3.8.06

um estranho nesta cidade

tenho a sensação que esta cidade tem alguma dificuldade em me adoptar. sinto que por mais que lhe dê, ela não me acolhe, não me abre os braços e não me deixa repousar no seu colo. admiro-a desde sempre. desde que cá parei que não tive um único minuto em que me tivesse passado pela cabeça deixá-la. hoje, uma vez mais esquecido no seio das suas muralhas, sinto-me cansado do esquecimento, da ausência de reconhecimento e, acima de tudo, da falta de acolhimento.
tenho marcado a minha existência aqui pela luta em frente, pelo bem comum (esse conceito esquecido por entre avanços tecnológicos e outras mais revoluções). tenho trabalhado aqui e ali, já estudei e volto a fazê-lo, tenho procurado fazer bem o que faço, tenho-me mantido aberto a todas as aprendizagens que a vida, as pessoas e o trabalho me dão mas mesmo assim, esta cidade não me abre os braços.
sou mais uma vez um estranho de passagem, um estranho sem a segurança do seu poiso nem o descanso do caminho certo, um estranho sem (o seu) amor. um estranho mais uma vez entregue ao destino e aos caprichos desta cidade, um "sobrevivente", como alguém me chamou. mas a sobrevivência cansa... é talvez por isso que me sinto demasiado crescido, envelhecido até. estou cansado de (sobre)viver assim, cansado de tanto remar contra a corrente, de ser um vagabundo na cidade que desde o primeiro dia acolhi no coração como se de um amor à primeira vista se tratasse.
no outro dia, li nas palavras de uma amiga que "somos as nossas escolhas". sem dúvida que somos o fruto delas, dessas escolhas. talvez aí esteja o meu handicap, talvez não tenha sabido fazer as minhas, talvez devesse ter aprendido a não lutar contra o absentismo, o comodismo e a ignorância, talvez devesse eu próprio ter-me deixado aculturar pelas regras fáceis desta cidade, os seus costumes e a sua moral encravada entre cada pedaço de cada tijolo da muralha.
talvez seja eu, talvez seja a muralha, não sei mas hoje sinto-me angustiado por me sentir um estranho nesta cidade...

2 comentários:

n disse...

e são as coisas, as pessoas, os caminhos que procuramos, que escolhemos, que conduzem a nossa existência.
O mesmo homem que hoje se sente um estranho entre as muralhas da cidade, fora do tempo, do seu tempo, será acolhido amanhã, por outras pessoas, outras causas, outras sensibilidades, exactamente porque não deixou de ser quem era.
Lembra-te do muro, em cima e ao lado do qual não podemos estar em simultâneo.

sr disse...

Sometimes I feel like
I don’t have a partner
Sometimes I feel like
My only friend
Is the city I live in
The city of angel
Lonely as I am
Together we cry
...

by Red Hot Chili Peppers
Under The Bridge