Entrei na bomba de gasolina para demorar o tempo suficiente mas acabei por ficar mais um bocadinho. Logo à entrada, apareceu-me uma senhora com um ar "executivo" a pedir-me para a ouvir durante um minuto. Durante este tempo, despejou – a cem à hora – uma carrada de informação que sabia já de cor. Ficou-me na cabeça o leitor de mp3 gratuito, só precisava de responder a três perguntas. Perguntei qual era a memória do mp3 (1gb) e disse-lhe que já tinha um exactamente com esse espaço de armazenamento. “Mas podia pelo menos responder às três perguntas só para colaborar comigo!" (disse quase em desespero). “Venho já, deixe-me só ir pagar a gasolina e beber um café”.
Quando regressei respondi às perguntas. Uma delas era a profissão: professor – “Ah, então está a falar com uma colega sua! Estou aqui a tentar impingir cartões de crédito às pessoas porque pronto… tenho contas para pagar…”. Acabei por não contribuir para a causa porque no fim tinha que lá deixar (no pequeno balcão montado à entrada da bomba de gasolina), uma fotocópia do b.i. e outra do contribuinte… não me agradou a ideia…
Imagino que esta colega não seja sindicalizada porque a quota do sindicato é mais uma conta a pagar… imagino que a fenprof, o sindicato de quem ensina, não tenha a visão estratégica necessária para lutar pelo encerramento de alguns cursos superiores, a fim de evitar situações destas para os futuros colegas (ou será que não o faz porque isso significaria menos gente a juntar-se à causa e à quota?).
Como eu, há mais um milhão de trabalhadores liberais (olha o luxo, li-be-rais!) a passar recibos pelo salário. Faço parte desta nova geração (do recibo) verde. Eu e este milhão significamos um quinto da força produtiva deste país. Eu e este milhão, por cada recibo que passamos, acabamos por ficar sem cerca de 32% daquilo que recebemos (um terço daquilo que ganhámos com o nosso trabalho). Eu e este milhão não temos subsídios de férias ou natal, não temos direito ao subsídio de desemprego mesmo que tenhamos andado a recibos durante anos e no próximo mês fiquemos sem emprego… nunca ouvi nenhum sindicalista dizer que vale a pena lutar por este quinto da massa trabalhadora cá do burgo, nunca!
Tenho colegas (a trabalhar nas salas de aulas) que se dão ao luxo de me dizerem que não querem saber do computador porque já ensinam há mais de vinte anos e não é agora que alguém as vai obrigar a aprender seja o que for (imagino a vontade que a outra colega da bomba de gasolina não teria de ser obrigada trabalhar com um computador na sala de aula). Nem sequer vou falar dos professores que têm um contrato vitalício com o estado e estão nas salas de aulas a fazer mais para que os putos deixem de gostar de ir à escola do que propriamente a ensinar, não, não vou falar destes porque não quero fazer (mais) juízos de valor…
Gostava que os sindicatos deixassem as esferas partidárias e que se tornassem numa força de luta realmente independente e actualizada. Gostava que largassem a merda da cassete demagógica e passassem a usar um discurso realista, um discurso actualizado (com cd, dvd, lcd ou outra coisa qualquer) típico do séc. XXI.
Não, não faço greve, isso é um luxo só ao alcance de alguns…
Quando regressei respondi às perguntas. Uma delas era a profissão: professor – “Ah, então está a falar com uma colega sua! Estou aqui a tentar impingir cartões de crédito às pessoas porque pronto… tenho contas para pagar…”. Acabei por não contribuir para a causa porque no fim tinha que lá deixar (no pequeno balcão montado à entrada da bomba de gasolina), uma fotocópia do b.i. e outra do contribuinte… não me agradou a ideia…
Imagino que esta colega não seja sindicalizada porque a quota do sindicato é mais uma conta a pagar… imagino que a fenprof, o sindicato de quem ensina, não tenha a visão estratégica necessária para lutar pelo encerramento de alguns cursos superiores, a fim de evitar situações destas para os futuros colegas (ou será que não o faz porque isso significaria menos gente a juntar-se à causa e à quota?).
Como eu, há mais um milhão de trabalhadores liberais (olha o luxo, li-be-rais!) a passar recibos pelo salário. Faço parte desta nova geração (do recibo) verde. Eu e este milhão significamos um quinto da força produtiva deste país. Eu e este milhão, por cada recibo que passamos, acabamos por ficar sem cerca de 32% daquilo que recebemos (um terço daquilo que ganhámos com o nosso trabalho). Eu e este milhão não temos subsídios de férias ou natal, não temos direito ao subsídio de desemprego mesmo que tenhamos andado a recibos durante anos e no próximo mês fiquemos sem emprego… nunca ouvi nenhum sindicalista dizer que vale a pena lutar por este quinto da massa trabalhadora cá do burgo, nunca!
Tenho colegas (a trabalhar nas salas de aulas) que se dão ao luxo de me dizerem que não querem saber do computador porque já ensinam há mais de vinte anos e não é agora que alguém as vai obrigar a aprender seja o que for (imagino a vontade que a outra colega da bomba de gasolina não teria de ser obrigada trabalhar com um computador na sala de aula). Nem sequer vou falar dos professores que têm um contrato vitalício com o estado e estão nas salas de aulas a fazer mais para que os putos deixem de gostar de ir à escola do que propriamente a ensinar, não, não vou falar destes porque não quero fazer (mais) juízos de valor…
Gostava que os sindicatos deixassem as esferas partidárias e que se tornassem numa força de luta realmente independente e actualizada. Gostava que largassem a merda da cassete demagógica e passassem a usar um discurso realista, um discurso actualizado (com cd, dvd, lcd ou outra coisa qualquer) típico do séc. XXI.
Não, não faço greve, isso é um luxo só ao alcance de alguns…