30.7.06

(a mais bela e triste canção de amor)

when routine bites hard
and ambitions are low
and resentment rides high
but emotions won’t grow
and were changing our ways, taking different roads

then love, love will tear us apart again

why is the bedroom so cold?
you’ve turned away on your side
is my timing that flawed?
our respect runs so dry
yet there’s still appeal that we’ve kept through our lives

but, love, love will tear us apart again

you cry out in your sleep
all my failings exposed
and there’s a taste in my mouth
as desperation takes hold
just that something so good just cant function no more

but love, love will tear us apart again

ian curtis
(joy division)
love will tear us apart
1980

29.7.06

existência

"a existência penetra em mim por todos os lados,
pelos olhos, pelo nariz, pela boca..."
jean-paul sartre

25.7.06

um cigarro

um cigarro, um inimigo do corpo e amigo da alma. um companheiro na hora mais difícil que acabará por adiantar a hora em que tudo fica fácil e acaba.
num cigarro deposito o peso que me atrasa o pensamento e a emoção que me acalma o sentimento. com um cigarro tudo fica facilitado no momento da passa, no preciso momento do olhar vazio sobre o cenário do nada, no paladar do tabaco e no prazer do fumo. o cigarro é a minha muleta na doença do pensamento e a fuga para a liberdade na prisão do sentimento.
talvez um dia o abandone à porta da minha felicidade e deixe de ter nele o prazer da liberdade. quando assim for, se assim for, é bom sinal, é sinal que a alma, o sentimento e o pensamento, já não precisam do fumo para irem mais longe.

curtíssima (inacabada) em palavras

- atenção. câmera. acção!

tensão… surpresa… ilusão! frieza!

- corta. repete!

sensação… fragrância! emoção… ânsia…

- não, não, nada disso, repete se faz favor…
prontos? acção!

coração… rapidez! comichão… malvadez…

- ei, ei! isso é o quê?
vamos lá parar com isso e recomeçar tudo de novo se faz favor!

...

23.7.06

lx in fresco-painting

o silêncio

o silêncio
pode ser cúmplice na igualdade do nada
pode ser tudo num momento de guerra
pode levar-nos longe na conquista do céu
ou acabar por nos fazer cair por terra

o silêncio
cai bem às vezes
cai mal também
cai como cai
dependendo de quem

o silêncio
pode trair
pode ferir
sem sair
e sem cair

mas o silêncio
fica sempre bem
com quem
no silêncio nos tem

17.7.06

domingo negro descrito na primeira pessoa com o bónus da análise da coisa na terceira pessoa

domingo negro na primeira pessoa

vê-se logo que os últimos dois posts foram escritos num domingo. num domingo infernal, quarenta graus à sombra. vê-se logo que não é um domingo qualquer, que é um domingo negro, daqueles domingos que pesam mais do que qualquer outro domingo, daqueles domingos que ficam gravados na pele como se de cicatrizes se tratassem. o dia caiu-me em cima no preciso momento em que acordei. percebi logo nos primeiros segundos que aquele não ia ser um domingo qualquer… sem razão nenhuma (objectiva e clara, pelo menos) vejo-me acordado, a fumar o primeiro cigarro e a pensar na melhor forma de se apanhar um domingo assim sem ficar com grandes mossas. tá visto que fosse qual fosse o plano, a coisa não funcionou e a prova são os dois posts impregnados de soturnidade. ainda por cima, o post anterior havia sido escrito num momento de candura, daqueles momentos que nos fazem perceber a alma e corpo a sorrirem de mãos dadas enquanto olham o céu. mas isso já não interessa e o domingo até acabou por ser pródigo em trabalho (foi aí - já tarde - que acabei por encontrar solução para um domingo assim).

análise da coisa na terceira pessoa

curiosa a brusca mudança de tom nos três referidos posts. nota-se que o autor foi inconstante, de uma rapidíssima alteração de humores, saber-se-á porquê e daí talvez não… não vamos especular, limitemo-nos a olhar os factos e a deixar as suposições, afinal de contas, conversamos num icebergue. mas também não vale a pena perdermos tempo a pensar no que estas ou aquelas palavras poderão querer dizer porque temos mais que fazer! a culpa é toda vossa, são vocês os culpados por fazerem com que o gajo escreva, mimam-no, elogiam-lhe a escrita, enaltecem-lhe o ego e depois é isto, põem-se a ler estas palavras casuais como se algo importante se tratasse. seja como for, o autor, esse gajo, pediu-me para lhes agradecer o incentivo e a partilha. até já.

ghost in grayscale

16.7.06

cry vs weep

father, why are all the children weeping?
they are merely crying son
o, are they merely crying, father?
yes, true weeping is yet to come
nick cave
the weeping song

14.7.06

peça de pedaço de vida

que encontros do acaso são estes
que no acaso me dão encontros destes
e sem que o queira nem o peça
me largam no meio de uma peça
escrita pela mão de um qualquer ente
que tanto pode ser deus como gente

que peça é esta a que é escrita
onde cada personagem é real
e em cada página descrita
não se consegue ver o mal

digam-me quem escreveu o argumento
de uma peça assim
e não me façam perder nem um momento
a pensar que tem um fim

digam-me quem compôs esta música
que faz correr a água
e põe os pássaros a cantar,
que faz o vento soprar
sem sons de dor ou mágoa

digam-me quem desenhou este cenário
onde as nuvens são transparentes,
o sol nunca se põe
e a lua nunca se cansa.

12.7.06

atrevo-me e partilho as primeiras palavras seriamente escritas (aqui vai um segredo - até agora - muito bem guardado):

antes de começar, tenho que marcar o branco imaculado com a oficialização de um momento que há muito era esperado, chamo-lhe, liricamente, um novo fruto na árvore da vida, enfim... um momento em que formalmente passo a partilhar a sombra da árvore com as palavras (e o que mais cá vier) nos filhos da sua morte prematura, os papeis.

ofício.

noite de terça-feira, no quarto de casa, à luz de duas velas porque candeeiros não há e a do tecto é demais, além disso há os mosquitos que de boa vontade se sentiriam convidados a partilhar do meu sangue. sentado na cama, com uma mesa que é a coxa e outra perna que se estica.

vejo na pintura da janela uma lua, ao fundo, montada numa antena que, por sua vez, se encavalita na chaminé sem cavalgar, é linda e está cheia.

é o dia catorze de agosto de dois mil e como é óbvio – doutra maneira não teria coragem para esta burocratização dos sentimentos – estive cacilhando, lá nos tanques, com os velhos amigos novos, com o maior, o T.

voltei ao ninho, liguei-me aos tindersticks e comecei a gastar tinta muito sem pensar, paro às vezes, segundos (que hão-de ser horas), porque me faltam centenas de páginas de um dicionário, mas é um desafio estimulante a mãe ser uma língua tão vasta... gostava de escrever um quarto de um romance...

reparo que a lua mudou de sítio, só pode ter sido isso! antenas e chaminés não têm vida.

as velas vão-se acabando esculpindo-se na suave lâmina da fina e aveludada brisa que invade o escritó rio.

“whiskey & water” penetra-me e obriga-me a mexer a mão com que fumo, dançando ao som dos violinos que se esganiçam... dança-me agora a mão da caneta ao som da bateria...

a minha mãe, “joão manuel!” – a telenovela acabou, tempo de antena para o ciclo belga na dois ou, se não valer a pena, os ficheiros secretos na quatro, logo se vê. aaaahh o ócio...

vale da sancha
14.08.2000

11.7.06

azul

azul-turquesa
laranja mecânica
azul à defesa
laranja ao ataque
azul na mesa
rosa na rua
azul é presa
da pêra nua
azul é beleza
nos olhos da lua
azul é tristeza
sozinho na rua
azul é estranheza
na cor que é tua
azul é incerteza
na laranja que amua
azul na marquesa
azul na firmeza
azul é clareza!

10.7.06

língua inglesa

gosto da língua inglesa desde que a conheço. este gosto sempre me facilitou a vida aqui e ali mas já gostava dela antes de descobrir isso. sempre gostei da ideia de termos toda a gente do planeta a ser capaz de conversar com toda a gente. todos sabermos inglês é um atalho. é o inglês e não outra língua qualquer por causa do império de nível planetário de há três séculos atrás, é verdade… felizmente a língua é fácil, tão fácil que nem sequer é comparável (ao nível da fonética, da morfologia, da sintaxe ou da ortografia) à complexidade da língua portuguesa (por exemplo).

sea-shell on a suitable sunday's sand

7.7.06

a escrita descrita

quem aqui escreve gosta de ouvir música enquanto divaga no papel virtual do computador. imaginem-no de auscultadores nas orelhas (parece um dj) e óculos na cara (só para não esforçar demasiado os olhos). a música que ouve nestes momentos nunca é “fechada”, de ritmos repetitivos ou melodias cansativas. é sempre qualquer coisa arejada e que o transporta longe sem o levar a lado algum. está sempre meio de lado na secretária de maneira a assentar o braço do rato desde o cotovelo. as pernas estão quase sempre cruzadas. se não vai copiar qualquer rascunho que tenha escrito num caderno, raramente sabe exactamente o que vai escrever, só sabe como começar, a partir daí as frases vão-se sucedendo como os elos de uma corrente que vai puxando na sua direcção. gosta de fumar “cigarros pensativos”, relê sempre o último parágrafo e às vezes muda qualquer coisa aqui e ali. outras vezes, faz pausas de 1, 2 ou 3 minutos para ouvir a música sem pensar na escrita, enrolar um cigarro, ou simplesmente olhar o elo que se segue para saber exactamente onde e como o segurar para continuar a puxar a corrente. durante estas pausas, assenta muitas vezes o outro cotovelo (o esquerdo) no braço da cadeira enquanto que pousa o queixo na mão do seu próprio braço. de quando em quando, põe-se a olhar fixamente - e por baixo das sobrancelhas - uma frase que não lhe agrada escrita daquela maneira ou uma palavra que não encaixa como quer, quando assim é, acaba sempre por mudar qualquer coisa. tem notoriamente uma preocupação mínima com a estética da escrita e a fluidez narrativa. procura (quase) sempre ser claro e só se põe a inventar quando se sente impelido a fazê-lo. não dá uma atenção por aí além demorada ao que escreveu e às vezes acaba um post assim, repentinamente. às vezes isso nem se percebe, outras vezes sim.

4.7.06

??? em 5 min.

vai uma ressaca?
um cérebro cheio de vazio?
não?
e um corpo dormente e cambaleante?
também não?
preferes um desperto mas deambulante?
que tal?
não te fará mal…
e se tiver uma boca pedante?
chateia-te?
uma flamejante?
incendeia-te?
tens a certeza?
olha que te queimas…