29.3.06

poesia para quebrar a monotonia

"O que há em mim é sobretudo cansaço -
não disto nem daquilo,
nem sequer de tudo ou de nada:
cansaço assim mesmo, ele mesmo,
cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
as paixões violentas por coisa nenhuma,
os amores intensos por o suposto em alguém,
essas coisas todas -
essas e o que falta nelas eternamente - :
tudo isso faz um cansaço,
este cansaço,
cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
há sem dúvida, quem deseje o impossível,
há sem dúvida quem não queira nada -
três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
porque eu amo infinitamente o finito,
porque eu desejo impossivelmente o possível,
porque eu quero tudo, ou um pouco mais se puder ser,
ou até se não puder ser...

E o resultado?
para eles a vida vivida ou sonhada
para eles o sonho sonhado ou vivido,
para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
para mim só um grande, um profundo,
e, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
um supremíssimo cansaço,
cansaço..."


Álvaro de Campos

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