28.9.06

pessoas assim

são bonitas as pessoas simples
são genuínas e muitas vezes puras
são-no mais vezes do que o normal
mais felizes do que as outras que são duras

fazem-nos sentir como Humanos que somos
fazem-nos abandonar tudo o que é acessório
fazem-nos sentir tudo o que somos e já fomos

esquecemo-nos do mundo com pessoas assim
e somos completos no meio de pessoas assim

try walking in my shoes

i would tell you about the things they put me through
the pain i've been subjected to
but the lord himself would blush
the countless feasts laid at my feet
forbidden fruits for me to eat
but i think your pulse would start to rush

now i'm not looking for absolution
forgiveness for the things i do
but before you come to any conclusions
try walking in my shoes
you'll stumble in my footsteps

keep the same appointments i kept
if you try walking in my shoes

morality would frown upon
decency look down upon
the scapegoat fate's made of me
but i promise now,
my judge and jurors,
my intentions couldn't have been purer
my case is easy to see

i'm not looking for a clearer conscience
peace of mind after what i've been through
and before we talk of any repentance
try walking in my shoes

"wallking in my shoes"
depeche mode

26.9.06

moment


esta imagem, como muitas outras, interessa mais pelo momento em si do que por qualquer outra razão. se repararmos com atenção, há quatro rapazes em perigo iminente, em risco de cair e se magoarem seriamente. o quinto, o mais novo, tapa a luz com a mão para poder ver com mais clareza e menor esforço as movimentações “estranhas” que acontecem no seu recreio (é o fotógrafo a procurar o melhor enquadramento para os cinco rapazes que brincam). no fim, nenhum dos quatro se magoou e o quinto regressou à brincadeira.

cinco minutos, cinco à mesa e um encontro

o nosso personagem encontra-se sentado de frente para a porta na companhia de dois amigos, um copo de whisky e um copo fresco de água do luso em cima da mesa. ela entra acompanhada por uma amiga que caminha atrás dela. olha várias vezes em volta à procura do melhor cantinho para se sentarem as duas, mas a meio das voltas de olhares encontra um conhecido, um amigo, um colega de turma dos tempos da universidade.
o nosso personagem vê-a aproximar-se mas continua a duvidar que um dos dois amigos com quem está, lhe é comum a ela. deixa de ter dúvidas quando os vê sorrir ao mesmo tempo que se olham para se cumprimentarem e nessa altura repara que é capaz de ouvir o coração a bater caso decida escutá-lo… endireita ligeiramente a coluna e desencosta-a das costas da cadeira, põe as duas mãos em cima da mesa, olha para ela, para o whisky e para a água e fica indeciso sobre qual dos copos há-de agarrar.
ela está de pé, de lado para ele enquanto conversa com o amigo em comum no único lugar vago de uma mesa onde se sentam três. ele olha-a de frente, olha-a sem pudor e com o prazer de quem olha a beleza feminina como ela é. esquece-se do segundo amigo (que entretanto deve estar tão apreciador quanto ele) e olha-a assumidamente, obviamente e interessadamente enquanto escuta a sua voz que é calma, doce e baixa mas não demais. é uma voz que se ouve a vir desde o fundo das cordas vocais. quando a vê sorrir para o amigo e sente no sorriso a sinceridade de quem o faz naturalmente e sem artifícios, o interesse sobe na hierarquia e torna-se numa vontade.
interrompe a conversa que ela mantinha com o amigo em comum há um par de minutos, dirigindo-se ao amigo no tom brincalhão de quem acha muito pouco cavalheiresca a ausência de um convite para que a amiga se sente à mesa. é ela quem responde lá do alto de quem se encontra de pé e, apontando com olhar para a amiga que entretanto se havia sentado numa mesa nas costas do personagem, lhe diz que está com ela. ele volta o pescoço e vê a amiga sentada, sozinha à espera, volta-se novamente para ela e diz-lhe que também a amiga será bem vinda à mesa.
depois destes cinco minutos, movimentaram-se corpos, olhares, cadeiras, copos e, a mesa, que dantes tinha três, passa agora a ter cinco.

25.9.06

ue detail

solidão

não nos devemos sentir sós na solidão, não a devemos olhar como um bicho papão que nos rapta do mundo e nos encerra dentro de nós próprios. não nos devemos afastar do prazer e da utilidade que ela nos pode trazer: o encontro com tudo o que somos. sem a solidão, dificilmente nos reconheceríamos e encontraríamos o nosso lugar num mundo povoado por gente desencontrada, confusa, alienada, amedrontada, iludida, falsa, escondida, mascarada, perdida… sem o abrigo da solidão e o reencontro com tudo o que somos cá dentro, seríamos mais uns assim, desnorteados. se não a procurarmos e ela nos for imposta, procuremos um amigo, um telefone e um café.

24.9.06

a escrita serve-me

serve-me muitas vezes a escrita para exercitar isso mesmo, a escrita. aproveito e uso-a para treinar o pensamento e desenhar um sentimento (mais ou menos importante) no branco do monitor. há quem diga que é uma terapia... poderá ser... mas é acima de tudo um prazer.

a música em K

K gostava de regressar à escrita para se repetir na música. gostava de se repetir nas palavras e na grandiosidade que lhes atribui quando fala de música. como se a sentisse um tapete da alma num conto d'as mil e uma noites, vive na música os voos que sem ela seriam com certeza mais rasteiros. tem-na quase sempre por perto e trata-a como se um plano de fundo se tratasse, como se a música lhe preenchesse as manchas brancas de cada cenário ou os intervalos de cada filme. dedica-lhe mais ou menos atenção consoante esses cenários, os seus tempos, as companhias ou o estado da solidão.
às vezes é ele que escolhe o que ouve, outras vezes é a música que lhe molda o espírito. quando não a ouve, vive mais atento nas coisas terrenas, mais con(centrado) nas coisas da vida vivida. quando lhe é imposta, espera pelo menos que não lhe bata mal nos tímpanos nem lhe caia mal no âmago. ouve de quase tudo, da violência da guitarra eléctrica distorcida do rock à planura do piano numa sonata, ouve cada música como se sentisse constantemente embalado pelo vai e vem de uma cadeira de baloiço. sente o coração a acelerar ou abrandar consoante a sonoridade se vai tornando mais penetrante ou mais envolvente e deixa-se levar nos sentidos guiados pelo som.
desde que se lembra que a tem como companheira de viagem nos bons e nos maus momentos, sempre se serviu dela para projectar na curva de cada onda sonora a aproximação ou afastamento a um pensamento, a uma emoção ou a um sentimento.
muito mais se poderia escrever sobre o bem que a música lhe faz… mas K não quer mais repetições ou exageros no elogio à música... enquanto seu escrivão, nada mais me resta a não ser respeitar a sua vontade e parar por aqui a descrição de uma parte da música em K…

22.9.06

killer love

get down, get down, little henry lee
and stay all night with me
you won't find a girl in this damn world
that will compare with me

i can't get down and i won't get down
and stay all night with thee
for the girl i have in that merry green land
i love far better than thee

she leaned herself against a fence
just for a kiss or two
and with a little pen-knife held in her hand
she plugged him through and through

come take him by his lilly-white hands
come take him by his feet
and throw him in this deep deep well
which is more than one hundred feet

lie there, lie there, little henry lee
till the flesh drops from your bones
for the girl you have in that merry green land
can wait forever for you to come home

and the wind did howl and the wind did moan
a little bird lit down on henry lee

"henry lee"
nick cave & the bad seeds
(feat. p. j. harvey)

21.9.06

o elogio da chuva

foram os anjos que choraram?
ou foi o céu que se rasgou?
algum deus que se zangou?
ou as estrelas derreteram
e correram
por aí abaixo?

eu não sei mas acho
que é algo de bom
esta água que cai

agrada-me
o som
e fica-me
o cheiro
de terra molhada,
a visão
de rua lavada,
a sensação
de alma refrescada,
e o paladar
doce e quente
de quem sente
na água que cai
a boca do céu.

20.9.06

no effects


há imagens que queremos ter para nós mas não sabemos exactamente como as enquadrar, insistimos e voltamos a insistir até acharmos que já não temos outros prismas a explorar, até nos cansarmos de repetir o "clic" da máquina ou até acharmos que sim, é esta, era esta a imagem que procurava.
esta foi a tentativa número 7 ou 8, encontrei-a ali enquanto passeava por pequenas memórias visuais da vida recente. fica aqui porque lhe devo isso, fica aqui pelos "clics", pelo tempo e pelo esforço na busca do enquadramento certo.
podia chamar-se "tronco velho embalado pelo guadiana e aquecido pelo sol de um dia de verão"... mas é um nome demasiado grande...

19.9.06

intimacy cats

encontros

quando os dias nos fazem procurar os amigos e as noites se nos embrenham pelos ossos adentro, é na calma caseira que encontramos o abrigo comum. se no sítio público o barulho nos enche os tímpanos, o fumo nos entope as narinas e os estranhos são demais, é em casa que nos encontramos com a paz, é no encontro planeado ou espontâneo, no convívio caseiro, no aperitivo, no jantar, na sobremesa, no café e no digestivo, que nos vemos gratos por nos sentirmos recheados de tanta amizade.
à medida que vamos crescendo e a exigência nos torna senhores do momento, é nesta partilha caseira que nos sentimos mais próximos dos que estão connosco, que rimos e choramos como se a familiaridade do encontro nos permitisse uma entrega descomplexada e sem vícios. são momentos em que nos entregamos ao olhar do outro e nos deixamos embalar pela som da sua voz, são momentos em que aprendemos e ensinamos, somos adultos e crianças, somos mais humanos. é verdade que continuamos a apreciar a agitação do café, da esplanada ou do bar, contudo, é em casa que mais facilmente nos sentimos completos, nos entregamos e recebemos de braços abertos e sorriso largo o que de melhor nos possa chegar de quem aprecia a nossa companhia. mais do que a jantarada (que é a desculpa para coisas melhores), é no encontro, na partilha, no convívio, na tertúlia, na música a condizer e no brinde, que se encontra a alegria de momentos únicos vividos em comum.
o sérgio godinho diz que “a vida é feita de pequenos nadas”, pois bem, são pequenos nadas como estas pequenas jantaradas que nos fazem crescer ao lado daqueles de quem gostamos e nos fazem amar a vida como ela é: simples, familiar e sem merdas.

18.9.06

olhares invasivos

às vezes sentem-se olhares nas costas, olhares que nos invadem sem que o queiramos ou deixemos, olhares que nos tocam sem que os vejamos, olhares às vezes incómodos, às vezes insignificantes, às vezes ignorados mas, todos eles, invasivos.
não me chateia a invasão inerente à própria exposição, não há nada a esconder e, portanto, invadem o que o que sou ou deixo ver sem que isso me aborreça verdadeiramente. o que me aborrece, isso sim, é o abuso, a presunção de quem acha que fica a conhecer melhor por invadir e continua a fazê-lo incessantemente, sem a mínima discrição ou respeito pelo espaço vital do outro, do outro e dos que vivem perto de si. serão provavelmente casos de pura ignorância, ausência de tacto, de savoir faire ou de outras demais limitações.
há, por outro lado, quem consiga ter a habilidade de invadir sem se fazer notar, sem se mostrar na multidão que está. nestes casos, o respeito é mútuo e a liberdade existe para todos na mesma medida, coisa rara mas interessante de se notar.
há ainda os que se mostram a invadir e não têm problemas nenhuns em o assumir, aprecio mais estes do que os primeiros mas menos do que os segundos. aqui, a frontalidade poderá ser tida como uma virtude perfeitamente desnecessária para o caso.
esta percepção dos olhares invasivos pode até ser exagerada na análise, contudo, ela será com certeza uma realidade que cada um entende da sua forma particular, de tal maneira que mais tarde ou mais cedo, aqui ou ali, cada um acaba por agir e/ou reagir (ou nem uma coisa nem outra) em função dessa perspectiva, perspectiva que é ainda influenciada pelo grau de importância que o invadido atribui ao invasor.

14.9.06

vivo

vivo ao sabor da chuva que recomeçou a cair
vivo em cada gota a vida que me cai do olhar
vivo na pressa de quem vai, para voltar a ir
e na certeza de quem aqui escreve só por falar

vivo as minhas noites antes dos dias
e tenho as madrugadas como guias
acordo e vivo antes de adormecer
vivo acordado até mais não poder

assim vivo e volto a viver
até a noite eterna chegar
que um dia me há-de vir ver
e nos braços me há-de levar

12.9.06

11.9.06

no mar

já no seu seio, este nosso caminhante encontra uma paz inédita para tão estranho mar. sente-se como se, por segundos, se visse a si próprio no reflexo das águas. são sensações novas acompanhadas por gigantescas doses de familiaridade, são momentos em que abraça este mar como se do céu se tratasse. sem perder a consciência do desconhecimento, o caminhante livra-se de qualquer peso que o possa atrasar dos ventos e correntes que o conduzem e encontra no mar em si, aquilo que o velho d’o velho e o mar encontra no peixe ao qual quer ganhar uma luta titânica. nunca na vida ele havia olhado com tão grande à vontade algo de tão novo, estranho e grandioso. por momentos, isso deixa-o pensativo… mas é só por momentos, logo depois, abandona-se à alegria da entrega pura e sem medidas e recebe do mar tanto ou mais do que aquilo que se sente a dar. sente-se preenchido por isso e vive a viagem deitado de costas nas águas, olhando o céu sem reservas.

8.9.06

a caminhada

depois de mais de um ano preso nas estepes siberianas, o nosso viajante resolveu arriscar e pôr-se a caminho. receia a dureza da caminhada mas não se assusta, poucas coisas o assustam, pensa ele. veste a mochila e abastece-se de água. arranca sem qualquer mapa ou guia e espera confiar no sol. sabe que é primavera e sabe que o nascente está a este, se resolver viajar de noite, confiará nas estrelas.
segue para sudoeste e caminha com um sorriso nos lábios, deixou a frieza na sibéria e começa a sentir a frescura de ambientes mais temperados. caminha sem parar e vai descansando quando isso é o mais sensato que há a fazer. dorme de noite ou de dia consoante a força do sono. todos os dias pensa na visão do paraíso que alimenta a sua vontade de caminhar em frente, sonha com ele quando dorme e vê-o para onde quer que olhe, sabe que faz o que pode para o alcançar e isso preenche-o. caminha numa primavera povoada de flores, árvores, cheiros de primavera e imponentes árvores que lhe dão a sombra do descanso. aproxima-se cada vez mais de climas quentes até que lhe começam a causar uma espécie de caos interior os conflitos e turbilhões do médio oriente, não é nada com ele e não se mete, desvia as suas atenções para as montanhas rochosas despidas de neve, há muito que não via montanhas quentes e despidas de neve. os cheiros frescos da primavera começam a ser escassos, sente que se vai aproximando cada vez mais de uma brisa quente e constante que o ataca de frente, virá a descobrir que é o deserto. quando de repente o encontra (ao deserto), encara-o de frente e diz-lhe que não tem medo dele, que já não é a primeira vez que caminha num deserto, que não baixará os braços e que caminhará pelo meio dele mesmo que no meio não encontre o paraíso, o oásis que havia sonhado lá encontrar. agarra as alças da mochila com as duas mãos perto dos ombros, inclina levemente a cabeça para a frente e dá o primeiro de muitos passos decididos. vê-se agora a atravessar o deserto, as esperanças de encontrar o paraíso prometido são cada vez menos, a preparação (para o pior) que trazia consigo, impede-o de se vergar às circunstâncias. faz um pequeno desvio para norte e sente o deserto a afastar-se, regressa para sudoeste e tenta uma última procura, sente que será a última porque se lhe esgotaram as forças da esperança. durante toda uma semana, deixa de ver o paraíso, nem uma miragem, nem um sonho. é o ponto de viragem. muda novamente de rota mas desta vez sem se preocupar com o destino ou a orientação. alguns dias depois desta viragem, dá consigo parado em frente a um enorme mar, já só pode seguir em frente se embarcar. está calor sem ser em demasia e sente o aroma fresco da água a misturar-se-lhe com a transpiração que lhe ocupa a pele. o mar deixa-o intrigado, interessado, embarca e envolve-se de ondas que lhe deixam a alma a flutuar como há muito não acontecia. está bem agora o nosso caminhante.

7.9.06

bem

- estás bem?
- muito bem, e tu?
- também
- ainda bem!

6.9.06

pequeno apontamento sobre o jogo da sedução

o jogo e o absoluto desconhecimento das regras do outro jogador, tornam o jogo da sedução num perfeito trapézio sem rede. fala-se na primeira e na segunda pessoas, dá-se o melhor que se pode e sabe e nem mesmo assim se sonha com os trunfos do outro. fazem-se apostas, perde-se e ganha-se e mesmo assim não se adivinha quem vai à frente na pontuação. quando os dois são estranhos, o jogo é mais justo, quando, pelo contrário, (pelo menos) um dos jogadores já “conhecia” o outro, as coisas assumem desde logo proporções de injustiça. neste jogo, a surpresa, o engano, o bluff, os olhares, os sorrisos e os gestos, assumem o papel do desequilíbrio e dão vantagem a quem melhor controla o conjunto destas variáveis. no essencial e quando o prazer de jogar é assumidamente mútuo, ninguém perde e acabam os dois por ganhar. o grande problema prende-se exactamente com o desconhecimento das regras pelas quais o outro jogador se rege. há sempre um clima de insegurança que os dois vão alimentando na tentativa de guardar para si o trunfo que poderá decidir a vitória. quando os dois têm consciência disto tudo, o jogo torna-se num vício.

4.9.06

a propósito de desenvolvimento humano

“the aspects of the environment that are most powerful in shaping the course of psychological growth are overwhelmingly those that have meaning to the person in a given situation”.

urie bronfenbrenner

3.9.06

dizem os astros

"on the favorable side, there exists a vast reservoir of creativity which could be successfully applied to such pursuits as writing and poetry."

- pronto, tá explicado!

http://www.astro.com/

não admira que haja tanta gente interessada (quiçá viciada) nestas coisas, senão vejamos:

"venus was in the third house of your horoscope at the time of birth. you are keenly interested in the creative arts, and your thoughts and words are surrounded by a halo of beauty, taste, and proportion. your mind actually feels the emotions connected with nature and the higher aspects of things human."

quem é que não se sente bem depois de ler coisas destas a seu respeito? (e estas nem são das mais elogiosas!)