pouco antes da deita, pouco antes de um despertar matutino como há muito se não via, pouco antes de regressar à escola, escrevo meia dúzia de frases. escrevo sobre o que por aí se escreve e se lê, escrevo sobre o prazer de quem se dá, o prazer de quem recebe e de quem usa a língua e o intelecto para espraiar as emoções. escrevo sobre o prazer de ler e ter um amigo aqui à mão, um amigo a quem nos aproximamos ansiosamente sempre que nos agarramos à setinha do computador para seguir a ligação do seu cantinho, sempre na esperança de lá encontrar algo de novo, um novo post, uma nova mensagem, uma nova partilha. é uma alegria ter amigos também aqui tão perto, nos “favoritos”.

quando leio, leio tudo. leio quem me lê e até deixo que me leiam sem que me escrevam uma palavra que seja. também sou capaz de ler sem escrever, é raro mas faço-o. quando escrevo, escrevo o que me apetece, sobre o que me apetecer. faço-o muito para mim, muito para tornar clarividentes uma ínfima parte das ideias que me passam pela cabeça. sei que sou lido, não sou indiferente a isso mas não é isso que me molda a escrita. às vezes sou parco em palavras que dizem muito, outras vezes digo mais.

aos que leio, conheço-os um bocadinho melhor, conheço-os na franqueza do que escrevem, conheço-os nas alegrias, nas tristezas, nas dúvidas e nas certezas, conheço-os no receio que não têm para esconder, conheço-os no que me dão a ler (também a mim). sou muitas vezes surpreendido com o que leio, surpreendido pelas emoções que me chegam em palavras, pelas sensações que o espírito alcança em leituras que começam vagas até que são lidas e relidas até à medula de cada texto, de cada frase, de cada palavra, vírgula ou ponto, até ao espelho de quem se me dá. há coisas difíceis de ler, há coisas simples de se entender, há desabafos, interrogações, mistérios, fascínios e exaltações, há histórias e memórias, há todo um mundo comunicativo altamente enriquecedor. por ler e escrever, sinto-me muito mais encontrado, sinto que tenho muito cá dentro e que muitos me habitam com uma grandeza inédita. é por isso que escrevo e é por isto que leio.

6 comentários:

lr disse...

k, mas tb é verdade que só lemos o que as pessoas acham que devemos ler. grande abraço

n disse...

É verdade João, carregar na setinha e ter ali à mão um aconchego tornou-se um hábito, quase um vício.
Mas este espelho de interioridades que conforta, tb faz doer, como se prevalecesse a lei da compensação, e para o conforto de uns fosse preciso o desconforto de outros. É a lei da vida.
Em relação ao conhecimento que tens dos actores, não tenho dúvidas, ao teu olhar atento é difícil fugir. Um abraço joão

MRsK disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
MRsK disse...

o que fazes, aqui e na vida, é espelhar para fora a toca de dentro das coisas, de ti e dos outros. isso assusta alguns, apaixona outros. mas é isso que nos mostras e, também por isso, és o joão.

sr disse...

só para dizer, que estás incluído nos meus "favoritos".

ana disse...

É verdade, lindo. Este mundo vasto dos blogs estreita-nos os laços e sentimo-nos acompanhados, nos sentimentos, nos pensamentos, nos andamentos. Um beijinho.