30.12.11

exercício auto intitulado auto qualquer coisa

Senta-te numa cadeira confortável, pode ser um sofá mas senta-te confortavelmente. Cruza as pernas. Escolhe a música que queres ouvir e põe-na em modo de repetição. Acende um cigarro. Se não fumares, não comeces e senta-te na mesma. Estás só e já desligaste o telefone e a televisão. Tens a certeza que vais estar só durante a próxima meia hora. És só tu e a tua ideia de ti. 

Agora pensa, põe essa razão a trabalhar e pensa sobre ti. Pensa no que de bom fizeste hoje, ontem e a vida inteira. Vais precisar de mais meia hora – pelo menos. Deixa-te sentir bem com o que fizeste de bem, permite-te apreciar a nobreza do que já fizeste de bom, lembra-te disso e não te esqueças de pautar a tua moral por aí. 

Agora passa à frente e lembra-te no que de mau fizeste hoje, ontem e a vida inteira. Não te desculpes com o contexto, a situação ou qualquer outra variável, lembra-te que foste tu que o fizeste. Não sejas cobarde nem comodista, não enterres a cabeça na areia, deixa-te estar aí nessa cadeira, confortavelmente, ninguém morreu, continua a conversar contigo, sinceramente, és só tu contigo. 

Não, não te levantes e encara a merda que fizeste, olha-a nos olhos e diz-lhe que foste tu, que já não és tu e que vais tentar – pelo menos tentar – não voltar a ser assim, a fazer merda daquela. Tens coragem? 

Caga na merda da ideia que o outro tem de ti, se fores tu, em paz com a ideia que tens de ti, não tens com que te preocupar. Avança, cresce, desenvolve-te, evolui, tens o resto da vida.

Não alimentes uma gruta dentro de ti, não apagues qualquer espécie de luz de ti, não te escondas e não fujas de ti. Senta-te e pensa em ti, contigo. Pensa na tua vida. Nunca te esqueças de usar da sinceridade na conversa com a ideia que tens de ti. Nobili eris si honestus et iustus fueris primeiro contigo. Agora vai, levanta-te e vai-te sentar a pensar em ti. Com honestidade.

16.11.11

blue shadow


blue shadow - nostalgia 77

7.11.11

when love is strange...


... and great!

(music: when love is strange, nostalgia 77)

27.10.11

tpc #1



Ser aluno é fazer perguntas
perguntar o absurdo e o impossível
e perguntá-lo cem vezes sem se cansar
ser aluno é brincar e depois decorar
é calcular e depois sonhar acordado

ser aluno é tocar e respirar conhecimento
julgar e escolher com que sentimento
chorar tristezas ou gritar alegrias
e entender a frequência dos dias

ser aluno é falar antes de pensar
e aprender a pensar antes de o fazer

ser aluno é decifrar um mundo
em que o sol é um conjunto de números
e a água uma corrente de letras

ser aluno é ser diferente e reconhecer a igualdade
é ser dependente na busca pela  liberdade

ser aluno é aprender com os outros
a contar consigo para mudar o mundo

(Aspetos e atividades do ser aluno no jardim de infância e no 1º ciclo)

10.10.11

nostalgia 77 - cherry


música cherry de nostalgia 77
fotografias tiradas do lugar do passageiro pela mara
condução e montagem do joão

29.9.11

boleia

guiava por uma daquelas estradas que passam mesmo pelo meio das pequenas aldeias quando, já nas últimas casas, aparece um velhote de bengala branca e óculos garrafais a esticar a mão na direcção do carro. parei e perguntei se estava tudo bem, não ouvi a resposta  - diga? a palavra boleia apareceu no meio da resposta repetida e entendi. bora! digo enquanto inclino a cabeça para o lado direito e aproveito para passar a mala do pc para o banco de trás. “muito obrigado, é uma esmola que dá a um pobre… sabe, eu nunca gostei muito de pedir boleia às pessoas, de as chatear…  mas já me vão faltando as pernas”. tinha que ir aos correios, onde o deixei. tinha nascido em 1913.

26.8.11

domestication

precisava de um vídeo para esta música... fui ao baú e tirei de lá umas fotos. música: realization; artist: maker; album: maker vs now-again

16.8.11

moby - after

há músicas que entram à primeira. há até as que têm um vídeo que lhes fica à altura. é o caso desta.

22.7.11

teste,diálogo,teste


- então? o que é que achaste?
- estou confuso…
- como assim?
- não consigo estar seguro de nenhuma conclusão que possa tirar dele, não sei sequer se consigo concluir seja o que for.
- repara que ao dares-me essa resposta, estás a concluir que se trata de uma pessoa difícil de se entender. conhecendo-te como te conheço, eu próprio tiro três conclusões: ele teve essa preocupação, saiu-se bem e tu, que reparaste nisso, vais redobrar a tua atenção na próxima reunião.
- temos então quatro conclusões, mas tu tens mais, partilha.
- o olhar semicerrado que se foca no teu olhar quando quer sublinhar as palavras que te diz, diz-te que  é alguém que faz questão de deixar claras algumas das coisas que diz. enquanto falava, olhava para mim e, ocasionalmente, terminava algumas das frases a olhar para ti. ficas a saber com isto que, apesar de saber que oficialmente sou eu a decidir, sabe que a tua opinião, na dúvida, pode ser fundamental.
- :) mais!
- não perde tempo, não o usa a decorar aspectos que gravitam ao redor daquilo que considera a questão nuclear, repara que em nenhum momento a nossa conversa se desviou do assunto que o levou a procurar-nos.
- é verdade.
- também não perde tempo com aparências, veste roupa simples, sóbria,
- aquilo a que poderíamos chamar de regular.
- exactamente. mais: a barba feita hoje e os sapatos impecavelmente cuidados dizem-te que ele sabe que as primeiras impressões não têm segundas oportunidades; sabe que somos competentes no que fazemos mas não sabe se pode confiar totalmente em nós; é metódico, deixou-nos com um vasto conjunto de questões - que sabe de cor - e que eu te vi a anotar freneticamente em três páginas do teu pequeno bloco.
- é muito raro encontrarmos clientes tão exigentes.
- desafiantes meu caro, desafiantes.
- mais coisas que tenhas percebido dele.
- ah! vou-te contando pelo caminho, anda, agora temos que lhe descobrir o número de contribuinte.

30.6.11

ah! e tal...

o dia acordou luminoso,
o céu estendeu o azul
e o sol aqueceu o resto.

aparentemente,
tudo isto é normal
de tão habitual,
usual,
banal,
e trivial.

e afinal
nem tudo isto é triste
nem tudo isto é fado
e tal…
porque afinal,
e insistentemente,
a bem ou a mal
tudo isto é portugal
e tal…

22.6.11

sem título nº x

o calor aquece-me as solas dos pés enquanto a luz me cava as rugas dos olhos
os pés, uso-os para caminhar
os olhos, para verem o caminho
entre uma coisa e outra, vai um corpo com alma

9.6.11

20.5.11

a minha maior fraqueza sou eu. a minha maior força também.

16.5.11

8.5.11

breve história de portugal e portugueses... em inglês


"uma das maiores campanhas de solidariedade em portugal aconteceu em 1940. reuniram-se toneladas de roupas e cereais para ajudar outro povo pobre e periférico... a finlândia." parece que foi porque salazar tentava agradar a hitler de quem a finlândia era um país aliado...

mais correcções: http://mrsteed2.blogspot.com/2011/05/as-estorias-que-andamos-tentar-impigir.html

1.5.11


Maria João Pires toca Beethoven
Piano Sonata No.13 

27.4.11

a voz

Sete da manhã e o despertador toca. Repete o toque três vezes até ele se levantar. Cumpre todos os rituais matinais desde o duche até à entrada ao serviço. Quando se cruza com o primeiro colega na porta do prédio, a resposta ao bom dia do outro não lhe sai. Repete todos os movimentos – desta vez mais devagar – mas só ouve os bons dias dentro da sua cabeça, som, nem vê-lo. O colega, que estranha a situação, apressa o passo a achar que este está afónico e este, que sabe que não está, para e tenta pronunciar algumas palavras que não ouve. Surdo não está porque ouviu os bons dias do colega. Dirigiu-se à pressa para a casa de banho, pousou a pasta no chão, abriu a torneira de um dos lavatórios, encheu a boca de água, gorgolejou, engoliu, cuspiu e nada. Levou as mãos à garganta, apertou e massajou mas como não entende muito de anatomia, desistiu de encontrar as cordas vocais. Debruçou-se sobre o lavatório, apoiou as mãos de lado, encostou a cara ao espelho e tentou espreitar para dentro da garganta: tudo aparentemente normal. Fechou a boca e ficou a olhar-se nos olhos enquanto a sua cabeça pronunciava um chorrilho de palavrões entremeados por uma data de interrogações. Tenta ser prático e lembrar-se da última vez que falou, foi ontem à noite, vamos já para casa foram as últimas palavras que se ouviu pronunciar. Musa, a cadela a quem as dirigiu não o pode ajudar muito. A última pessoa que o ouviu, e o ouviu de viva voz a dizer até amanhã, foi uma colega ontem às cinco e meia naquele mesmo edifício. De facto, dá-se conta que quem mais lhe vai sentir a falta da voz é Musa, a fiel cadela, companheira desde há cinco anos para cá. E ele, é provavelmente na relação com Musa que mais vai sentir a falta da voz. Foram cinco anos de treino e aprendizagens por água abaixo, dificilmente agora ela lhe entenderá as ordens ou os diferentes estados de espírito revelados nas ténues variações do tom de voz. Pensa que qualquer coisa parecida com um deus o deve ter castigado roubando-lhe a voz, porque as palavras de ocasião pronunciadas em contexto de trabalho por um tradutor introvertido, solitário e sociável apenas online, são palavras pouco mais do que desnecessárias à vida de qualquer ser humano. Enquanto chega a esta conclusão, vê a sua imagem no espelho acenar-lhe um silencioso adeus, a voltar-lhe as costas e a desaparecer pela porta espelhada da casa de banho.   

6.4.11

Café O Tal

Café O tal, quatro e tal da tarde. Chuva na rua, muita, desde as dez da manhã. Entra uma jovem apressada, fugida da chuva e a sacudir o guarda-chuva do lado de fora da porta. Está com alguma dificuldade em segurar a porta e interrompe – já sem paciência – as frenéticas sacudidelas para entrar de vez no café. É bonita, é e sabe-o. Tem vinte, vinte e poucos e está habituada a ser contemplada à distância. Na primeira mesa do café está um grupo de três rapazes a apreciar a cena. Acordados há pouco, ressacados de certeza, estão a beber coca-colas, sumois e afins. As tostas-mistas já as malharam, fizeram um cagaçal de todo o tamanho com os guardanapos que, entre eles e os pratos, ocupam dois terços da mesa. Não evitam os sorrisos patéticos e as cotoveladas cobardes enquanto se babam a olhar para a jovem atrapalhada. Na mesa ao lado dos rapazes, um casal de meia idade, ele lê a bola e ela a caras. Há mais de meia hora que não se falam nem se olham. No canto oposto do café, outro casal, este mais velho, muito mais velho, já na idade de quem vive a vida a contemplar cada minuto e cada gota d’água que cai, como se cada dia vivido fosse uma dádiva só apreciada na sua plenitude por aqueles que, como eles, chegam aos oitenta lúcidos, juntos e cúmplices.

O narrador participante é finalmente atendido. Pede uma sandes mista e um galão. É só? Pergunta o empregado. É, responde o narrador. Mas que mania esta dos empregados - melhor, dos técnicos de atendimento ao público - acharem que os clientes sofrem de amnésia e se esquecem sempre de pedir qualquer coisa da qual só se lembram depois da preciosa ajuda revelada com o famoso é só?!

De regresso ao cenário do café, desta feita para registar a barulhenta entrada em cena de um grupo de executivos estrangeiros. É Berlusconi e a sua comitiva que depois de quase arrobarem a porta e atropelarem as mesas por onde passam, se dirigem ao balcão a perguntar por um tal de Khadafi. Parece que tinham combinado ali às quatro mas o outro está ainda mais atrasado.

3.3.11

>Pause<
(crise)

4.2.11

coisas

go wash the tortoise and take the little horse out of the rain!

tradução:

vai dar banho ao cágado e tira o cavalinho da chuva!