30.12.06
29.12.06
ficção VII
O despertador não tocou, calou-o antes da hora marcada. Não ouve chover, está acordado há mais de meia hora e ainda não ouviu a chuva. Desde que tomou a decisão de se envolver na “notícia” que pensa na melhor forma de solucionar esta ansiedade em penetrar no contexto do acidente. É o assassino que lhe interessa, deve estar enclausurado, vai ser difícil a aproximação, vai exigir que se desloque à capital regularmente e em horários pós laborais. Ontem, antes de adormecer, pensou em várias hipóteses para estabelecer uma relação com o criminoso. Qualquer uma delas exige dotes de representação: pensou em fazer-se passar por padre, por jornalista ou um académico. Move-o uma vontade renascida de expurgar um ódio há muito escondido nas profundezas da alma, guardado no mais secreto dos confins da imaginação, na mais reprimida das emoções.
É esta energia renascida que o faz sair da cama num ápice, ligar a hi-fi, abrir o leitor de cd’s e pôr a cavalgada das valquírias a tocar. Toma banho, faz a barba, veste-se e toma o pequeno-almoço enquanto traça os planos para o padre, o jornalista e o académico. A ideia é escolher a hipótese mais viável e o plano mais realista. Pensa na importância da primeira abordagem, na confiança que desde logo tem que ganhar ao criminoso, nas viagens, nas falsificações de documentos, em todo o trabalho que uma credível encarnação de um personagem envolve e em todos os riscos que isso acarreta. Quando sai de casa e olha o céu cinzento e a calçada seca, tem já decidida a personagem que vai encarnar: um académico estudante de psicologia a fazer um mestrado ou doutoramento (isto ainda não decidiu) sobre constrangimentos morais em homicidas involuntários.
É esta energia renascida que o faz sair da cama num ápice, ligar a hi-fi, abrir o leitor de cd’s e pôr a cavalgada das valquírias a tocar. Toma banho, faz a barba, veste-se e toma o pequeno-almoço enquanto traça os planos para o padre, o jornalista e o académico. A ideia é escolher a hipótese mais viável e o plano mais realista. Pensa na importância da primeira abordagem, na confiança que desde logo tem que ganhar ao criminoso, nas viagens, nas falsificações de documentos, em todo o trabalho que uma credível encarnação de um personagem envolve e em todos os riscos que isso acarreta. Quando sai de casa e olha o céu cinzento e a calçada seca, tem já decidida a personagem que vai encarnar: um académico estudante de psicologia a fazer um mestrado ou doutoramento (isto ainda não decidiu) sobre constrangimentos morais em homicidas involuntários.
14.12.06
12.12.06
9.12.06
há quem, de facto, seja
"humildade? eu em humildade sou um campeão!"
gato fedorento
sketch: teste de bazófia
6.12.06
5.12.06
ficção VI
São onze da noite e ainda não jantou. A Bella sim, já teve direito a uma latinha de caça com cenoura, nem parece a mesma gata que o acompanhou até casa na noite em que ali se resolveu instalar, o preto do pêlo brilha, o branco parece algodão, já não se notam os ossos do corpo, tem as orelhas limpas e o nariz tem uma tonalidade rosada que lhe dá um aspecto de gatinha pequenina. Ele não come, não tem fome mas faz um chá e corta pão que dali a pouco está a saltar da torradeira. Senta-se em frente à televisão a comer e a beber, já está cansado de ver as notícias do acidente nos canais noticiosos, tem-na visto hora a hora nos diferentes canais, repetidas as entrevistas a familiares destroçados, a amigos e vizinhos do assassino (surpreendidos porque “ele até nem bebia muito…”), não conseguiram trazer a criança para as câmaras, não conseguiram apanhar o filho agora órfão, alguém teve o bom senso de o esconder de tudo isto, alguém achou que ter assistido a tudo deve ter sido o suficiente, alguém teve esse bom senso…. “O outro piloto continua a monte”, era sempre a última frase da reportagem.
Ele está cansado, as descrições do horror e do sofrimento ecoam-lhe sem cessar pela cabeça toda. Do ponto de vista das televisões a coisa funciona, o público gosta de ver os outros a sofrer, gosta de saber que estas coisas podem acontecer, que acontecem aos outros. Ele já desligou a televisão, faz-se silêncio ouve-se agora o ronronar da Bella no buraquinho do sofá que sobra entre o corpo dele e o braço do sofá onde ele descansa um braço. Lá fora chove a cântaros, tem sido um pára, recomeça, pára, recomeça desde que chegou a casa. Vai para o quarto, despe-se, trata da higiene pré deita, deita-se, tapa-se, ouve a chuva, a bela subiu para a cama, enroscou-se no lado de fora dos cobertores, encostada a ele. Ela adormece depois de ronronar durante cinco ou seis minutos. Ele toma uma decisão, vai envolver-se no acidente, vai querer excomungar de si próprio o pior que o habita.
Ele está cansado, as descrições do horror e do sofrimento ecoam-lhe sem cessar pela cabeça toda. Do ponto de vista das televisões a coisa funciona, o público gosta de ver os outros a sofrer, gosta de saber que estas coisas podem acontecer, que acontecem aos outros. Ele já desligou a televisão, faz-se silêncio ouve-se agora o ronronar da Bella no buraquinho do sofá que sobra entre o corpo dele e o braço do sofá onde ele descansa um braço. Lá fora chove a cântaros, tem sido um pára, recomeça, pára, recomeça desde que chegou a casa. Vai para o quarto, despe-se, trata da higiene pré deita, deita-se, tapa-se, ouve a chuva, a bela subiu para a cama, enroscou-se no lado de fora dos cobertores, encostada a ele. Ela adormece depois de ronronar durante cinco ou seis minutos. Ele toma uma decisão, vai envolver-se no acidente, vai querer excomungar de si próprio o pior que o habita.
4.12.06
surrealismo (só pode...)
- há amizades vs prioridades.
- há dessas coisas?
- há!
- e há verdades vs intimidades.
- também?
- parece-me que sim... que há-de ser verdade...
- ok... e Hades?
- Hades? hás-de ver que Hades, na mitologia grega, é o deus do mundo inferior, soberano dos mortos.
- só isso?
- só.
- e ás de... ás d'espadas? tem a ver com o uso da espada? um(a) ás? então porquê? porquê um(a) ás?
- tem a ver com as idades...
- ah sim?...
- sim, mas não falo das biológicas, falo das de dentro, das que se sentem.
- mmm... entendo...
- entendes?
- há dessas coisas?
- há!
- e há verdades vs intimidades.
- também?
- parece-me que sim... que há-de ser verdade...
- ok... e Hades?
- Hades? hás-de ver que Hades, na mitologia grega, é o deus do mundo inferior, soberano dos mortos.
- só isso?
- só.
- e ás de... ás d'espadas? tem a ver com o uso da espada? um(a) ás? então porquê? porquê um(a) ás?
- tem a ver com as idades...
- ah sim?...
- sim, mas não falo das biológicas, falo das de dentro, das que se sentem.
- mmm... entendo...
- entendes?
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