19.10.06

impressões

se uma imagem vale por mil palavras, será que quando traçamos a imagem de alguém que mal conhecemos, estamos em condições de dizer que temos mil palavras para esse alguém? duvido… é ponto assente que a primeira impressão tem um enorme peso nos juízos que (consciente ou inconscientemente) fazemos de alguém que acabámos de conhecer. a partir daqui e consoante a dimensão (profissional, sentimental, emocional, ocasional, …) em que passamos a enquadrar esse alguém, dedicamos mais ou menos tempo a conjecturar uma imagem, um perfil que nos garanta alguma segurança nos dados que retemos dessa pessoa. é também ponto assente que todos sabemos isto, sendo portanto perfeitamente natural que todos criemos resistências perante o contacto com um estranho. ora se assim é, se dois perfeitos estranhos se encontram exactamente no mesmo ponto de partida no conhecimento do outro, o mais certo é criarem-se imagens fictícias baseadas em suposições espontâneas que, por sua vez, se convertem em crenças infundadas ou, diria mesmo mais, em ilusões. durante este processo, há ainda o factor “sexto sentido” que, quer queiramos quer não, acaba por ter um enorme peso no interesse que o outro nos pode (ou não) despertar. este sexto sentido (de explicação difícil) é o mesmo que nos faz pensar e decidir se a primeira impressão foi boa ou foi má. no limite, acabamos sempre por fazer esta divisão estanque acreditando que raramente nos enganamos na primeira impressão que tiramos de alguém… poderemos estar certos como poderemos não estar…

6 comentários:

MRsK disse...

emoção=desejos, impulsos; pensamento=protecção, lógica, racionalização. um não existe sem o outro, embora possamos ocultá-los durante um tempo. será a primeira impressão o ajuste espontâneo (e ainda não elaborado)entre uma coisa e outra, quando perante alguém ou algo novo? e, se sim, devemos ficar por aqui, pelo esboço? e ainda, quanto pode ser confortável guardar apenas a primeira impressão? ou, por outro lado, como cuidar e manter uma primeira impressão boa? exercício bom, mas difícil...:)

João disse...

análise muito interessante, muitas perguntas e algumas certezas ("=") questionáveis (especialmente na hierarquia "protecção»lógica»racionalização)...

MRsK disse...

e quando não temos uma impressão consciente do outro? quando nos confunde, porque espelho?

drago disse...

Como é dificil e turtuoso o processo de construção da imagem de alguém. A triste e simultaneamente compreensivel necessidade de ter certezas, que nos aliviam, quando nos deparamos com o desconhecido da presença de um novo ser, a que, de forma grotescamente simplificada, chamarei de preconceito, parece ser antes de mais uma projecção (a vários niveis) do sujeito que uma absorção da luz da imagem do conhecido. Parece ser um processo incontornável. Só quando imagem se anima é que se procedem a reajustamentos que confirmam ou redesenham os traços da imagem inicialmente impressa.
Pode demorar segundos ou uma razoável eternidade. Emoção e razão jogam um jogo infernal que tem muito a ver com a capacidade que, num processo de conhecimento mutuo, temos (ou vamos tendo) de nos deixar penetrar. Esse esforço para ir um palmo além de nós ou de permitir aproximações já dentro do espaço de protecção vital é simultaneamente fascinante e doloroso e deixará marcas duradouras.
Primeiras impressões são inevitáveis. Justas, raramente...
Por mais que não seja porque ainda que disponiveis que estejamos para o encontro, em maior ou menor escala, sempre avançamos para o desconhecido com um escudo no peito.

n disse...

e é assim... já percebi. Os posts do drago são publicados nos blogs dos amigos.
Mas porque não escreve este homem, Deus meu?

João disse...

boa pergunta n...