30.4.08
monty python: guarding the room
24.4.08
dia 15, 9 dias depois
chegou a casa. esperavam-no os gatos que se apressaram a sair do conforto do sofá para o cumprimentarem, ele pousou a mala, retribuiu o cumprimento e foi imediatamente para o quarto vestir uma roupa mais confortável: a camisola de um pijama, as calças de um fato de treino e, claro, os chinelos de quarto. logo depois, o escritório, a sua secretária, a cadeira desta, o computador, uma chávena de café e um cigarro exótico. é dia quinze de abril e apetece-lhe dizer qualquer coisa sobre isso, especialmente porque é o seu trigésimo primeiro aniversário. entretanto ela chega e vai quase imediatamente para a cozinha preparar o que há-de ser diferente neste romântico jantar de aniversário: a mousse de chocolate. ele, absorvido pela música, a escrita, o café e o exotismo do cigarro, regressa ao computador pouco depois de a receber. recomeça e quase que acaba o que escreve mas nesse dia não há-de escrever mais do que aqui se repete:
se me lembrasse de fazer um apontamento mais solene sobre o que significa ter 31, diria coisas com a mínima importância e o máximo significado. diria por exemplo que me sinto ainda uma criança que se deslumbra com as coisas mais simples do universo, como uma música, um poema, um sorriso, uma flor ou o canto de um pássaro. diria que me sinto uma criança num mundo menos ingénuo do que o meu íntimo e, ao mesmo tempo, um velho de olhar atento e ouvido sapiente, um velho ao sol num campo de alfazemas. diria ainda que sinto o mundo a correr mais depressa do que eu, e eu, serenamente, a desejar que o mundo não me atropele porque afinal de contas, o mundo ainda vem lá atrás. diria ainda, talvez para terminar - ou talvez não, que vejo todos os dias quem tenta alcançar a velocidade do mundo sem olhar aos que vão caindo pelo caminho, como se o mundo fosse só dos que correm velozmente, como se o mundo fosse só para duros. aos 31, vejo um mundo onde as diferenças interessam mais do que a igualdade, um mundo em que as pessoas se esquecem muitas vezes que andam todas à procura da mesma coisa: felicidade.
15.4.08
12.4.08
11.4.08
de repente, gente
saudades
tenho saudades
saudades de gente
de gente de quem gosto
de muita gente a quem quero
por querer ter essa gente sempre perto
perto de mim,
tão perto,
colada,
cá dentro,
esta gente
cara na cara, olhos nos olhos
esta gente
gente a quem há muito que não olho
gente a quem não sorrio há meses
gente que muito estimo e admiro
gente que quero comigo
sempre comigo cá dentro,
dentro no fundo de dentro de mim
9.4.08
de repente, meia dúzia de defeitos
sou um gajo com um péssimo feitio, os meus humores variam a velocidades alucinantes, tenho um péssimo acordar (especialmente se o fim do sono tiver chegado de surpresa), sou sério demasiadas vezes, distraído outras tantas e tenho uma péssima memória.
p'ra ti como se fosse domingo
falei-te ao telefone no fim de sexta e os “parabéns” pareciam querer saltar-me dos pulmões. dias antes, havia-te perguntado em que dia da semana calharia este ano, “domingo”, responderias tu. pois bem, domingo para um mundo inteiro e eu nada, mais uma vez, pela segunda vez (devo também ter-me esquecido das outras vezes em que me esqueci), falhou-me o dia, o dia em que não nos devemos esquecer de celebrar aqueles de quem mais gostamos. falhou-me esse dia outra vez, como outros me falharam e me continuarão a falhar. é um dom, sei-o agora, este gesto de falhar os dias “importantes” é um dom que se há-de repetir com a consequência da vergonha na sua mais intima manifestação.
seja como for e porque na viagem matinal a caminho do trabalho – de terça -me lembrei(!), quase vinte horas depois e o sossego essencial garantido, aqui ficam os parabéns por existires, os parabéns por seres quem és, os parabéns por tudo o que trouxeste ao meu mundo e ao meu ser.
2.4.08
a escola outra vez
pronto, é oficial, há um novo tema forte, uma nova moda noticiosa que vai durar mais uma semanita ou duas: indisciplina! violência na escola! pena é que o assunto tenha sido trazido a público a custo dos dramas pessoais de uma professora e uma aluna, do sangue suor e lágrimas de duas mulheres desgraçadas pela gracinha de um ou dois putos reguilas que filmaram e tornaram o drama público.
é, vamos ter indisciplina e violência por mais uns dias, vamos ter escolas a vender as notícias aos jornalistas, vamos ter minutos a fio de indisciplina e violência, vamos ter os testemunhos de quem vive de perto a notícia, vamos ter a análise de profissionais da educação, da saúde mental e, claro, a análise de profissionais da crítica.
é, vamos ter mais uns dias disto como se tivesse sido um choque para um país inteiro. um país de alunos indisciplinados, de professores mal-formados para lidar com alunos do século XXI e um país de pais que esperam que a escola ensine, eduque, proteja e mime os seu filhos. espera-se que a escola, além de ensinar, torne os filhos da sociedade em cidadãos exemplares, tá certo…
é, vai-se continuar a falar de violência e indisciplina mas o princípio do respeito, esse nobre princípio, vai continuar a ser acessório – se for - nas horas de notícias e teorias que ainda hão-de vir… é pena