Amigos
Amigos cento e dez, talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que eu sentia!
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.
Amigos cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu, já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais
Um dia adoeci profundamente.
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.
- Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver…
Que cento e nove impávidos marotos!
Camilo Castelo Branco
(Lisboa, 1825-1890)
não costumo ler o camilo mas encontrei isto ali no meio de outras coisas. fica aqui escrito não porque me reveja nas palavras amargas mas porque me interrogo se, dadas as probabilidades, não me enquadrarei num desses cento e nove. trouxe isto para aqui porque li ontem um relato realmente comovente de um encontro de amigas, algo despertado por um – aparentemente – simples olhar. trouxe isto para aqui porque sou capaz de me lembrar de um ou dois amigos que facilmente me classificariam como impávido maroto, especialmente um. trouxe isto para aqui porque achei que devia trazer.
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