adoramos complicar, dramatizar, enredar, mastigar e engolir o acaso, o azar, a mágoa, a dor e o sofrimento que só existe porque o alimentamos. adoramos duvidar de nós próprios. adoramos a facilidade com que nos colocamos no lugar de elo mais fraco na cadeia de acontecimentos que dita os nossos dias. adoramos a leveza de não ter por responsabilidade mais do que aquilo que a nossa insegurança nos permite. adoramos escondermo-nos por debaixo de camadas superficiais de socialização. adoramos as máscaras que vestimos sempre que acordamos e só largamos depois de adormecermos. adoramos a facilidade com que lidamos com o essencial porque o essencial é mais sonho do que realidade. adoramos viver vidas que não são nossas. adoramos o sofrimento dos outros na medida em que isso nos torna felizes por sermos quem somos e não os que sofrem. adoramos o imediato, adoramos o materialismo, o comodismo e o facilitismo. no fundo, adoramos o vazio, mas eu não.
4 comentários:
infelizmente…
n imaginas de quantas pessoas me lembrei enquanto lia o teu texto.
e sinto uma tristeza profunda, porque eu até tinha falta de ser assim, um bocadinho que fosse. de certeza n levava tantos “entalões” na vida…
e ainda bem k, que tu n és!
*
deixa, antes os entalões do que o vazio, a hipocrisia ou o cinismo.
tenho a sorte de conhecer (bastantes) pessoas diferentes das que descrevo. tu, obviamente, és uma delas.
beijo
eu diria que é mais fácil " cobrir a essência com camadas ilusórias" e assim "sufocar a genuidade que temos cá dentro".
No mundo em que vivemos ser assim como dizes é adaptativo, mas é tb o olhar para o espelho e detestar a imagem que de nós reflecte.
Ainda bem que há um pequeno reduto, cada vez mais pequeno, estou em crer, em que a nossa autenticidade está sempre presente.
No meu mundo tu fazes parte do pequeno reduto onde posso ser "eu própria". Obrigada por isso.
()
(este é o sinal do abraço)
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