está só. à janela. confortavelmente sentado a beber e a fumar às escuras enquanto pensa na vida e é egoísta. olha a parede do edifício em frente e observa o pombo metido na sua vida, também só, a dormir na calha da janela.
é de noite e o mundo social fervilha espalhado por todo o edifício, especialmente no terraço. ouve o burburinho longínquo interrompido aqui e além por uma gargalhada embrulhada numa bebida. vê-se às escuras naquela pequena sala desaparecida do resto do edifício, aquela sala que tão bem lhe conhece o íntimo. vê o lume do cigarro reflectido no vidro da janela aberta enquanto pensa que não lhe fazia mal nenhum ser mais disciplinado com o tabaco.
este pensamento é imediatamente afastado por um impulso que o faz levantar da cadeira e inclinar-se sobre a janela. levanta-se, pousa a mão direita ao lado do whisky e a esquerda perto da água. tem que ter cuidado porque faz isto enquanto fuma e o álcool lhe desfoca os movimentos. inclina-se um pouco e olha a rua de cima. vê uma passada solitária ofuscada por um ligeiro casaco branco e fica a olhar cada passo ausente, de mãos nos bolsos, rua abaixo até desaparecer.
as emoções tomam conta do momento e obrigam-no a lembra-se do mal que podem fazer à vida as emoções que despoticamente anulam qualquer réstia de bom senso que possamos achar ter. fica triste e a pensar no comportamento humano dominado pela emoção enquanto o bom senso fica aprisionado numa qualquer realidade metafísica. tudo o que veio a seguir é demasiado complexo para poder ser posto em palavras tão de repente como esta história foi contada.