30.11.07

greve? - nah, não tenho esse privilégio...

Entrei na bomba de gasolina para demorar o tempo suficiente mas acabei por ficar mais um bocadinho. Logo à entrada, apareceu-me uma senhora com um ar "executivo" a pedir-me para a ouvir durante um minuto. Durante este tempo, despejou – a cem à hora – uma carrada de informação que sabia já de cor. Ficou-me na cabeça o leitor de mp3 gratuito, só precisava de responder a três perguntas. Perguntei qual era a memória do mp3 (1gb) e disse-lhe que já tinha um exactamente com esse espaço de armazenamento. “Mas podia pelo menos responder às três perguntas só para colaborar comigo!" (disse quase em desespero). “Venho já, deixe-me só ir pagar a gasolina e beber um café”.
Quando regressei respondi às perguntas. Uma delas era a profissão: professor – “Ah, então está a falar com uma colega sua! Estou aqui a tentar impingir cartões de crédito às pessoas porque pronto… tenho contas para pagar…”. Acabei por não contribuir para a causa porque no fim tinha que lá deixar (no pequeno balcão montado à entrada da bomba de gasolina), uma fotocópia do b.i. e outra do contribuinte… não me agradou a ideia…

Imagino que esta colega não seja sindicalizada porque a quota do sindicato é mais uma conta a pagar… imagino que a fenprof, o sindicato de quem ensina, não tenha a visão estratégica necessária para lutar pelo encerramento de alguns cursos superiores, a fim de evitar situações destas para os futuros colegas (ou será que não o faz porque isso significaria menos gente a juntar-se à causa e à quota?).

Como eu, há mais um milhão de trabalhadores liberais (olha o luxo, li-be-rais!) a passar recibos pelo salário. Faço parte desta nova geração (do recibo) verde. Eu e este milhão significamos um quinto da força produtiva deste país. Eu e este milhão, por cada recibo que passamos, acabamos por ficar sem cerca de 32% daquilo que recebemos (um terço daquilo que ganhámos com o nosso trabalho). Eu e este milhão não temos subsídios de férias ou natal, não temos direito ao subsídio de desemprego mesmo que tenhamos andado a recibos durante anos e no próximo mês fiquemos sem emprego… nunca ouvi nenhum sindicalista dizer que vale a pena lutar por este quinto da massa trabalhadora cá do burgo, nunca!

Tenho colegas (a trabalhar nas salas de aulas) que se dão ao luxo de me dizerem que não querem saber do computador porque já ensinam há mais de vinte anos e não é agora que alguém as vai obrigar a aprender seja o que for (imagino a vontade que a outra colega da bomba de gasolina não teria de ser obrigada trabalhar com um computador na sala de aula). Nem sequer vou falar dos professores que têm um contrato vitalício com o estado e estão nas salas de aulas a fazer mais para que os putos deixem de gostar de ir à escola do que propriamente a ensinar, não, não vou falar destes porque não quero fazer (mais) juízos de valor…

Gostava que os sindicatos deixassem as esferas partidárias e que se tornassem numa força de luta realmente independente e actualizada. Gostava que largassem a merda da cassete demagógica e passassem a usar um discurso realista, um discurso actualizado (com cd, dvd, lcd ou outra coisa qualquer) típico do séc. XXI.

Não, não faço greve, isso é um luxo só ao alcance de alguns…

29.11.07

não será o país das maravilhas
nem tu te chamas alice
mas d'uma coisa tem a certeza:
não estou lá porque sim,
estou lá porque quero!

estou cá porque estou
e cá quero continuar.

porque te quero!

jumping someone else's train

don't say what you mean
you might spoil your face
if you walk in the crowd
you won't leave any trace
it's always the same
you're jumping someone else's train
it won't take you long
to learn the new smile
you'll have to adapt
or you'll be out of style
it's always the same
you're jumping someone else's train
if you pick up on it quick
you can say you were there
again and again and again
you're jumping someone else's train
it's the latest wave
that you've been craving for
the old ideal
was getting such a bore
now you're back in line
going not quite quite as far
but in half the time
everyone's happy
they're finally all the same
'cause everyone's jumping
everyone else's train

21.11.07

poesia que é quase um poema que quase rima e que se podia chamar "o sorriso quase a rimar"

um sorriso é como um rebuçado
como uma cereja mergulhada em mel
um fino fio de seda pendurado ao vento
algodão doce mergulhado em groselha

um sorriso é maior do que os braços abertos,
os braços abertos de um gigante que nos sorri

um sorriso é até maior do que a magia do mago
e mais intenso do que o toque da fada na face da alma

um sorriso
é mais quente do que a maior fogueira alguma vez feita!

16.11.07

é um café e uma revolução sff

... por milhares de causas sempre renovadas, pela aquisição de uma multidão de conhecimentos e de erros, pelas mudanças que se dão na constituição dos corpos e pelo choque contínuo das paixões, por assim dizer mudou de aparência a ponto de tornar-se quase irreconhecível e, em lugar de um ser agindo sempre por princípios certos e invariáveis, em lugar dessa simplicidade celeste e majestosa com a qual seu autor a tinha marcado, não se encontra senão o contraste disforme entre a paixão que crê raciocinar e o entendimento delirante. [Rousseau. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, p. 227] (daqui)

rousseau defendia o choque e a revolução como impulsionadores de mudança social. sem querer aprofundar muito a teoria (até porque os anos passados sobre as riquíssimas aulas de filosofia já desgastaram o que na altura estava bem presente), gostava de dizer que se exige uma revolução neste belo país, exige-se uma revolução neste país melancolicamente espraiado no atlântico.
numa altura em que alguns iluminados, viciados em números e estatísticas, defendem que a filosofia deve sair dos programas do ensino complementar, eu, humildemente, defendo que a filosofia deve ser disciplina obrigatória em todos os cursos superiores. porque somos o que as coisas do pensamento fazem de nós, porque evoluímos pensando e pensamos evoluindo, porque ainda se faz muito sem se pensar, ou, caso se pense, se faz egocentricamente, porque somos Humanos que buscam a perfeição (quer queiramos, quer não), urge saber pensar, pensar sobre o que somos, pensar sobre o que queremos e para onde queremos ir. porque crescemos a pensar e porque não somos todos eremitas, temos que habituar-nos a pensar e a fazê-lo em conjunto, conversando, discutindo, debatendo, “guerreando” se tiver que ser… mas pensar! está instalada uma crise de valores na nossa sociedade? não sei… mas se está, é porque algures no tempo deixámos de pensar nas coisas que são realmente importantes.

aproveitando esta embalagem revolucionária (que agora me começa a soar a mais um daqueles devaneios que servem para pouco mais do que entreter), aproveitando esta embalagem, defendo também o ensino da língua portuguesa em todos os cursos superiores! tenho a sensação que nem sequer vale a pena explicar porque defendo isto… basta lembrarmo-nos de um ou outro doutor/engenheiro e de meia dúzia de palavras escritas (ou ditas)… enfim…

o problema deste pequeno país, deste país pequeno, o problema não é o défice, o argumento de quarenta anos de ditadura também já não chega para explicar o “atraso”, já não faz sentido dizermos que estarmos quase isolados na extremidade deste velho continente, na cauda da europa também geograficamente. já não faz sentido arranjarmos desculpas para este “atraso”, não nesta aldeia global. o problema? o problema é que não sabemos (como) pensar e mal sabemos ler ou escrever… fica então a fórmula: Filosofia + Português = Riqueza

animation vs animator



(scuza, obrigado por me teres enviado isto:)

15.11.07

coitadinhos dos médicos...

os nossos médicos vão fazer greve no dia 30 (curiosamente, coincide com uma greve geral da função pública)... "Entre as reinvindicações dos médicos encontram-se: aumentos salariais "dignos, justos e reais", direito à contratação colectiva, direito à remuneração efectiva de subsídio de risco e pelo pagamento de horas extraordinárias."
parece que quem convoca a greve é o sindicato independente dos médicos, mas até podia ser convocada pela própria ordem dos médicos ou pela associação nacional de farmácias...
haja saúde! (e sindicalismo!)
p.II
a ordem dos médicos recusa-se a mudar o artigo do código deontológico que condena os médicos que fazem abortos. a lei mudou, o código deontológico não muda e os médicos, esses, se lhes apetecer, podem optar por não fazer abortos.
as leis são só para alguns ou o corporativismo (mais uma vez) fala mais alto?

14.11.07

O OvO

curta de josé miguel ribeiro

11.11.07

giraldo




















mais destas aqui

10.11.07

citação

“mais vale agir na predisposição de nos arrependermos, do que arrependermo-nos de nada termos feito.”
giovani boccaccio

9.11.07

história da mulher que punha perfume para ir despejar o lixo e do homem que nem after-shave usava

Ela só saía de casa para ir às compras e despejar o lixo.
Ele só saía para trabalhar.
Ela não precisava de o fazer, a herança excedia em muito tudo o que poderia gastar nesta vida.
Ele tinha que trabalhar para comer.
Ela punha perfume sempre que saía de casa. Ele nem after-shave usava.
Ela vivia sozinha. Ele também.
Ela mudou-se para a cidade e passou a ficar horas à janela.
Ele continuava a apanhar o lixo.
Ela nunca o via porque a essa hora jantava sempre enquanto via as notícias, ocasionalmente, chegava à conclusão que tanto barulho lá fora, só podia ser causado pelo camião do lixo.
Numa dessas noites, ao jantar e ao ouvir o camião, decidiu mudar a rotina e despejar o lixo mais tarde, antes do jantar (quando não vivia na cidade, fazia-lo à tarde, mas na cidade, à tarde, há muita gente na rua).
Na noite seguinte, ele, pela primeira vez na vida, sentiu um cheiro agradável enquanto saltava do camião para conduzir o caixote até ao guindaste e este até ao camião.
Nessa noite, o guindaste parou enquanto o caixote ficou a abanar e os automobilistas (à espera que o trabalho acabasse e o camião desimpedisse a rua) a apitar.
Ele estava imóvel, de olhos fechados e sorriso ténue.
Acordou quando o próprio motorista do camião começou a apitar…
A partir dessa noite, nunca mais ele cheirou o mal.
A partir dessa noite, ela só se sentiu sozinha aos domingos (que não havia recolha de lixo) ou quando os serviços municipais de higiene e limpeza faziam greve.
Foi assim sempre, até que se encontraram no mesmo dia à mesma hora, no cemitério da cidade, antes de serem fechados com terra, um ao lado do outro.

3.11.07

senso comum

ideias e ideais que não observam atentamente os contextos aos quais se devem aplicar, correm o risco de cair no vazio, de serem mal interpretados, ou até, de produzirem o efeito contrário ao desejado.