19.7.07

pensar sobre o que sou, o que penso que sou, fazê-lo numa espécie de brainstorming e perder hora e meia com isso, deu nisto:

na vida, nunca nada chegou até mim dizendo-me “olha pá, estou aqui e, a partir de agora, vais ter que me ter na tua vida. mas está descansado, nos tempos que vierem far-te-ei feliz”. não, nunca alguma coisa na vida se me apresentou fácil.

sempre me esforcei por ser procurador em vez de procurado, por ser mais lutador do que apostador, mais pai do que filho. procuro não perder muito tempo a queixar-me da vida que tenho, prefiro ganhar esse tempo a “amar as coisas simples” (de entre todas as que a vida me dá).

sou fiel a mim próprio e procuro não enganar, falsear, mentir, magoar, injustiçar, desrespeitar seja quem for. procuro sempre guiar-me pelo pólo positivo do átomo que é a minha vida.

sou muito orgulhoso e tremendamente teimoso mas nada rancoroso.

aborrece-me a tristeza, chateia-me a minha e a dos outros. a ignorância preocupa-me, acho-a talvez o maior contributo para a lenta evolução do homem enquanto espécie. à estupidez olho-a com uma pequena dose de desprezo, talvez não despreze tanto outra coisa como desprezo a estupidez.

sou aparentemente calmo, analítico e paciente. sou muito mais paciente do que qualquer uma das outras coisas. sou muitas vezes brusco, bruto e ríspido. sou demasiado frontal bastantes vezes. procuro ser justo e facilmente admito o erro ou o engano. não me custa pedir desculpa e faço-o sinceramente quando o faço. nunca tenho duas caras.

(parece que) sou altamente expressivo e incógnito ao mesmo tempo. (parece que) tenho o fundo muito lá dentro, que me esquivo às mãos dos outros e que tenho uma tendência natural para me proteger do mundo, da vida e do outro.

quando pareço pouco descontraído, tenso até, é porque a minha mente e a minha alma estão longe do meu corpo, noutra dimensão se for preciso.

procuro ajudar a construir com o olhar posto do médio prazo em diante. não quero para amanhã o que depois de amanhã pode ser melhor. não cultivo o interesse a pensar no fim e no ganho. esforço-me por avaliar a humanidade (mesmo que não consiga) unicamente em matéria de desenvolvimento evolutivo (a ignorância tem um peso determinante na interpretação e conclusão a que chego).

tenho uma péssima memória. como se não bastasse ser selectiva, ainda é má… (este post vai dar-me imenso jeito quando quiser saber como pensava eu que era aos trinta:))

dos mundos do amor, do dinheiro, da profissão, da saúde e da sorte, o do dinheiro sempre foi de longe o pior, o mais instável; do da saúde – felizmente - nunca me queixei seriamente; o mundo da profissão - das profissões - só me dá a ganhar (mais em condição humana do que em dinheiro); do mundo da sorte não posso dizer mal porque me vai surpreendendo aqui e ali; do mundo do amor… bom, o amor é de longe o mais difícil de gerir no meio disto tudo.

sou complicado, amo as coisas simples mas parece que gosto de complicar. sou pouco prático no dia-a-dia e muito prático no pensamento. sou alguém com quem é difícil de se lidar. vejo-me grego para lidar comigo próprio.

fazer, pensar, construir e criar são quatro verbos que tento pôr em acção nas coisas em que ponho de mim.

é mais fácil ser convencido se não estiver em jogo um qualquer duelo. a meiguice facilmente derrete qualquer gelo ou icebergue cá de dentro.

sou bastante ingénuo. às vezes naturalmente, outras vezes porque é o mais cómodo (seja do ponto vista da emoção ou do intelecto). sou parvinho de vez em quando. sou parvo menos vezes (acho…). também sou capaz de ser estúpido, mesmo estúpido (e com isso sentir-me mal comigo próprio como poucas vezes me sinto).

os dilemas interiores impregnados de um carácter moral, sempre me deram muito trabalho a (di) gerir.

sou de processos lentos e detesto arrepender-me. demoro muito tempo a tomar uma decisão porque tento precaver qualquer factor que possa vir a fazer arrepender-me pela decisão que acabo por tomar.

inesperadamente (até para mim), de vez em quando sou impulsivo e atiro-me de cabeça sem pensar nisso. às vezes dou-me bem, outras vezes dou-me mal.

espero muito das pessoas, espero muito, especialmente daquelas de quem gosto, espero ainda mais delas quando as admiro. sou demasiado exigente com elas às vezes, crio expectativas altamente confiantes. acho muitas vezes que os outros gostam menos deles próprios do que aquilo que deviam gostar. também acho o contrário mas acontece-me muito menos vezes.

sou relativamente conservador em algumas coisas e aprendo todos os dias a ser cada vez mais tolerante com outras. encaro o mundo pelo prisma da “liberdade, igualdade e fraternidade”. luto por isso no pouco que posso. sou um homem de esquerda, republicano e laico.

(uffa!…)

já chega, já desabafei, já tive a minha terapia, a minha catarse, o meu momento de (re)criação, de pensamento feito palavras, de esboço de mim. fica aqui, assim como está.
(apontamentos de um vigilante florestal (VI) no início da madrugada mais ventosa, mais fria, mais solitária e mais triste).

5 comentários:

Pedro Sá Valentim disse...

Obrigado!

João disse...

era exactamente isso que que gostava de ter dito e não consegui, "obrigado!".

drago disse...

Tu és é uma pessoa...
Mas essa merda às vezes parece complicado - olha que é capaz de não ser...

João disse...

complicado é um gajo querer limpar o cú depois de cagar e não ter papel à mão!

ARV disse...

Num novelo de hora e meia, reflectiste bem mais do que os 10% do iceberg que se avistam à tona de água. Realizaste vários cortes sagitais e transversais. Levarás de uma vida inteira para uni-los através de pontos de intersecção, algo que considero um conhecimento sólido. Os gregos antigos tinham no oráculo de Delfos, consagrado a Apolo, uma insignia que apelava ao conhecimento de nós próprios. Alexandre também se sentiu atraído por esse desafio.