3.7.07

apontamentos de um vigilante florestal

1 de julho. 11 da noite. vigilância dia 1.

(lua)

mais uma lua cheia, hoje vejo-a no telescópio, mais perto, mais próxima. hoje como nunca, vejo-lhe as cicatrizes provocadas por colisões galácticas e observo todas as rugosidades do seu solo. assim, olhada de perto, parece menos pura, mais marcada pela vida, mais real, menos lírica, a lua.

(canso-me de mim)

como se não bastasse a solidão da torre e a imensidão da terra, para onde quer que olhe vejo-me a mim. revejo-me espelhado em cada vidro que me separa de tudo o que me transforma num vigilante florestal. varro consecutivamente o horizonte com olhar de predador, um predador em busca de incêndios. canso-me de me ver no reflexo dos vidros de cada janela, reacendo o cigarro e revejo-me outra vez no horizonte, antes das luzes que lá fora brilham enquanto cá dentro me volto a cansar da solidão obrigatória. meia hora e vou-me embora, 24 horas e estou cá outra vez. estamos cá, vigilantes da floresta.

4 comentários:

Anónimo disse...

nobre tarefa, essa, de vigiares as nossas florestas do inferno do fogo, é o que tenho a dizer.

MRsK disse...

Portugal agradece, vigilante *

sr disse...

cuidado com o cigarrinho!...

n disse...

de facto o teu olhar é mesmo "vigilante"!
Até as cicatrizes da lua não te escapam!
Bem escrito! Um abraço.
Não te esqueças dos TPC.