Já roeu três unhas, não roeu mais porque entretanto apareceu um colega com documentação para ele analisar, ele disse que sim, que tratava já disso. Mas não, não está nem aí para a papelada, tem passado o tempo de site em site à procura de pormenores sobre o acidente da noite anterior. Ficou a saber o nome, a idade, a proveniência e outros demais pormenores de todos os intervenientes no acidente. Ficou a saber também que o outro condutor embriagado que fazia a corrida com o assassino, andava a monte, a fugir da sua quota-parte de responsabilidade no acidente.
Regressava-lhe à mente a imagem da criança de cinco anos, o horror, o sofrimento, o sangue, a crueldade, a impotência perante o inevitável, a morte dos pais nos olhares de despedida. Está pálido, tem vontade de sair do banco e correr sem destino até à fadiga, até ao fim do mundo e, aí, no fim do mundo, atirar-se de um precipício sem fim para nunca mais ter consciência de si. Mas não, não vai fazer nada disso, vai acalmar, está quase na hora do almoço, vai sair, almoçar e regressar para, desta vez, fazer algo de produtivo e deixar de pensar no acidente.
A tarde passa a correr, ele continua a fingir que trabalha, anseia por chegar a casa e trancar-se a ouvir música, a ler e a fazer festas à gata, a Bella. É isso que faz quando sai apressado da agência quase sem se despedir dos colegas. Está agora na segurança do seu sofá a ouvir os nocturnos de Chopin enquanto afaga a Bella ronronante no seu colo. A gata está lá em casa há dois anos porque o seguiu até lá numa noite de chuva em que ele regressava a casa já de madrugada, depois de uma noite de copos. Não conseguiu afastá-la, não teve coragem, além disso, estava demasiado inebriado para a afastar, não precisou de a agarrar, ela seguiu-o na rua, entrou no prédio e continuou a segui-lo durante as escadas que o levaram até ao segundo andar, depois da porta aberta, a gata, a Bella, ainda jovem, branca, preta, escanzelada e encharcada, entrou primeiro do que ele como se aquele apartamento fosse a sua casa, passou desde então, a ser mesmo.
Regressava-lhe à mente a imagem da criança de cinco anos, o horror, o sofrimento, o sangue, a crueldade, a impotência perante o inevitável, a morte dos pais nos olhares de despedida. Está pálido, tem vontade de sair do banco e correr sem destino até à fadiga, até ao fim do mundo e, aí, no fim do mundo, atirar-se de um precipício sem fim para nunca mais ter consciência de si. Mas não, não vai fazer nada disso, vai acalmar, está quase na hora do almoço, vai sair, almoçar e regressar para, desta vez, fazer algo de produtivo e deixar de pensar no acidente.
A tarde passa a correr, ele continua a fingir que trabalha, anseia por chegar a casa e trancar-se a ouvir música, a ler e a fazer festas à gata, a Bella. É isso que faz quando sai apressado da agência quase sem se despedir dos colegas. Está agora na segurança do seu sofá a ouvir os nocturnos de Chopin enquanto afaga a Bella ronronante no seu colo. A gata está lá em casa há dois anos porque o seguiu até lá numa noite de chuva em que ele regressava a casa já de madrugada, depois de uma noite de copos. Não conseguiu afastá-la, não teve coragem, além disso, estava demasiado inebriado para a afastar, não precisou de a agarrar, ela seguiu-o na rua, entrou no prédio e continuou a segui-lo durante as escadas que o levaram até ao segundo andar, depois da porta aberta, a gata, a Bella, ainda jovem, branca, preta, escanzelada e encharcada, entrou primeiro do que ele como se aquele apartamento fosse a sua casa, passou desde então, a ser mesmo.