- então? o que é que achaste?
- estou confuso…
- como assim?
- não consigo estar seguro de nenhuma conclusão que possa
tirar dele, não sei sequer se consigo concluir seja o que for.
- repara que ao dares-me essa resposta, estás a concluir que
se trata de uma pessoa difícil de se entender. conhecendo-te como te conheço,
eu próprio tiro três conclusões: ele teve essa preocupação, saiu-se bem e tu,
que reparaste nisso, vais redobrar a tua atenção na próxima reunião.
- temos então quatro conclusões, mas tu tens mais, partilha.
- o olhar semicerrado que se foca no teu olhar quando quer
sublinhar as palavras que te diz, diz-te que é alguém que faz questão de deixar claras
algumas das coisas que diz. enquanto falava, olhava para mim e, ocasionalmente,
terminava algumas das frases a olhar para ti. ficas a saber com isto que,
apesar de saber que oficialmente sou eu a decidir, sabe que a tua opinião,
na dúvida, pode ser fundamental.
- :) mais!
- não perde tempo, não o usa a decorar aspectos que gravitam
ao redor daquilo que considera a questão nuclear, repara que em nenhum momento
a nossa conversa se desviou do assunto que o levou a procurar-nos.
- é verdade.
- também não perde tempo com aparências, veste roupa
simples, sóbria,
- aquilo a que poderíamos chamar de regular.
- exactamente. mais: a barba feita hoje e os sapatos impecavelmente
cuidados dizem-te que ele sabe que as primeiras impressões
não têm segundas oportunidades; sabe que somos competentes no que fazemos
mas não sabe se pode confiar totalmente em nós; é metódico, deixou-nos com um vasto
conjunto de questões - que sabe de cor - e que eu te vi a anotar freneticamente em três páginas do
teu pequeno bloco.
- é muito raro encontrarmos clientes tão exigentes.
- desafiantes meu caro, desafiantes.
- mais coisas que tenhas percebido dele.
- ah! vou-te contando pelo caminho, anda, agora temos que lhe
descobrir o número de contribuinte.
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