8.10.07

claridade vs transparência vs (pre) conceitos (ou quase)... não sei bem...

quando olhamos os outros pelos nossos olhos, a claridade com que os vemos a eles e às suas coisas, às de dentro, é uma claridade impregnada de coisas nossas. tenho aprendido a tentar deixar de lado as minhas coisas claras quando olho p’ra dentro de alguém. tenho tentado esquecer os meus (pre) conceitos sobre interiores quando os observo e os tento alcançar. é um exercício laborioso, é… produz resultados? ... não sei bem… continuo a achar que a claridade que pomos em cada um a quem olhamos, acaba por dizer alguma coisa de nós próprios (acabando assim por dar elementos ao outro que nos olha ao mesmo tempo que o observamos). confortável?... talvez… mas pelo menos trata-se sinceramente de nós, trata-se do eu de cada um, assim como ele é, moldado pelas coisas da vida, do mundo e da sociedade.
deixar de lado os (pré) conceitos quando olhamos alguém, significa deixar de lado aquilo que somos (lá no fundo) para olharmos o outro amoralmente, imparcialmente e de uma forma (quase) politicamente correcta.
é claro que não devemos ser (pré) conceituosos, devemos ser correctos, devemos ser (quase) perfeitos no olhar que fazemos sobre o outro, devemos olhá-lo - não com claridade, mas com transparência. é claro que devemos?... não sei bem…
(este post poder-se-ia chamar "um olhar sobre o nosso olhar" e parte do princípio que os preconceitos não são nem eternos nem obrigatoriamente negativos. parte também do princípio que o ser humano se constrói durante toda uma vida. parte ainda do princípio que "olhar o outro" é um passo - inicial - fundamental no processo de socialização e na na construção de uma relação. no fundo, este post é todo ele um (pre) conceituoso)

3 comentários:

Cristina disse...

se me permites, vou divagar nesta temática que tão bem soubeste engendrar:
a alteridade é uma construção nossa, uma representação que elaboramos do outro, no fundo, da realidade e do mundo.
(daí a ideia de "essência" não fazer sentido.)
assim, é com a "claridade" de cada um de nós que iluminamos, para conseguirmos ver e compreender,os outros. somos sempre parciais com o nosso interior, com a nossa experiência incorporada.
os preconceitos andam por aqui, à mistura, fruto da informação que recebemos do exterior, sempre a priori da experiência. só depois do confronto com a realidade empírica é que se transformam em conhecimento, em conceitos úteis ao encontro (fértil) com o outro.
daí que, no meu entender,possam ter um caráter negativo porque são pré o significado, e podem por isso deturpá-lo. O preconceito é quase fruto de um tipo de preguiça social.
a transparência é diferente. Resulta de um envolvimento activo e consciente do sujeito com a realidade onde está inserido,ao nível das relações inter sociais. Aqui,nesta entrega,os preconceitos podem dar origem a conceitos construídos por cada um,desmistificados portanto, ou então apenas ganharem corpo e ficarem públicos, somente, acabando por levar a situações de discriminação social, por exemplo.
será que ser transparente é a expressão frontal dos nossos preconceitos?
acho que às vezes é, ou não.

João disse...

muito bem visto!
gostei especialmente da "preguiça social"...

Cristina disse...

foi um devaneio... social.
:)
bj.