31.3.06
uma espécie de esquerda
29.3.06
poesia para quebrar a monotonia
"O que há em mim é sobretudo cansaço -
não disto nem daquilo,
nem sequer de tudo ou de nada:
cansaço assim mesmo, ele mesmo,
cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
as paixões violentas por coisa nenhuma,
os amores intensos por o suposto em alguém,
essas coisas todas -
essas e o que falta nelas eternamente - :
tudo isso faz um cansaço,
este cansaço,
cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
há sem dúvida, quem deseje o impossível,
há sem dúvida quem não queira nada -
três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
porque eu amo infinitamente o finito,
porque eu desejo impossivelmente o possível,
porque eu quero tudo, ou um pouco mais se puder ser,
ou até se não puder ser...
E o resultado?
para eles a vida vivida ou sonhada
para eles o sonho sonhado ou vivido,
para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
para mim só um grande, um profundo,
e, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
um supremíssimo cansaço,
cansaço..."
no alentejo o céu é maior
in vino veritas
às duas ou três da manhã num sítio mais ou menos público, aparecem-nos sempre um ou dois anormais que (por estarem bêbedos) extravasam o que de mais complexado têm em si p´ra cima de nós. pensamos: "este (ou esta) merdas tinha agora que vir com esta conversa"... às 4 ou 5 da tarde ninguém diria, mas agora é demais, não tenho paciência e a única vontade é a de ser - no mínimo - desagradável. finjo que não entendo, que entendo aquilo como uma piada, que tenho qualquer coisa urgente que me pede a atenção, que estou só de passagem, sei, lá, finjo e vou-me embora.